Fertilizantes minerais na agricultura baixaram 10,3% na UE. Portugal aposta em fertilizantes de base biológica
A redução de fertilizantes minerais na UE já vinha de 2021, mas o conflito na Ucrânia e a aplicação de sanções económicas à Rússia fez disparar os preços e ajudou à diminuição da sua utilização. Em Portugal, o consórcio ReLEAF quer revolucionar a indústria de fertilizantes de base biológica.
Em 2022, a quantidade de fertilizantes minerais (azoto e fósforo) utilizados na produção agrícola em toda a União Europeia (UE) foi de 9,8 milhões de toneladas. Os últimos números divulgados a 28 de junho pelo Eurostat, o gabinete oficial de estatísticas da União Europeia, mostram um declínio acentuado de 10,3%, por comparação com as quantidades utilizadas em 2021. E um declínio acumulado de 15,9%, face ao pico registado em 2017.
As causas desta redução prendem-se com o conflito militar na Ucrânia desencadeado em 24 de fevereiro de 2022, e com a aplicação, por parte da UE, de sanções de natureza económica à Rússia. Estes dois fatores conduziram a aumentos acentuados dos preços dos fertilizantes, devido ao facto de a indústria de adubos azotados da União estar fortemente dependente do gás de origem russa.
Por outro lado, a Rússia e a Bielorrússia tinham sido atores-chave na produção mundial de fertilizantes de rocha (fosfatos e, em especial, potássio), o que terá afetado os custos de produção dos fertilizantes minerais e, por consequência, o seu preço final, levando a uma mais escassa utilização por parte dos agricultores europeus.
Justamente no ano de 2021, o consumo de minerais (azoto e fósforo) na produção agrícola da UE já tinha caído 2,2% em relação a 2020. Ficou-se pelas 10,9 milhões de toneladas.
França, Espanha, Itália e Roménia são os países com maior utilização de fertilizantes à base de fósforo na agricultura (ano de 2022). No conjunto, estes países são responsáveis por cerca de metade da utilização total de fertilizantes minerais da UE.
Valorizar lamas e resíduos de peixe
Com a aprovação do Pacto Ecológico Europeu e as novas orientações da Comissão Europeia rumo à transição ecológica e ao objetivo de alcançar a neutralidade climática até 2050, a UE pretende reduzir até 2030 o uso de fertilizantes e pesticidas na agricultura e baixar em 20% o uso de fertilizantes de síntese. Também por isso, as alternativas de base biológica começam a surgir em vários países da Europa.
Exemplo disso, é o consórcio internacional ReLEAF, que agrega 17 empresas tecnológicas e organizações de investigação de nove países europeus, entre os quais Portugal, e que já está a trabalhar nessas soluções tecnológicas inovadoras.
O objetivo, dizem os responsáveis do ISQ, é “revolucionar a indústria de fertilizantes de base biológica”, alinhados, justamente, com o Pacto Ecológico Europeu e a Estratégia Europeia para a Bioeconomia, reduzindo a dependência europeia de fertilizantes minerais importados.
Em comunicado difundido nesta segunda-feira, 1 de julho, Rita Alberto, membro da Direção de Inovação do ISQ, que integra aquele consórcio, é taxativa: “O desafio é valorizar os fluxos de biorresíduos generalizados em toda a Europa”.
Aqui se incluem lamas de depuração, resíduos de processamento de peixe, resíduos alimentares mistos e resíduos agro-alimentares. Todos eles servirão para “produzir fertilizantes de base biológica (BBFs) seguros, sustentáveis e eficientes”.
O projeto, cofinanciado pela CBE JU (Circular Bio-based Europe Joint Undertaking), UKRI (UK Research and Innovation) e SERI (Swiss State Secretariat for Education, Research and Innovation), centra-se na “transformação sistémica dos setores industriais envolvidos na bioeconomia para alcançar a neutralidade climática, aumentar a biodiversidade, combater a poluição e reduzir a dependência dos recursos fósseis”, refere o ISQ.
Criação de emprego ‘verde’
O projeto ReLEAF vai “otimizar os requisitos de matéria-prima e as tecnologias de extração de compostos e produção de ingredientes”, demonstrando tecnologias de formulação e produção de fertilizantes e avaliando a eficiência dos fertilizantes, a qualidade do solo e a segurança dos produtos.
Adicionalmente, os intervenientes deste consórcio irão envolver-se na exploração e co-criação da cadeia de valor para garantir a circularidade, realizar avaliações de sustentabilidade ambiental, económica e social.
Através destas soluções inovadoras, o consórcio planeia “integrar novas tecnologias, estabelecer cadeias de valor sustentáveis e criar modelos de negócio circulares”. Com isso contribuirão também para a sustentabilidade ambiental e o crescimento económico, através da “criação de emprego ‘verde’, colaborações e parcerias”.