Estado das barragens em Portugal em novembro de 2024: desafios e oportunidades na gestão hídrica

As barragens em Portugal atingiram 72% da capacidade total em novembro de 2024, com melhorias regionais pontuais, mas desafios persistentes nas bacias do sul fazem antever medidas estruturais para 2025.

Barragens Portugal Continental
Estado das barragens em Portugal Continental revela um ligeiro aumento do armazenamento no final de novembro, cifrando-se em 72% da capacidade máxima.

O estado das barragens em Portugal no final de novembro de 2024 apresenta um panorama de contrastes, evidenciando tanto avanços como desafios na gestão dos recursos hídricos. Dados divulgados pelo Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH) mostram que, apesar de uma ligeira recuperação em algumas bacias hidrográficas, outras permanecem em situações críticas, refletindo a vulnerabilidade do país às alterações climáticas e à distribuição desigual da precipitação.

Situação geral e dados relevantes

Na última semana, o volume total de água armazenado nas barragens nacionais aumentou 77 hm³ entre 18 e 25 de novembro, situando-se em 9556 hm³, ou seja, 72% da capacidade total. Apesar de os níveis médios continuarem acima dos registos históricos para novembro, algumas regiões destacam-se negativamente.

15% das albufeiras apresentam níveis inferiores a 40% da sua capacidade, com particular preocupação nas bacias do Lima (52,4%), Mira (37,0%), Arade (30,7%), Ribeiras do Barlavento (12,6%) e Ribeiras do Sotavento (44,5%). Em contraste, 34% das barragens monitorizadas possuem níveis superiores a 80% da sua capacidade.

variação albufeiras
Dados do último relatório do mês de novembro demonstra um volume armazenado de 72%, o que representa uma variação positiva de 0,58% entre 18 e 25 de novembro.

A barragem de Monte da Rocha, na bacia do Sado, regista apenas 12% de capacidade preenchida, enquanto a barragem de Bravura, no Barlavento, apresenta um nível de 13%. Por outro lado, a barragem de Serra Serrada, na bacia do Douro, atingiu a sua capacidade máxima (100%), destacando-se como excecionalmente positiva.

Impacte das chuvas recentes no Algarve e disparidades regionais

As chuvas intensas ocorridas em novembro trouxeram algum alívio ao Algarve, uma das regiões mais afetadas pela seca extrema. As barragens da região registaram um aumento significativo nos níveis de armazenamento, atingindo uma capacidade média de 34%. Apesar desta recuperação, os níveis permanecem abaixo do necessário para garantir a segurança hídrica a longo prazo, especialmente numa região que depende fortemente da água para o abastecimento público, agricultura e turismo.

As barragens de Odeleite e Beliche beneficiaram das chuvas, mas continuam longe da capacidade plena. Os especialistas alertam para a necessidade de medidas estruturais, como a reutilização de águas residuais tratadas, construção de novas infraestruturas de armazenamento e campanhas de sensibilização para o uso eficiente da água.

As diferenças regionais no armazenamento hídrico são evidentes. Entre os dias 18 e 25 de novembro, oito bacias hidrográficas registaram aumento nos volumes armazenados, enquanto sete apresentaram diminuição. As bacias do Douro e do Tejo registaram níveis superiores à média histórica, contribuindo para um cenário mais equilibrado no norte e centro do país. Em contraste, as bacias do sul, como o Arade e as Ribeiras do Sotavento, enfrentam sérias dificuldades.

A monitorização revela que as bacias do Lima, Ave, Mira, Arade e Ribeiras do Barlavento apresentam armazenamentos inferiores à média histórica de novembro (1990/91 a 2023/24). Este cenário reflete condições meteorológicas desiguais e padrões de precipitação irregulares, típicos das alterações climáticas.

Gestão hídrica: desafios e soluções

A situação atual das barragens em Portugal sublinha a necessidade urgente de melhorar a gestão dos recursos hídricos. Estima-se que, dos 56 mil milhões de m3 de água disponíveis anualmente, 53 mil milhões escoam diretamente para o mar sem aproveitamento significativo.

Este desperdício representa um potencial subaproveitado que poderia ser gerido de forma mais eficaz para assegurar a sustentabilidade de várias atividades económicas, com especial enfoque na agricultura.

A modernização do regadio surge como uma prioridade estratégica. Atualmente, apenas 16% da superfície agrícola utilizável está equipada para beneficiar de sistemas de rega, enquanto 60% da produção agrícola depende do regadio.

O modelo de gestão do Alqueva continua a ser apontado como exemplo de sucesso, com uma abordagem multifuncional que combina abastecimento urbano, agricultura e produção energética. Esta barragem contribui para a resiliência hídrica no sul do país. Outras regiões poderiam beneficiar de estratégias semelhantes, adaptadas às suas especificidades.

O Governo anunciou recentemente a construção de três novas barragens e intervenções em infraestruturas existentes para mitigar os efeitos de cheias e secas.

A monitorização contínua será essencial nos próximos meses, especialmente no início de 2025, quando o consumo hídrico atinge o seu pico sazonal.

Apesar de Portugal dispor de recursos hídricos per capita acima da média europeia, a má gestão continua a ser um entrave à sustentabilidade. Estratégias integradas que combinem modernização das infraestruturas, eficiência no uso da água e práticas ambientalmente responsáveis serão cruciais para enfrentar os desafios futuros e assegurar a resiliência das comunidades face às alterações climáticas.