Fogos na Califórnia e as alterações climáticas
Os incêndios na Califórnia, cujas chamam lavram há mais de duas semanas, são considerados os mais mortíferos e destrutivos de sempre daquele estado. Até este momento e segundo dados oficiais, 83 pessoas morreram e 563 ainda se encontram desaparecidas.
Os incêndios florestais ocorrem frequentemente na Califórnia, devido ao próprio ecossistema, mas desde a década de 1980, a dimensão e a severidade dos incêndios que varrem o estado tendem a subir. De acordo com o Departamento Florestal e de Incêndios da Califórnia quinze dos vinte maiores incêndios da história da Califórnia ocorreram desde 2000.
Segundo informação da NOAA (U.S. National Oceanic and Atmospheric Administration) a maioria dos anos mais quentes e mais secos do estado da Califórnia também ocorreu durante as duas últimas décadas. Temperaturas mais altas e secas podem aumentar a severidade, frequência e extensão dos incêndios florestais. Em média, 4% da terra na Califórnia tem sido queimada por década desde 1984, segundo dados da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos.
Evolução do Clima na Califórnia
Fazendo uma análise da evolução do clima na Califórnia, com base em estudos realizados pelo U.S. Climate Change Science Program, U.S. Global Change Research e U.S. Environmental Protection Agency, verifica-se que o clima da Califórnia está a mudar. O Sul da Califórnia aqueceu cerca de 1,5 oC nos últimos 100 anos e em todo o estado a temperatura média tem vindo a subir. As ondas de calor têm sido mais frequentes, a neve derrete mais cedo na primavera e no sul da Califórnia regista-se a ocorrência de menos precipitação.
Consequência do tempo quente e seco na vegetação
Sob a ação de massas de ar mais quente e seco as árvores, os arbustos e as pastagens tornam-se mais secos e mais vulneráveis a arderem. Esse efeito de secagem da vegetação agrava-se a cada grau de aquecimento do ar, o que significa que na Califórnia as plantas perdem a água mais eficientemente hoje do que há uns anos atrás.
Segundo Park Williams, um especialista em incêndios da Universidade de Columbia, devido ao efeito da mudança climática, os incêndios florestais estão a aumentar em dimensão, tanto na Califórnia como na parte oeste dos Estados Unidos. Já em 2016 o mesmo especialista referia que desde os anos 80 a mudança climática estava a contribuir para mais 10 milhões de acres de florestas queimadas.
Apesar dos incêndios florestais dependerem de vários fatores, tais como o planeamento e a gestão das florestas, está demonstrado em diversos estudos que as alterações climáticas, com o aumento das temperaturas médias, que torna as plantas mais secas, a diminuição dos níveis de precipitação, criando situações de seca prolongada com árvores mais secas, são dos fatores importantes que torna a floresta da Califórnia, bem como a de outros regiões do planeta, cada vez mais vulnerável a arder.
É um ciclo vicioso, visto que estes incêndios, indireta e parcialmente causados pelas alterações climáticas, emitem fumo e carbono para a atmosfera que por sua vez afetam o clima novamente.
Futuro
Segundo a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, nas próximas décadas, o mais certo é que, com as alterações climáticas, a precipitação diminua ainda mais na Califórnia, tornando-se o tempo mais seco, o que aumenta o risco de incêndios florestais mais destrutivos e severos e ameaça o desenvolvimento costeiro e ecossistemas na região.
A combinação de mais incêndios e condições de massas de ar mais seco pode levar à alteração dos ecossistemas, com a expansão dos desertos e alterar parte da paisagem da Califórnia. Algumas florestas podem transformar-se em deserto ou pastagem.