EUA: abandonam estação meteorológica porque pode cair ao mar

O serviço meteorológico oficial dos Estados Unidos, o National Weather Service (NWS) foi forçado a descontinuar uma estação e abandonar o local após a erosão costeira ter ameaçado destruí-lo. Permanecer no local tornou-se um perigo real. O ponto em questão está localizado no extremo sudeste do Cape Cod em Chatham (Massachusetts), e é um parapeito que se adentra para o Oceano Atlântico. Esteve em funcionamento até ao seu encerramento a 31 de março. Tinha sido localizado como um ponto de investigação em 1970.

Como noticiado pelo The Independent, as autoridades lançaram um último balão meteorológico a partir de Chatham antes de fecharem as suas portas, com a demolição prevista para este mês de abril. O avanço do mar tem sido inexorável nos últimos anos, e a erosão costeira pôs em risco a estação meteorológica.

Em declarações ao The Guardian, Andy Nash, o meteorologista responsável pela estação, disse: "Há algum tempo que sabemos que havia erosão, mas o ritmo da mesma apanhou-nos a todos de surpresa. Mais uma vez, temos aqui a prova de que a Mãe Natureza está no controlo". Até há pouco tempo, a estação meteorológica tinha um pára-choques de cerca de 30 metros de terra para um penhasco que caiu no oceano. Mas uma série de tempestades muito intensas em 2020 acelerou a erosão.

30 centímetros perdidos todas as semanas

Algumas das grandes tempestades do ano passado fizeram com que o penhasco perdesse mais de 2 metros de solo que suportava a falésia num único dia. Isto fez avançar todos os planos de evacuação. O nordeste dos Estados Unidos já teve várias depressões muito intensas. De facto, por estes dias desenvolveu-se um sistema de baixas pressões invernal em plena primavera com ventos intensos, chuva e neve em toda a área de Nova Inglaterra.

Nash disse que tinham pensado que tinham uma margem de mais 10 anos, mas nos últimos anos a deterioração foi muito marcada com uma perda em alguns casos de 30 centímetros por semana. Isso reduziu a escala de tempo de anos para meses. Sabiam que estavam a um par de tempestades de distância de um problema muito grande.

O parque de estacionamento situado junto à estação já tinha sido destruído pelo desmoronamento do terreno, e o edifício estava agora apenas a 9 metros da beira do precipício. Nash afirmou que o seu maior receio era que um investigador, enquanto observava um balão meteorológico a ser libertado, caísse inadvertidamente na beira e morresse. Felizmente, isso não aconteceu.

É uma amostra do que pode acontecer em toda a costa leste

A estação meteorológica foi criada em 1970, libertando inicialmente balões meteorológicos para medir a temperatura, os níveis de humidade e a velocidade do vento, bem como para operar um radar meteorológico, que foi posteriormente removido. A perda da estação não comprometerá a monitorização meteorológica global, mas deixará um vazio, uma vez que centros de investigação como o de Chatham estão espalhados por cerca de 300 quilómetros de distância ao longo da costa leste dos Estados Unidos.

Os processos naturais remodelaram o que é agora o Cape Cod ao longo dos milénios. Até há cerca de 11.000 anos atrás, uma massa de terra muito maior eclodiu no Atlântico, e a sua costa de areia e lama foi arrastada pelas marés. Também em diálogo com o The Guardian, Andrew Ashton, um cientista associado do Instituto Oceanográfico Woods Hole, sediado em Cape Cod, disse que embora o cabo esteja a mudar naturalmente há séculos, a subida do nível do mar e as tempestades mais fortes impulsionadas pela crise climática vão acelerar o ritmo da mudança.

"É um ambiente extremamente dinâmico, o que é obviamente um problema se forem construídas aqui infraestruturas permanentes", disse. "Estamos a pisar o acelerador para tornar o ambiente ainda mais dinâmico. O que aconteceu com a estação é um indício do que veremos ao longo de toda a costa. De certa forma, não estamos preparados para quão piores as coisas vão ficar com as alterações climáticas". Nash disse que uma nova estação meteorológica será instalada em Cape Cod, desta vez em terrenos mais elevados, mais afastados da costa.