Glaciar em degelo força a deslocação do acampamento-base do Everest
O Nepal prepara-se para deslocar o seu acampamento-base no Monte Everest porque o aquecimento global e a atividade humana estão a torná-lo inseguro. Contamos-lhe aqui um pouco mais sobre o Everest e o que está realmente a acontecer na montanha mais alta do planeta.
O Monte Everest é a montanha de maior altitude da Terra, isto é, tem o pico montanhoso mais elevado do mundo. O seu cume está a cerca de 8850 metros acima do nível do mar e situa-se na subcordilheira Mahalangur Himal da cordilheira dos Himalaias, dentro do setor meridional da Ásia Central, correspondendo à fronteira internacional entre o Nepal (distrito de Solukhumbu) e o Tibete (distrito de Tingri). Alguns dos mais importantes picos do maciço do Everest são: Lhotse (8516 m), Nuptse (7855 m) e Changtse (7580 m).
Em tibetano, o nome do monte Everest é Chomolungma e significa “Deusa-Mãe”. No entanto, o nome pelo que é conhecido atualmente tem origem na homenagem a Sir George Everest, diretor durante 13 anos (1830-1843) da grande medição trigonométrica da Índia realizada pelo Survey of India (organismo central de Cartografia e Topografia da Índia britânica).
Tanto quanto se sabe, o nome em inglês foi atribuído pela Royal Geographical Society sob recomendação de Andrew Waugh – diretor do Survey of India – que, como não conseguiu obter os nomes locais da montanha, batizou-a em homenagem ao seu antecessor – George Everest. Foi durante o mandato de Sir George Everest que, pela primeira vez, a posição e a altitude da montanha foram registadas.
Porque está a ser preparada uma deslocalização do acampamento-base do Everest?
O acampamento-base do Monte Everest, utilizado por um máximo de 1.500 pessoas na época de subida na primavera, localiza-se no glaciar Khumbu - situado entre o Evereste e o Lhotse-Nuptse. O dito glaciar está a derreter a um ritmo veloz e a tornar-se cada vez mais delgado.
Os investigadores dizem que a água derretida desestabiliza o glaciar e os alpinistas afirmam que as crevasses (aberturas naturais glaciais) estão a aparecer cada vez mais vezes no acampamento-base enquanto dormem. "Surpreendentemente vemos fendas a aparecer durante a noite em locais onde dormimos", disse o Coronel Kishor Adhikari.
Estas crevasses costumam surgir quando os glaciares, ao movimentarem-se, se partem, originando-as. São geralmente perpendiculares à direção de avanço. Podem ter até 50 metros de profundidade, nalguns casos até mesmo mais. Taranath Adhikari, diretor-geral do Departamento de Turismo do Nepal disse, em declarações à BBC, que está a ser efetuada, de momento, uma preparação para a deslocalização do acampamento-base e que, dentro de muito pouco tempo, todos os interessados começarão a ser auscultados.
Adhikari diz que o atual acampamento-base está situado a uma altitude de 5.364 metros e que o novo campo estará presente entre 200 a 400 metros mais abaixo, onde não há gelo durante todo o ano. Os planos vão de encontro às recomendações de um comité formado pelo governo do Nepal para facilitar e monitorizar o alpinismo na região do Everest.
Os cientistas consideram que o glaciar Khumbu, tal como muitos outros glaciares dos Himalaias, está a derreter e a tornar-se rapidamente mais delgado, como consequência do aquecimento global. Aliás, um estudo realizado por investigadores da Universidade de Leeds em 2018 revelava na altura que a área próxima ao acampamento-base do Everest estava a tornar-se mais fino a uma taxa de 1 metro por ano.
Enquanto que uma grande parte do glaciar está coberta por detritos rochosos, há também áreas de gelo expostas - penhascos de gelo – que são as responsáveis por tornarem o glaciar instável graças ao degelo. "Quando os penhascos de gelo derretem assim, os detritos de rochas e rochas que estão no topo dos penhascos de gelo movem-se e caem e depois o derretimento também cria corpos de água", disse Scott Watson, um dos investigadores.
Desta forma, não só existe um aumento nas quedas de rochas, como também ocorrem movimentos de água derretida na superfície dos glaciares que podem constituir um enorme perigo. O glaciar está a perder cerca de 9,5 milhões de metros todos os anos.
Aquecimento global na superfície do Khumbu: de riachos a frequentes fendas profundas
A paisagem local está a ficar visivelmente alterada devido ao aquecimento global. Tanto os alpinistas como as autoridades nepalesas afirmam que um riacho, que apareceu mesmo no seio do acampamento-base, tem vindo a expandir-se constantemente.
Como se não bastasse, as crevasses (fendas mais profundas) e as fendas na superfície do glaciar estão a aparecer mais frequentemente do que anteriormente. Além do perigo arrepiante das pessoas poderem, durante a noite cair nas fendas que se formam com cada vez mais frequência, há muito ruído derivado do movimento do gelo ou da queda das rochas.
Segundo um dos principais membros do comité do governo nepalês - Khimlal Gautam - a presença de tantas pessoas no acampamento-base estava a contribuir para o problema. “Por exemplo, descobrimos que as pessoas urinam cerca de 4.000 litros no acampamento-base todos os dias", disse. Para além disso, a enorme quantidade de combustíveis (querosene e gás) queimados para cozinhar e aquecer, têm impacto no gelo do glaciar.
Adrian Ballinger, fundador da empresa de guias de montanha Alpenglow Expeditions, considera que a mudança faz sentido, uma vez que no futuro deverão ocorrer mais avalanches, quedas de gelo e rochas na área do atual acampamento-base.
Tshering Tenzing Sherpa, gerente do acampamento-base do Everest com o Comité de Controlo da Poluição de Sagarmatha (SPCC), diz que o acampamento-base atual poderia funcionar mais três ou quatro anos, uma vez que ainda está estável. Mas, os funcionários nepaleses acreditam que a mudança ocorrerá antes, até 2024.
Mesmo assim, Adhikari diz que a mudança só será concretizada “depois de discutirmos com todos os quadrantes”. "Avaliámos os aspetos técnicos e ambientais do acampamento-base, mas antes (… ) teremos de discutir isto com as comunidades locais, considerando outros aspetos como a sua cultura".