Estado das barragens em Portugal após tempestades de outubro: volume de água aumentou, mas ainda não o suficiente

Após as recentes tempestades, o panorama das barragens em Portugal revela um acréscimo no volume de água armazenada, embora a situação continue a representar um desafio para o abastecimento hídrico no país.

barragens; outubro
Barragens revelam um acréscimo no volume armazenado, mas permanece situação crítica a sul do país.

Após as intensas chuvas desencadeadas pelas tempestades Babet, Aline, Bernard e Celine, constatou-se um aumento de 338 hectómetros cúbicos de água nas albufeiras nacionais, entre os dias 23 e 30 de outubro. Contudo, as regiões do Sul do país testemunharam um impacte mínimo.

Chuvas intensas favorecem o norte, mas o sul permanece perante crise de escassez hídrica

De acordo com o boletim de armazenamento da semana de 23 a 30 de outubro, do SNIRH - Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos, as chuvas intensas favoreceram principalmente as regiões a norte do Tejo, onde a precipitação é historicamente mais destacada.

No entanto, o Sul e particularmente, a Sudoeste do país, viram as suas expectativas goradas, uma vez que as tempestades não contribuíram significativamente para o aumento do nível de água nas albufeiras, deixando apenas um rasto de danos significativos.

A 30 de outubro de 2023 e comparativamente à semana de 23 de outubro de 2023, verificou-se o aumento do volume armazenado em 13 bacias hidrográficas e a diminuição em 2. De momento, 43% das barragens monitorizadas apresentam disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total, enquanto 22% estão com disponibilidades inferiores a 40% da capacidade máxima de armazenamento.

Comparativamente às médias de armazenamento de outubro para o período de 1990 - 2022, a situação é desfavorável em várias bacias hidrográficas, designadamente nas bacias do Sado (27,8%), nas Ribeiras Costa Alentejo (41,5%), em Mira (31,0%), no Arade (25,5%), nas Ribeiras do Barlavento (7,6%) e nas Ribeiras do Sotavento (28,3%).

SNIRH; barragens
Em finais de outubro, os níveis de armazenamento demonstram uma ligeira recuperação. Fonte: adaptado do Relatório do SNIRH, de 30 de outubro.

Especificamente nas 27 barragens das bacias do Sado, Guadiana, Arade, Barlavento e Sotavento algarvio, apenas seis possuem reservas de água acima de 50%. Algumas barragens, como Monte da Rocha, Vigia, Arade e Bravura, permanecem em situação crítica, indiciando níveis de armazenamento inalterados e preocupantes.

Por exemplo, uma das barragens, em Mira, vital para o abastecimento de água para irrigação, não aumenta o seu volume de armazenamento dos 31%, causando alguns transtornos à produção agrícola na região.

Apesar do acréscimo de 338 hm³ entre os dias 23 e 30 de outubro, o que representa um aumento de 2,6% na cota global das barragens públicas portuguesas, é evidente que as tempestades não foram suficientes para reverter a situação crítica de escassez de água em muitas regiões, designadamente a sul do país.

Perspetivas de recarga hídrica durante o mês de novembro

A expectativa é que as águas provenientes da saturação dos solos e a possível recarga de aquíferos subterrâneos resultem em maiores escorrências para as linhas de água, contribuindo para o aumento das reservas nas albufeiras nos próximos dias. No entanto, a avaliação precisa do nível de armazenamento total só será possível ao longo das próximas semanas, até porque a situação do estado do tempo com chuva permanecerá nos próximos dias.

As últimas semanas têm sido marcadas por uma sucessão de frentes que trouxeram chuvas abundantes ao Norte e Centro de Portugal continental, resultando em inundações e cheias de rios, principalmente no Noroeste (Minho, Douro Litoral, Região de Aveiro, e distritos de Vila Real e Viseu).

No entanto, embora os primeiros dias de novembro sejam pautados por uma sucessão de frentes, as previsões dos nossos modelos sugerem uma possível mudança no padrão meteorológico. As próximas semanas podem apresentar um quadro distinto em termos de precipitação, indiciando a possibilidade de valores próximos à média mensal ou até mesmo com anomalias negativas em algumas regiões, especialmente do Tejo para Sul. Esta perspetiva levanta a possibilidade do retorno de tempo seco.