FAO discute em Itália “Perspetivas Mundiais sobre Indicações Geográficas” nos produtos agrícolas e agroalimentares

A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e o Ministério da Agricultura de Itália organizam, em Roma, conferência internacional sobre Indicações Geográficas (IGs). Reúne 350 participantes de 52 países.

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O azeite de Moura é dos mais de 200 produtos portugueses rotulados pela União Europeia com Indicação Geográfica (IG) Protegida.

O número de Indicações Geográficas (IGs) em todo o mundo tem crescido de forma significativa nos últimos anos, havendo mais de 9.450 produtos certificados e protegidos.

Na União Europeia, há perto de 3500 produtos protegidos como IG, cuja comercialização atinge um volume de vendas de cerca de 80 mil milhões de euros, de acordo com os dados da Comissão Europeia. As exportações destes produtos já representavam, em 2020, 15,5% das vendas de produtos agroalimentares da UE.

Em Portugal, há mais de 200 produtos rotulados pela União Europeia como indicação geográfica (IG). São exemplo os ovos moles de Aveiro, o pastel de Chaves, o vinho do Porto ou da Madeira, o azeite de Moura, o medronho do Algarve, o queijo da serra da Estrela ou o ananás dos Açores.

A primeira edição da conferência internacional “Perspetivas Mundiais sobre Indicações Geográficas: Inovações e Tradições para a Sustentabilidade” aconteceu em Montpellier (França), em 2022.

A reunião de 2025, que arrancou a 18 de fevereiro e se prolonga até ao dia 21, sexta-feira, em Roma, deverá desempenhar “um papel fundamental no avanço das discussões iniciadas durante a Reunião de Ministros do G7 sobre Agricultura em setembro de 2024”, refere a FAO, num comunicado difundido nesta quarta-feira, 19 de fevereiro.

Esta conferência internacional decorre durante quatro dias e reúne mais de 350 participantes de 52 países, incluindo investigadores, autoridades públicas, produtores e outros especialistas do setor agrícola e agroalimentar.

ananás
Em Portugal, há mais de 200 produtos portugueses rotulados pela União Europeia como indicação geográfica (IG), de que é exemplo o ananás dos Açores.

A organização deste evento cabe à FAO e, também, ao Ministério da Agricultura, Soberania Alimentar e Florestas (MASAF) de Itália. Até à próxima sexta-feira, 21 de fevereiro, vão explorar “o papel das Indicações Geográficas (IGs) na preservação dos produtos locais", ao mesmo tempo que promovem "a sustentabilidade, apoiada pela inovação e cooperação internacional”.

Qu Dongyu, diretor-geral da FAO

Os produtos rotulados com IG indicam ao consumidor que são um bem comercializável com qualidades ligadas ao seu local específico de origem. As IGs têm, pois, “um potencial para a preservação da identidade e do património cultural e a proteção do conhecimento tradicional, bem como um impacto positivo a nível ambiental e social”, sublinha a FAO.

Em paralelo, os produtos rotulados com IG “apoiam as economias rurais, aumentando a procura de produtos regionais, criando emprego e acrescentando valor às atividades locais”, frisa a mesma organização, que é liderada pelo diplomata chinês Qu Dongyu, reeleito para o cargo em julho de 2023.

Qu Dongyu nasceu em 1963, na província chinesa de Hunan, e era vice-ministro da Agricultura e Assuntos Rurais da China quando foi eleito a primeira vez como secretário-geral da FAO, em 2019.

Com formação em Ciências Agrárias, Qu Dongyu possui um mestrado em Cruzamento de Plantas e Genética, pela Academia de Ciências Agronómicas da China. Tem ainda um doutoramento em Ciências Agrárias e Ambientais, pela Universidade de Wageningen, na Holanda.

A experiência profissional de Qu Dongyu inclui inúmeras posições de liderança em institutos de investigação do governo chinês e em grandes empresas, tendo-se dedicado à agricultura e ao desenvolvimento rural, ao intercâmbio e cooperação internacional e à inovação e gestão da ciência tecnológica durante 33 anos.

IGs: “papel vital” no apoio à sustentabilidade

A FAO e o Ministério da Agricultura, Soberania Alimentar e Florestas de Itália organizam, em Roma, esta segunda conferência internacional “Perspetivas Mundiais sobre Indicações Geográficas: Inovações e Tradições para a Sustentabilidade”. Estão cientes de que “as IG podem desempenhar um papel vital na manutenção de padrões de elevada qualidade e no apoio à sustentabilidade”, refere a organização liderada por Qu Dongyu.

Isto, “à medida que os desafios globais, como os choques climáticos e a perda de biodiversidade, afetam cada vez mais as práticas tradicionais” na agricultura e na produção de alimentos para as populações de todo o mundo, acrescenta a FAO.

Agricultura
O diretor-geral da FAO, Qu Dongy, sublinha “a importância das Indicações Geográficas para tornar os sistemas agroalimentares mais eficientes, inclusivos e mais sustentáveis”, os quais permitem “produzir mais com menos”.

Na cerimónia de abertura desta conferência internacional, Qu Dongy destacou, justamente, essa ideia. O diretor-geral da FAO enfatizou “a importância das IG para tornar os sistemas agroalimentares mais eficientes, inclusivos, resilientes e sustentáveis”, permitindo que os agricultores “produzam mais com menos”.

“As Indicações Geográficas são essenciais para atingir este objetivo, porque promovem uma abordagem territorial, que está alinhada com a abordagem da FAO, de garantir que os produtores estão no centro dos processos de desenvolvimento, dando prioridade à proteção dos recursos locais, preservando os ativos naturais e culturais e criando um modelo económico viável”, disse Qu Dongy, esta semana, em Roma.

Lollobrigida, ministro italiano da Agricultura

Qu Dongy apontou “o papel das IG em proporcionar oportunidades às gerações mais jovens”, acrescentando que “o desenvolvimento de Indicações Geográficas também oferece oportunidades para os jovens que desejam permanecer nas suas comunidades e territórios locais”.

A conferência internacional “Perspetivas Mundiais sobre Indicações Geográficas: Inovações e Tradições para a Sustentabilidade” que decorre esta semana em Roma contou com a presença de Francesco Lollobrigida, ministro italiano da Agricultura, Soberania Alimentar e Florestas. Acolheu ainda representantes de destaque de organizações internacionais e de importantes decisores políticos de vários países.

O governante italiano fez questão de afirmar, durante o seu discurso neste evento internacional, que, em Itália, “as Indicações Geográficas são uma referência fundamental para valorizar um território, uma cultura e uma história que se refletem na criação de produtos únicos e competitivos nos mercados”.

Para Francesco Lollobrigida, as IG “representam a síntese de tradição, segurança alimentar, desenvolvimento tecnológico e investigação — elementos que se entrelaçaram ao longo do tempo". E isso, diz, "permite-nos ostentar um número extraordinário de produtos com indicação geográfica que são inimitáveis e não replicáveis”.