Estado das barragens em janeiro de 2024. As chuvas recentes não resolvem a escassez hídrica em Portugal

As recentes chuvas trouxeram alguma esperança, mas não foram suficientes para resolver a crise hídrica que assola há largos meses o território nacional. Com reservas ainda abaixo dos níveis de 2023 e a intensificação da seca meteorológica, a dependência de recursos, como na barragem de Alqueva, cresce, enquanto os agricultores e as autoridades procuram soluções para garantir o abastecimento de água.

Análise das reservas hídricas em Portugal. Como foi o mês de janeiro?

Diante estas variações nos níveis de água das bacias hidrográficas, o panorama das reservas hídricas em Portugal revela um quadro complexo. Perante o aumento do volume armazenado em oito bacias e a diminuição em sete, pode verificar-se uma realidade diversificada quanto à distribuição das disponibilidades hídricas nas albufeiras. Em 56% delas, apresentaram-se volumes superiores a 80% do total, enquanto 15% registaram disponibilidades inferiores a 40%.

Apesar do aumento generalizado nos armazenamentos em finais de janeiro de 2024 em comparação com as médias históricas para o mesmo mês, o relatório apresentado pelo Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH) patenteia que algumas bacias, como Sado (55,2%), Mira (32,3%), Arade (28,1%), Ribeiras do Barlavento (9,4%) e Ribeiras do Sotavento (37,1%), permanecem abaixo destes padrões, patenteando os desafios contínuos na gestão dos recursos hídricos.

Esta dinâmica complexa reflete a interseção de fatores climáticos e de gestão, destacando-se a necessidade de abordagens adaptativas e sustentáveis para lidar com a escassez de água.

Crise hídrica que persiste: desafios e estratégias em Portugal, mas também em Espanha

Vamos a mais detalhes. Apesar das chuvas intensas que atingiram Portugal nas últimas semanas, a situação das reservas hídricas ainda preocupa, com um défice de 527 hm³ em comparação com o mesmo período de 2023. As barragens do Sul registaram, no mês de janeiro, um aumento nas reservas de água, porém, metade das reservas permanecem abaixo dos 50%, com algumas em estado crítico, como os casos de Campilhas, Monte da Rocha, Arade e Bravura.

O destaque vai para a barragem de Alqueva, que, apesar de contribuir significativamente para minimizar os efeitos da seca, ainda não alcançou os níveis do ano anterior. Aqui ao lado, em Espanha, enfrenta-se uma situação crítica, especialmente na região de Huelva, onde a escassez de água ameaça as culturas de frutos vermelhos e hortícolas.

A dependência de Alqueva como fonte alternativa de água está a tornar-se cada vez mais preocupante, com apelos para que o governo espanhol procure ajuda de Portugal. Em resposta, estão a ser planeadas medidas para suprir as necessidades de água no Algarve e noutras regiões portuguesas, destacando-se a importância de uma gestão mais integrada dos recursos hídricos diante das previsões de continuidade da seca nos inícios de 2024.

A intensa procura de água a partir de Alqueva levanta já várias preocupações, havendo alertas sobre a possibilidade da situação se tornar recorrente. Com o país a lidar com temperaturas primaveris precoces e a evapotranspiração a contribuir para a perda de água, a incerteza mantém-se sobre o futuro das reservas hídricas.

Península Ibérica enfrenta desafios perante a escassez de água e as alterações climáticas

Portugal e Espanha enfrentam, de facto, desafios perante a escassez de água e das alterações climáticas, resta esperar pelo tempo dos próximos meses e torcer para que se cumpra o provérbio antigo que nos diz que em Abril chegam as prometidas águas mil.

Referência da notícia:
APA (2024). Boletim semanal de albufeiras. Disponibilidades hídricas a 29 de janeiro de 2024. Lisboa: Agência Portuguesa do Ambiente - Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH). https://apambiente.pt/sites/default/files/_SNIAMB_Agua/DRH/MonitorizacaoAvaliacao/BoletimAlbufeiras/Semanal.pdf