Geadas tardias e degelos precoces: a crise ambiental que afeta mais de mil milhões de pessoas
Os lagos de água doce do mundo estão a congelar durante períodos de tempo mais curtos devido às alterações climáticas. Saiba mais aqui!
A mudança nos ciclos de gelo tem implicações importantes para a segurança humana, bem como para a qualidade da água, a biodiversidade e os ciclos globais de nutrientes, de acordo com uma nova análise de uma equipa internacional de investigadores liderada por Stephanie Hampton, da Carnegie Science.
Realizada por cientistas sediados nos Estados Unidos, Canadá e Suécia, esta análise representa um importante apelo à ação para a investigação em ecologia de água doce durante o inverno.
Os ciclos de gelo e degelo estão a mudar
O mundo tem milhões de lagos de água doce, a maioria dos quais congela durante o inverno. Este novo estudo indica uma mudança maciça na duração do gelo dos lagos nos últimos 25 anos, com o degelo a começar pelo menos um mês mais cedo do que nos séculos anteriores.
Stephanie Hampton.
A equipa analisou os danos ecológicos causados pela perda de gelo, desde a saúde de cada lago até ao delicado equilíbrio dos ciclos dinâmicos que constituem o sistema terrestre.
Os investigadores defendem que o estudo dos lagos durante o inverno deve ser efetuado por ecologistas de todo o mundo, a fim de compreender verdadeiramente os riscos de grande amplitude colocados pela perda de gelo. Esta investigação identifica várias áreas-chave para estudo adicional que têm implicações importantes para a saúde humana e ambiental.
Quais os danos causados por esta mudança?
De acordo com Hampton e os seus colaboradores, a redução da duração do gelo e as temperaturas mais quentes afetam a biogeoquímica e o metabolismo microbiano dos lagos e colocam-nos em maior risco de deterioração da qualidade da água.
Por exemplo, podem formar-se florescências tóxicas de cianobactérias em águas mais quentes, pondo em risco tanto os peixes como os seres humanos. Para complicar ainda mais a situação, as condições de baixo oxigénio causadas por estas florescências podem libertar metais que são sequestrados nos sedimentos do leito do lago, trazendo problemas adicionais à qualidade da água.
As alterações na duração do gelo também têm implicações para a biodiversidade dos ecossistemas lacustres, indicam os investigadores. Por exemplo, as alterações de temperatura podem permitir o desenvolvimento de espécies invasoras adaptadas a águas mais quentes, enquanto os peixes de água fria e outros organismos são afetados negativamente.
Os investigadores sublinham a importância de mais estudos sobre a forma como a perda de gelo nos lagos está a afetar o ciclo global do carbono. As provas indicam que a cobertura de gelo permite que os lagos sequestrem carbono da atmosfera e que o aquecimento da água liberta mais metano, óxido nitroso e outros gases com efeito de estufa.
Além disso, a perda de gelo resulta num aumento da evaporação da água do lago e expõe potencialmente as pessoas que vivem nas proximidades a nevões mais intensos e a uma maior erosão. É necessária também mais investigação para compreender as muitas formas como os lagos contribuem para o ciclo da água num mundo em aquecimento.
Embora cientistas como Hampton estudem há décadas a ecologia dos lagos do Hemisfério Norte e de grande altitude, a investigação sobre lagos no inverno é um campo emergente. Hampton e outros colegas estão na vanguarda do avanço de protocolos de investigação seguros em condições de gelo.
Referência da notícia:
Hampton S., Powers S., Dugan H., et al. Environmental and societal consequences of winter ice loss from lakes. Science (2024).