Fortes chuvas provocam cheias e rasto de destruição no Haiti

Milhares de desalojados, dezenas de mortos, quase uma centena de feridos e mais de uma dezena de desaparecidos. O resultado de fortes chuvas que causaram cheias e inundações, que afetaram o país mais pobre das Américas.

Fortes chuvas transformaram ruas das cidades em autênticos rios.
Fortes chuvas transformaram ruas das cidades em autênticos rios.

Depois de vários dias seguidos de chuvas torrenciais, as ruas de várias cidades haitianas transformaram-se em verdadeiros rios, arrastando tudo o que aparecia pela frente. A água alagou ou destruiu o lar a mais de 13 mil pessoas.

A forte chuva que se abateu sobre o país desde sábado, 1 de junho, fez transbordar rios, e deslizar as terras. A precipitação foi particularmente mais intensa no sábado, 3 de junho, em todo o Haiti.

Estas chuvas torrenciais, acompanhadas de vento forte e trovoadas, foram provocadas pela formação de uma depressão que teve um comportamento estacionário sobre o país, durante todo o dia de sábado.

O Haiti havia sido afetado por chuvas persistentes na semana anterior e os solos, já saturados de água, não conseguiram absorver a precipitação adicional deste fim de semana.

Uma ponte na cidade de Jeremie foi parcialmente destruída e muitas estradas estão submersas em todo o país. Fortes inundações foram registadas na capital, Port-au-Prince, apesar desta não ser a região mais afetada.

As avaliações provisórias destas inundações, cheias torrenciais e deslizamentos de terras mostram mais de 37.000 pessoas afetadas em todo o território nacional haitiano.

Ontem, segunda-feira, 5 de junho, a autoridade de proteção civil haitiana deu conta de que, pelo menos, 42 pessoas morreram, 13.300 perderam as suas casas e 11 estão desaparecidas. Estas perdas humanas ocorreram, sobretudo, nos departamentos do Oeste, Sudeste e Noroeste, regiões atormentadas pela pobreza extrema, informou o jornal local Rezo Nodwes.

Muitas infraestruturas, escolas e centros de saúde foram danificados nos departamentos Oeste, Nippes, Sudeste, Noroeste e Centro. Os departamentos Oeste e o Noroeste são os mais afetados. Largos hectares de campos agrícolas foram severamente afetados.

A cidade de Leogane, localizada a 40 quilómetros a sudoeste da capital Port-au-Prince, foi particularmente atingida, com danos causados pelo transbordamento de três rios. Pelo menos 20 pessoas morreram nesta cidade, de acordo com autoridades haitianas.

“Embora não seja um ciclone ou uma tempestade tropical, os danos observados nas áreas afetadas são consideráveis. A comunidade humanitária está a trabalhar ao lado das instituições nacionais para ajudar os afetados”, disse Jean-Martin Bauer, coordenador humanitário interino da ONU no Haiti.

O dia 1 de junho marcou o início da temporada de furacões no Haiti, num momento em que o país enfrenta uma crise humanitária de grande escala. Este evento só vem debilitar um país já em sofrimento.

Para o Programa Alimentar Mundial, “um evento significativo induzido pelo clima deste nível tão cedo na temporada de furacões… levanta preocupações sobre a capacidade de fornecer uma resposta sustentada caso incidentes climáticos extremos continuem a ocorrer”.

Tragédia atrás de tragédia

Apesar da melhoria ligeira nas últimas horas, ainda se registou precipitação significativa. Para piorar, uma nova depressão é expectável na semana seguinte.

“Tínhamos planeado uma situação em que teríamos de três a cinco dias de chuva. Começou a 1 de junho e continuará. Esta não é uma situação que vai melhorar nas próximas horas porque temos células de chuva compactas que se instalaram nos departamentos Oeste e Sudeste, o que explica porque está a chover o tempo todo”, disse ontem o diretor-geral da Unidade Hidrometereológica, Marcelin Esterlin.

O grande número de vítimas deste evento destaca a vulnerabilidade do país a desastres provocados por fenómenos de origem natural e a sua incapacidade em mitigar o risco de tempestades, logo quando a temporada de furacões acabou de começar. Com o início da temporada de furacões, são esperados fenómenos de igual ou maior intensidade nos meses seguintes estão por vir.

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Como se referiu, o país enfrenta uma crise humanitária de larga escala, quase metade da população – 5,2 milhões de pessoas – precisa de assistência humanitária, número que dobrou em apenas cinco anos.

O Haiti é a nação mais pobre do hemisfério ocidental, já enfraquecida pela instabilidade política, pobreza crónica, infraestrutura débil, violência de gangues de rua e atividade tectónica elevada.

Este país caribenho conheceu ao longo das últimas décadas várias catástrofes que moldaram a sua geografia. Em janeiro de 2010, um terramoto de magnitude 7,0 matou mais de 220.000 pessoas e deixou Port-au-Prince devastada, em outubro de 2016 o furacão Matthew ceifou a vida a 580 pessoas, e em agosto de 2021, experimentou um terramoto de magnitude 7,2 que matou mais de 2.000 pessoas, o segundo mais violento desde 1842.