Este cemitério sem corpos tornou-se um santuário do cinema
Quem diria que um cemitério sem corpos se tornaria lugar de peregrinação? Criado para o épico “O Bom, o Mau e o Vilão”, o cemitério Sad Hill, em Espanha, renasce como destino de culto para cinéfilos.
À primeira-vista, não parece ser nada de especial. Sim, as ruas de pedra e o mosteiro medieval parecem parados no tempo, mas como esta vila podem existir outras tantas. Porém, há algo de especial neste local — e o cemitério sem cadáveres é um deles.
Do que é que estamos a falar? De Santo Domingo de Silos, uma pequena vila na região de Burgos, Espanha, que encanta visitantes há séculos. Mais recentemente, contudo, tornou-se uma atração ainda mais concorrida.
O sol bate nas lápides e começa a trilha sonora. Três homens encaram-se e preparam as armas. A lente foca nos seus olhos e, então... um deles puxa o gatilho. E desta cena, lembra-se?
Dizer que foram esta fala ou cena de Clint Eastwood — também conhecido como pistoleiro sem nome no filme “O Bom, o Mau e o Vilão” — que tornaram Santo Domingos de Silos num local de peregrinação para entusiastas do cinema poderia ser errado, mas a verdade é que contribuíram para o seu sucesso.
Sim, porque, apesar de terem passado quase 60 anos desde a estreia do filme de Sergio Leone (1966), as cenas gravadas levam, hoje, milhares de turistas aos cenários que continuam a fazer parte da paisagem — principalmente ao cemitério sem cadáveres.
Um cemitério sem cadáveres? Sim, leu mesmo bem. Apesar do nome e das mais de 5000 sepulturas, o Cemitério Sad Hill não é um local convencional. Na verdade, nunca abrigou cadáveres. As lápides são todas fictícias e servem apenas para admiração dos fãs de cinema.
O renascer do Cemitério Sad Hill
Palco de uma das cenas mais icónicas do cinema, e com cerca de 300 metros de diâmetro, o cemitério foi criado de propósito para o filme pelo exército espanhol. Mas nem tudo foi um êxito. É que, apesar se ser um dos cenários mais famosos construídos propositadamente para um filme, o local da rodagem, situado a 225 quilómetros a norte de Madrid, fora abandonado e quase esquecido desde então.
“Tempo suficiente para a natureza reconquistar o território, cobrindo-o de ervas daninhas e arbustos, tornando-o anónimo a todos os que passam pela região”, lê-se no ‘SapoMag’.
Mas como toda boa lenda, o cemitério de Sad Hill renasceu. Em 2015, uma associação cultural iniciou, de forma voluntária, uma campanha para restaurar a extensa praça de pedra, que possui cinco mil sepulturas falsas, organizadas em círculos concêntricos.
O objetivo seria restaurar não só o cemitério, mas também um outro local próximo, que foi usado no filme como um campo de prisioneiros. Além disso, diversas associações organizaram outros eventos comemorativos pelo cinquentenário do longa de Leone, como competições de curtas-metragens e conferências sobre o género faroeste.
Desde então, este “cemitério sem cadáveres” atrai fãs de cinema do mundo inteiro, que fazem uma verdadeira peregrinação para ver o local onde o silêncio do faroeste foi interrompido por olhares tensos e uma trilha sonora inesquecível.
Agora este cemitério volta a estar nas bocas do mundo, mas por outro motivo: de ‘cara lavada’, este local faz parte de uma rota circular que passa por outros três locais onde o filme foi gravado.
Nova rota circular passa por quatro cenários de “O Bom, o Mau e o Vilão”
A informação foi avançada pelo “The Guardian”, que explicou que a Rota “O Bom, o Mau e o Vilão” tem 34 quilómetros de extensão e que liga o cemitério ao campo de prisioneiros de Betterville.
“O cenário reabriu ao público no passado dia 7 de setembro, após ter sido reconstruído com madeira proveniente de milhares de zimbros do Parque Natural Sabinares del Arlanza, que foi devastado por um incêndio em 2022”, escreve a revista ‘NiT.
"Além de um mapa online, o percurso possui marcadores com a silhueta de Eastwood, para facilitar a orientação", acrescenta a 'NiT'. O melhor é que visita a todos estes locais é gratuita.
Uma experiência única
Quem diria que um cemitério sem corpos se tornaria lugar de peregrinação? Num ambiente que mistura reverência e brincadeira, o cemitério sem cadáveres de Sad Hill é uma espécie de “terra santa” do cinema — um lugar onde a ficção virou realidade e, mais de meio século depois, continua a fazer história.
Já se está a imaginar caminhar entre as sepulturas e a tirar fotos no exato ponto onde Eastwood fez história? Se calhar até já está a fantasiar ser um protagonista num duelo épico, ao som de “The Ecstasy of Gold” de Ennio Morricone.
Aproveite a viagem para conhecer melhor a história desta pacata cidade. Não será difícil encontrar quem lhe conte. Afinal, Santo Domingo de Silos já está habituada a acolher peregrinos, pois faz parte do Caminho de Santiago e abriga um dos mosteiros mais famosos do país.
“O Mosteiro de Santo Domingo de Silos, fundado no século VII, ganhou notoriedade renovada em 1994, quando um álbum de canto gregoriano — que vendeu mais de quatro milhões de cópias em todo o mundo — financiou a sua restauração”, explica a revista ‘NiT’. Não perca a oportunidade de explorá-lo.