Foram descobertas as causas dos enigmáticos “bais”: vazios que surgem nas selvas africanas
Uma série de vazios sem árvores que parecem surgir aleatoriamente nas profundezas das densas florestas tropicais do centro-oeste de África pode desempenhar um papel fundamental para um vasto leque de espécies animais.
Depois de obterem uma enorme quantidade de dados, os cientistas acreditam que é possível que alguns animais estejam a “desenhar” estas lacunas para benefício da sua própria sobrevivência e dinâmica evolutiva.
Um novo estudo fornece uma descrição detalhada e sem precedentes do desenho, número e características dos “bais”, misteriosos oásis de terreno sem árvores que aparecem sem causa conhecida nas profundezas das florestas tropicais africanas. A análise abrange mais de 8000 quilómetros quadrados de floresta preservada no Parque Nacional de Odzala-Kokoua, na República do Congo.
Um pormenor que diferencia a paisagem
O grande número de árvores, a humidade densa e o ruído dos chamamentos dos animais são as paisagens em que normalmente pensamos quando imaginamos as florestas tropicais africanas. No entanto, não sabemos que estes ambientes luxuriantes são também o lar de paisagens completamente diferentes: onde, do nada, grandes áreas sem árvores aparecem subitamente nestas zonas. O fenómeno, que ainda não tem uma explicação científica concreta, ocorre apenas no centro-oeste de África.
Agora, uma investigação liderada por cientistas da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, está a tentar esclarecer as causas do aparecimento destes oásis enigmáticos. Alguns bais têm o comprimento de 40 campos de futebol, enquanto outros cobrem áreas mais pequenas, com menos de 100 metros de largura.
Evan Hockridge, principal autor do estudo.
Consideradas as maiores clareiras naturais conhecidas no planeta, parecem desempenhar um papel importante no ambiente complexo e biodiverso da floresta tropical.
Criados pelos próprios animais?
Com base na análise dos dados, uma hipótese que está a ser considerada é que muitas espécies podem estar a “desenhar” estes espaços através das suas atividades diárias, devido às vantagens que conferem em termos de sobrevivência e evolução.
Para confirmar esta possibilidade ou encontrar novas respostas, os investigadores estão já a planear novos estudos em que tentarão aprofundar vários aspetos destes oásis, tais como a forma como os animais interagem com eles, a sua dependência e a sua estabilidade ao longo do tempo.
Referência da notícia:
Hockridge E., Bradford E., Angier K., et al. Spatial ecology, biodiversity, and abiotic determinants of Congo's bai ecosystem. Ecology (2024).