Fajã de lava já aumentou a ilha de La Palma em mais de 30 hectares
O vulcão Cumbre Vieja, ilha de La Palma, Canárias, entrou em erupção há 16 dias e posteriormente a lava alcançou o mar. Desse contacto imediato surgiu uma nuvem de gás tóxica, seguida duma fajã de lava que não pára de crescer, tendo roubado mais de 30 hectares ao mar.
O vulcão Cumbre Vieja na ilha de La Palma (Canárias, Espanha) entrou em erupção há 16 dias (19 de setembro, 15h10) e desde então, só cessou a sua atividade vulcânica durante umas horas. Com um vulcanismo dos tipos estromboliano e havaiano, desde que o magma foi expulso das “entranhas da Terra”, este vulcão já deixou para trás um colossal rasto de destruição.
Parte da ilha está envolta numa espessa nuvem de gases tóxicos (emitidas mais de 250 mil toneladas de SO2- dióxido de enxofre) - tóxica e perigosa para quem a inalar, podendo mesmo causar problemas na pele, olhos e pulmões - e a lava expelida chega a alcançar 1 km de largura, tendo destruído quase 1.500 edifícios e 33 quilómetros de estradas, para além de incontáveis plantações de bananas (um dos meios de subsistência principais da ilha). Também obrigou à evacuação de 6 milhares de pessoas. A superfície total afetada pelo magma na ilha de La Palma já superou os 413 hectares.
Quando a lava, com temperatura superior a 1000 ºC, atingiu o mar (a cerca de 20 ºC), pelas 23h do passado dia 28 de setembro pela área de Tazacorte, foi gerada uma enorme nuvem de gases ácidos que obrigou ao confinamento das populações mais próximas. Após este primeiro choque, uma superfície terrestre começou a surgir, prolongando o território da ilha.
Fajãs lávicas ou delta lávicos?
Uma grande maioria dos meios de comunicação social tem recorrido ao termo “delta lávico” para descrever a morfologia resultante, bem como o processo de entrada da lava no mar. À primeira vista pode parecer o termo mais apropriado, ainda para mais, sabendo-se que em inglês é designado por “lava delta”.
De acordo com a definição dada pelos geomorfólogos e vulcanólogos, delta lávico é um acidente geográfico que se forma quando um fluxo suficientemente grande de lava penetra um corpo de água. A lava arrefece e solidifica quando encontra a água, dando origem à criação de uma plataforma alargada e de carácter deltaico.
Esta designação está longe de estar inapropriada, contudo, é importante salientar que nas Canárias, tal como nos Açores, Madeira e Cabo Verde (ilhas da Macaronésia), o termo “fajana” (espanhol) ou “fajã” (português) é o vocábulo toponímico habitualmente mais empregue para este tipo de processos derivados da atividade vulcânica.
Segundo António Cândido de Figueiredo, filólogo e escritor português, a fajã é “toda a terra baixa e chã” ou “pequena extensão de terreno plano, suscetível de cultura, junto a uma rocha, geralmente à beira-mar, formada em regra por materiais desprendidos por quebradas ou acumulados na foz de uma ribeira e assentes quase sempre num banco de lava muito resistente”.
Assim, o que se sabe é que um delta lávico dará origem, na sua essência, a um tipo de fajã (lávica), já que também existem outros tipos de fajãs como as detríticas ou as fajãs de altitude.
Esta fajã ainda está em formação
Por exemplo, nos Açores, só a Ilha de São Jorge apresenta mais de 40 fajãs. Já La Palma possui algumas também muito famosas: a dos Franceses e a do Barlavento, ambas na parte norte da ilha. Na costa de Tazacorte, também houve outra gerada pela erupção do vulcão de San Juan em 1949, cujo terreno se tornou um fértil campo para o cultivo de bananeiras, realçando-se neste exemplo o facto de ser “suscetível de cultura”. Todavia, esta fajã do Cumbre Vieja ainda está em crescimento e é instável, pelo que se pode quebrar antes de se solidificar em pleno.
A fajã lávica do Cumbre Vieja está a uma distância superior a 500 metros da linha de costa e já possui cerca de 36 hectares. Na passada noite, o vulcão viveu uma das suas noites mais “explosivas”, tendo expelido grandes quantidades de lava e piroclastos. Além disso, tendo em conta a atividade sísmica atual, com vários pequenos terramotos nas últimas 24 horas, os peritos admitem a possibilidade do surgimento de novas bocas magmáticas.