Falar sobre o tempo: é só conversa fiada ou mais importante do que julgamos?
A investigação tem demonstrado que as interações sociais ocasionais e fugazes são determinantes para o nosso bem-estar e para os negócios também.

Falar sobre o estado do tempo é o maior cliché da conversa fiada. Mas não menosprezemos o seu valor. Por alguma razão é o tópico mais popular para quebrar o gelo quando estamos encurralados numa sala de espera, a subir ou descer no elevador, na paragem de autocarro ou quando nos cruzamos com o vizinho a passear o cão na rua.
Não é somente porque os dias chuvosos ou ensolarados afetam toda a gente que, muitas vezes, as conversas orbitam à volta do tempo.
Falar sobre o tempo, a bem da verdade, não é apenas sobre o tempo — é, acima de tudo, um recurso confiável para criar um vínculo social e manter a cordialidade quando estamos fora da nossa zona de conforto.
Apalpar o terreno para o próximo passo
A conversa fiada tem o poder único de preparar o terreno para uma primeira conexão com alguém que não conhecemos bem. Uma vantagem é precisamente fornecer pistas sobre o próximo passo. A resposta será decisiva para saber se devemos prosseguir ou dar o assunto por encerrado.

Por isso mesmo, quando falamos sobre o tempo, não estamos somente a matar o tempo ou a preencher um silêncio confrangedor. Nem tão pouco significa que as condições meteorológicas são uma obsessão coletiva.
Quando o tema do tempo vem à baila, é um sinal claro de que alguém se está a esforçar por construir uma conexão. E se não sabemos por onde começar, por que não usar o tempo como um trampolim para aprofundar a conversa?
"Conversar sobre o tempo é o último refúgio dos sem imaginação". A citação, atribuída a Oscar Wilde, reflete a pouca importância atribuída ao tema. Acontece, porém, que o escritor e dramaturgo irlandês estava errado.
Falar sobre o tempo não é uma perda de tempo, asseguram os psicólogos e os sociólogos, que nos alertam para a verdadeira função das conversas de circunstância.
A investigação tem demonstrado que falar com estranhos melhora o nosso humor e bem-estar, podendo, inclusive, reduzir as probabilidades de virmos a sofrer um AVC. Já conhecemos bem os estudos que sugerem como as pessoas com uma vida social mais ativa tendem a ser mais felizes e saudáveis do que as que estão mais isoladas.
A importância das conversas de circunstância
O certo é que também as interações sociais casuais ou fugazes são determinantes para a nossa saúde mental. Embora a família e os amigos sejam essenciais no nosso equilíbrio emocional, esses relacionamentos estão longe de ser os únicos. Os vínculos ocasionais são igualmente importantes na nossa vida.

Um pequeno conjunto de estudos sobre este tópico descobriu que as conversas de circunstância com vizinhos ou colegas, com o carteiro ou o empregado de café, com o cabeleireiro ou barbeiro até podem ser superficiais, mas estão diretamente associadas a maiores níveis de bem-estar.
A investigação mostra também que as interações sociais ocasionais podem ir para lá do superficial e mergulhar noutras dimensões. A conversa fiada ajuda a lidar com dinâmicas de poder no mundo do trabalho, cria laços de solidariedade, podendo vir a ser ainda uma boa estratégia para obter bons resultados nas reuniões de negócios ou nos esforços para alargar a rede de contactos empresariais (networking).
Por isso, da próxima vez que hesitar em falar sobre o tempo com alguém que mal conhece, lembre-se de que nada tem nada a perder. Muito pelo contrário. O tempo, tal como o sal na nossa comida, é o tempero que faz vir ao de cima novos temas às nossas conversas.
Referências da notícia
Stav Atir, Xuan Zhao & Margaret Echelbarger. Talking to strangers: Intention, competence, and opportunity. ScienceDirect.
Gillian M. Sandstrom & Elizabeth W. Dunn. Is Efficiency Overrated? Minimal Social Interactions Lead to Belonging and Positive Affect. Sage Journals.
Esra Ascigil, Gul Gunaydin, Emre Selcuk, Gillian M. Sandstrom & Erdal Aydin. Minimal Social Interactions and Life Satisfaction: The Role of Greeting, Thanking, and Conversing. Sage Journals.
Jessica R. Methot, Emily H. Rosado-Solomon, Patrick E. Downes & Allison S. Gabriel. Office Chitchat as a Social Ritual: The Uplifting Yet Distracting Effects of Daily Small Talk at Work. Academy of Management.
Bernie Chun Nam Mak. Doing business and constructing identities through small talk in the workplace instant messaging. Pragmatics and Society.