Gestão das áreas rurais é essencial para prevenir novas pandemias
Segundo um relatório especializado, é essencial que se mudem alguns aspetos da forma como gerimos as atividades agrícolas e a floresta, de forma a evitar o aparecimento de futuras pandemias, idêntica à que vivemos. Fique a saber tudo sobre este assunto, connosco!
Nos últimos 50 anos, o risco de propagação de doenças infeciosas aumentou drasticamente tendo em conta a crescente alteração e/ou destruição de milhares de ecossistemas. Segundo um relatório apresentado na passada semana, desenvolvido pelo International Scientific Working Group on Pandemic Prevention e organizado pelo Harvard Institute of Global Health e pela Harvard TH Chan School of Public Health, a proteção das florestas e as mudanças das práticas agrícolas atuais, são o caminho a seguir.
Este relatório indica que o deslocamento forçado de espécies, devido à ação destrutiva do ser humano, faz com que certos animais estejam mais próximos da população, e assim, se um animal for portador de um patogénico de risco este será mais facilmente transmitido à espécie humana, originando uma doença contagiosa que, posteriormente, se poderá tornar numa pandemia.
As alterações climáticas, a desflorestação, o comércio ilegal de espécies protegidas bem como a agricultura intensiva e outras atividades que desfiguram o meio ambiente podem influenciar a disseminação de doenças presentes em animais selvagens, segundo os autores deste estudo. A melhor forma de evitar novas situações pandémicas será fortalecer os sistemas de saúde existentes e criar mecanismos eficazes que evitem a transmissão entre animais e humanos.
Segundo a mesma fonte, uma das formas de atingir este objetivo é criar “plataformas de saúde”, multidisciplinares, que envolvam a medicina tradicional, a medicina veterinária, os agentes ambientais e todos os que praticam a atividade agrícola a grande, média e pequena escala. Em certas áreas agrícolas da Malásia, por exemplo, foi possível impedir a propagação do vírus Nipah através da construção de infraestruturas que impedem os morcegos de entrarem em contacto com o gado suíno.
Pandemia: prevenir ou combater?
O mesmo estudo indica que combater uma pandemia, da forma como a maior parte dos países estão a fazer com a Covid-19 é, sem dúvida, importante, mas a população e principalmente os decisores deveriam apostar (muito) mais na prevenção. Se alguns especialistas da Universidade de Harvard afirmam que até aos dias de hoje já foram gastos mais de 650 mil milhões de euros no combate à pandemia, sabe-se que apenas cerca de 2% deste valor seria suficiente para financiar atividades que promovessem a redução da desflorestação e um maior controlo no comércio de espécies protegidas, evitando assim a potencial disseminação de um vírus zoótico.
Tendo em conta um especialista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Brasil), para a opinião pública é sempre mais fácil promover o combate em relação à prevenção. É difícil promover a prevenção de algo que não está a acontecer, que não é palpável. É, contudo, importante compreender que nas últimas décadas cerca de 50% das doenças infeciosas detetadas tinham como proveniência algum tipo de animal selvagem, tendo à cabeça os morcegos, alguns roedores e os macacos. Estas doenças infeciosas tanto podem ser transmitidas por meio respiratório como por diversos vetores (organismos vivos) como o mosquito, a melga ou a carraça.
Por outro lado, os nossos padrões de uso do solo não estão a ajudar nem na prevenção nem no combate. A desflorestação acelerada bem como a agricultura intensiva têm alterado ecossistemas um pouco por todo o mundo, facilitando a disseminação de vírus como o Zika ou o Ébola. Assim, a China, todo o Sudeste Asiático bem como África e a América do Sul são as áreas mais vulneráveis, pois é nestas localizações que os ecossistemas estão a ser mais negligenciados.
É de extrema importância para todos os seres humanos deste planeta que os cientistas, através de publicações cientificas, identifiquem “os locais com maios probabilidade de surgimento de pandemias” que permitirá gerir os recursos e definir estratégias de forma eficaz numa aposta
simultânea em prevenção e em combate.