FAO alerta que 67,6% das terras agrícolas em Gaza foram danificadas. Pomares e hortícolas são os mais afetados

No dia 7 de outubro de 2023, o Hamas atacou Israel e matou mais de 1250 pessoas. O país de Benjamin Netanyahu retaliou sobre a Faixa de Gaza e, um ano depois, além de mais de 41.700 mortos, 67,6% das terras aráveis foram danificadas e milhares de animais abatidos.

tanque de guerra
“As imagens de satélite indicam que os rastos de veículos pesados, a destruição, os bombardeamentos e outras pressões relacionadas com o conflito [em Gaza] danificaram significativamente a infraestrutura agrícola do território, com um total de 1 188 poços agrícolas (52,5%) e 577,9 hectares de estufas (44,3%) danificadas”, alerta a FAO.

A 1 de setembro de 2024, 67,6% das terras agrícolas na Faixa de Gaza – 10 183 hectares – estavam danificadas e impróprias para a atividade agrícola, em resultado da retaliação militar desencadeada por Israel contra o povo palestiniano de há um ano para cá.

A presença de veículos pesados (tanques e escavadoras), a ocorrência de bombardeamentos, o disparo de projéteis e outras ações militares destruiu culturas e ameaça todos os dias a atividade agrícola e a pecuária na região.

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e o Centro de Satélites das Nações Unidas (UNOSAT) alertaram, na última semana, para o facto de os danos em Gaza também serem notórios nas infraestruturas agrícolas naquele território do Médio Oriente, que mede escassos 41 quilómetros de comprimento e 10 quilómetros de largura.

A situação agravou-se nos últimos meses. O nível de destruição dos terrenos agrícolas – 67,6% - contabilizado até 1 de setembro pela FAO e a UNOSAT aumentou relação aos 57,3% (8 660 hectares) de terras aráveis danificadas registadas em maio e face aos 42,6% (6 694 hectares) contabilizadas em fevereiro deste ano.

Um problema que “agrava ainda mais a situação humanitária e a fome”, naquele território, pondo em causa a “segurança e soberania alimentar” da população devastada pela guerra.

A FAO e a UNOSAT referem que, “especificamente, 71,2% dos pomares e outras árvores, 67,1% das culturas arvenses e 58,5% dos produtos hortícolas foram danificados” nos últimos doze meses.

“As imagens de satélite indicam que os rastos de veículos pesados, a destruição, os bombardeamentos e outras pressões relacionadas com o conflito também danificaram significativamente a infraestrutura agrícola de Gaza, com um total de 1 188 poços agrícolas (52,5%) e 577,9 hectares de estufas (44,3%) danificadas”.


Os dados agora recolhidos servem, ainda assim, para “fornecer informações críticas” às agências humanitárias, com vista a “apoiar os esforços humanitários à medida que o conflito continua a ter impacto no setor agrícola de Gaza”, disse o diretor executivo do UNITAR, Nikhil Seth, citado em comunicado divulgado na última quinta-feira, 3 de outubro.

Beth Bechdol, vice-diretora-geral da FAO, citada no mesmo comunicado, frisou que “a extensão dos danos nas terras agrícolas na Faixa de Gaza atingiu níveis sem precedentes”, o que, na sua opinião, “levanta sérias preocupações sobre o potencial de produção de alimentos agora e no futuro, porque a ajuda alimentar, por si só, não pode satisfazer as necessidades diárias da população de Gaza”.

Ovelhas
Em Rafah, “quase 95% do gado morreu - cerca de 15 mil cabeças - e quase todos os vitelos foram abatidos”, refere a FAO. Cerca de 43% dos ovinos (menos de 25 mil cabeças) e 37% dos caprinos (cerca de 3000 cabeças) permanecem vivos.

Há, neste momento, “mais de dois milhões de habitantes de Gaza que ainda necessitam urgentemente de assistência alimentar e de subsistência, uma vez que o acesso humanitário continua restrito”. A última avaliação da FAO, que diz respeito ao período entre de 7 de outubro de 2023 a 1 de setembro de 2024, “reforça as preocupações sobre o risco de fome”.

Desde o início do conflito, a FAO e a UNOSAT têm fornecido atualizações regulares da avaliação das terras agrícolas, combinando dados de campo e de satélite para avaliar vários indicadores, entre eles a extensão da área cultivada e os danos registados.

Houve "perdas dramáticas no setor avícola"

Khan Younis, cidade palestiniana situada no sul da Faixa de Gaza, tem a maior área de terras agrícolas danificadas (2 589 hectares ou 61,5%), segundo a FAO, enquanto o Norte de Gaza tem a maior proporção de danos por província (78,2%).

O porto da Cidade de Gaza está “gravemente danificado”, tendo “a maioria dos barcos de pesca sido destruídos”, lê-se no relatório da FAO.

Rafah, uma cidade situada no sul da Faixa de Gaza já na fronteira com o Sinai, no Egito, “registou um aumento acentuado (183%) do número de estufas danificadas”. “Quase 95% do gado morreu - cerca de 15 mil cabeças - e quase todos os vitelos foram abatidos”, refere a FAO. Cerca de 43% dos ovinos (menos de 25 mil cabeças) e 37% dos caprinos (cerca de 3000 cabeças) permanecem vivos.

No relatório divulgado na última semana, a FAO revela que “são relatadas perdas dramáticas no setor avícola, com apenas um por cento (cerca de 34 mil) das aves vivas”, o que levou à diminuição acentuada da produção comercial neste setor. A maioria das operações está agora limitada à produção familiar para autoconsumo.

Em consequência de tudo isto, o acesso da população a proteína e a alimentos nutritivos é “crítica”, pelo que “a ajuda agrícola é urgentemente necessária”, diz a FAO. Só através dela será possível “restaurar a disponibilidade de alimentos altamente nutritivos, evitar o colapso total do setor agrícola, preservar os meios de subsistência agrícolas remanescentes e reduzir a fome aguda e a subnutrição, especialmente entre as crianças”.

Os agricultores, pescadores e pastores de Gaza “continuam a arriscar as suas vidas para continuar a produção de alimentos”, diz a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura. No entanto, “isso está a tornar-se cada vez mais difícil devido aos danos substanciais nas infra-estruturas”.

Até 29 de setembro de 2024, a FAO distribuiu forragens a mais de 4400 criadores de gado em Rafah, Khan Younis e Deir al-Balah e kits veterinários a cerca de 2400 famílias de pastores.