Estado das barragens em Portugal Continental no final de janeiro de 2025. Precipitação melhora níveis de armazenamento
No final de janeiro de 2025, o volume de água armazenado nas albufeiras de Portugal Continental registou um aumento significativo, impulsionado pela precipitação intensa que ocorreu ao longo do mês.
Dados divulgados pelo Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH) indicam que 14 bacias hidrográficas apresentaram um crescimento nos níveis de armazenamento, enquanto apenas uma registou uma diminuição. O balanço global revela que 51% das albufeiras monitorizadas possuem disponibilidades superiores a 80% do volume total, enquanto 10% continuam com níveis inferiores a 40%.
Aumento significativo no armazenamento de água na última semana
A precipitação intensa que marcou o mês de janeiro, sobretudo na última semana, refletiu-se de forma expressiva nos níveis de armazenamento das barragens portuguesas. Comparando com os valores médios de janeiro no período de referência (1990/91 a 2023/24), as reservas de água estão, em geral, acima da média, excetuando-se as bacias hidrográficas do Mondego, Sado, Mira, Arade e Ribeiras do Barlavento, que continuam a apresentar valores abaixo dos esperados para esta época do ano.
O Algarve, região historicamente mais afetada pela seca, beneficiou de um aumento substancial nas reservas hídricas devido a três dias consecutivos de chuva intensa. O volume de água armazenado nas seis principais barragens da região subiu para 46% da capacidade total, representando um acréscimo de 85 hectómetros cúbicos (hm³) em comparação com o mesmo período de 2024. A barragem de Odeleite foi a que registou a maior recuperação, atingindo 71% da sua capacidade, um aumento de 32,39 hm³. A barragem de Beliche subiu para 58% da sua capacidade, enquanto o Funcho chegou a 42% e Odelouca a 35%.
No entanto, nem todas as albufeiras algarvias conseguiram uma recuperação expressiva. As barragens de Arade e Bravura permanecem em níveis críticos, com apenas 17% e 14% da sua capacidade total, respetivamente. O volume armazenado no Arade aumentou apenas 0,15 hm³, enquanto na Bravura a subida foi de 0,34 hm³, valores insuficientes para alterar a situação de escassez na região do Barlavento Algarvio.
Situação das principais bacias hidrográficas
Em termos nacionais, os dados indicam que o armazenamento de água melhorou consideravelmente na maioria das bacias hidrográficas. O Tejo, a maior bacia hidrográfica do país, apresenta níveis superiores a 85% da capacidade total das suas albufeiras, garantindo reservas para abastecimento urbano e agrícola. No Douro, os níveis também são positivos, com algumas barragens a ultrapassarem os 90% da sua capacidade.
A bacia do Guadiana registou um aumento expressivo devido à precipitação e à captação de água do Alqueva, consolidando-se como uma das principais reservas estratégicas para o abastecimento do sul do país. A barragem de Alqueva, em particular, mantém-se acima dos 80% da sua capacidade total, um fator determinante para a segurança hídrica do Alentejo.
Já as bacias do Mondego, Sado, Mira e Ribeiras do Barlavento continuam abaixo das médias históricas. No Mondego, a escassez de precipitação nas cabeceiras comprometeu a recuperação plena das albufeiras, colocando em risco o abastecimento agrícola para os próximos meses. A bacia do Sado mantém níveis baixos, agravando as preocupações com a gestão hídrica na região do Alentejo Litoral.
Perspetivas para os próximos meses
Apesar da melhoria generalizada no armazenamento de água, as autoridades alertam para a necessidade de manter uma gestão cuidadosa dos recursos hídricos, especialmente nas regiões que continuam em situação de escassez. A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) destaca que, apesar do aumento registado em janeiro, algumas bacias hidrográficas continuam vulneráveis a um eventual período de seca prolongado.
Além disso, a proposta de captação de água do Guadiana no Pomarão e a ligação do sistema de Alqueva às barragens de Beliche e Odeleite continuam a ser defendidas como soluções estruturais para a gestão hídrica do sul do país.
A APA prevê que as escorrências das 59 ribeiras algarvias continuem a contribuir para o aumento do volume armazenado nas próximas semanas. Além disso, a continuidade da precipitação em fevereiro poderá reforçar ainda mais as reservas hídricas, permitindo uma maior estabilidade para os meses de primavera e verão.
No que respeita aos aquíferos subterrâneos, os dados piezométricos indicam alguma estabilização, mas em setores como o ocidental do aquífero Querença-Silves, a situação ainda é preocupante. Algumas áreas continuam a registar níveis historicamente baixos, com risco de contaminação por intrusão salina.
Facto é que o final de janeiro de 2025 trouxe uma melhoria considerável no armazenamento das barragens portuguesas, resultado das chuvas intensas que marcaram o mês.