Esta vila portuguesa está a impressionar curiosos de todo o mundo que acreditam em milagres

Não é só Vila Nova de Cerveira ou Óbidos que brilham na imprensa internacional. Depois de a vila que fica a 50 minutos de Vigo ter sido descrita como uma “joia medieval” e uma das vilas “mais maravilhosas de Portugal”, e de Óbidos ser descrita como a vila portuguesa que parece “ter saído de um conto de fadas”, foi a vez de Marvão brilhar.

“Vilas assustadoramente belas, fontes termais, praias intocadas, castelos de contos de fadas... Portugal tem muito mais a oferecer do que a agitação do Algarve”, começa por escrever o ‘The Guardian’, numa publicação que fala sobre ‘Portugal escondido: onde ficar e o que fazer fora dos circuitos habituais’.

“Os turistas que conduzem para o sul, para o Algarve, ou para o leste, para a fronteira espanhola, podem pensar no Alentejo (que significa "além do rio Tejo") como uma extensão infinita de sobreiros e oliveiras que leva uma eternidade para atravessar. Mas, no seu canto nordeste, perto da fronteira espanhola, a Serra de São Mamede é uma cadeia de montanhas que desafia esta ideia do Alentejo (pode até haver neve no inverno).

Algumas das cidades desta cadeia têm cenários de tirar o fôlego, particularmente Marvão, uma serena e histórica vila medieval dramaticamente situada a 862 metros de altura num penhasco de granito”, escrevem.

Com ruas estreitas, casas caiadas de branco e um castelo “formidável”, Marvão oferece vistas das planícies do Alentejo e das montanhas para a Espanha. Sim, é isso mesmo. Quem sobe ao topo das muralhas do Castelo, vê o horizonte a perder de vista, com o Parque Natural da Serra de São Mamede aos pés, e, em dias de céu limpo, há quem diga que é até possível ver até Espanha.

O que fazer em Marvão

Escondida no alto de uma serra no Alentejo, Marvão fica tão no cimo, que parece que é possível tocar nas nuvens. Não nos surpreende saber, portanto, que daqui se tem uma das vistas mais espetaculares de Portugal. E o melhor é que é um refúgio da tranquilidade. Esqueça lá as multidões e as confusões.

Logo ao chegar a Marvão, terá a sensação de entrar noutra época. E se o Castelo, com as suas torres e muralhas bem preservadas, é considerado um dos pontos a não perder, as próprias ruas são repletas de pequenos encantos.

Pelo caminho, encontrará pequenas lojas de artesanato e restaurantes onde o Alentejo se mostra no seu melhor. O ensopado de borrego ou as migas alentejanas são “de comer e chorar por mais”!

E, claro, quem visita esta aldeia tem de dar um salto à Igreja de Santa Maria, que hoje alberga um museu. Aqui, vai descobrir um pouco mais sobre a rica história da vila e a sua importância estratégica ao longo dos tempos. Afinal, Marvão já foi um ponto de defesa crucial na fronteira com Espanha.

“E não há melhor maneira de absorver esta atmosfera do que através de uma das duas rotas cénicas oferecidas pela Rail Bike Marvão (a partir de 20€), ao longo de uma linha ferroviária desativada. Entre junho e setembro, a empresa organiza passeios noturnos ‘à luz da lua cheia’ três vezes por mês (35€ incluindo bebidas, petiscos e música ao vivo). Os visitantes utilizam bicicletas ferroviárias personalizadas, movidas a pedal por duas pessoas, para serpentear pelos megálitos no deslumbrante Parque Natural da Serra de São Mamede, com vistas sobre Marvão e Castelo de Vide.”

O ‘The Guardian’ sugere ainda, para estadia, o Gavião Nature Village, um projeto com glamping, tendas, restaurante e centro Wellness; e a Pousada Mosteiro do Crato, um mosteiro do século XIV convertido, em Flor da Rosa, “com uma piscina que impressiona”.

Uma lenda que fala em milagre

“Esta vila portuguesa chegou a ser incluída no livro 1.000 Lugares Para Ver Antes de Morrer, mas não é apenas conhecida pelo cenário idílico ou pelo seu castelo medieval. Esta vila fortificada é o destino perfeito para os amantes da história e para aqueles que acreditam em milagres”, lê-se na revista ‘Versa’.

Conta a lenda que o rei mouro Ibn Marwan, que terá fundado a fortaleza no século IX e que dá nome à vila, escolheu este local pela sua posição estratégica, por oferecer uma vista privilegiada e proteção natural, tornando-o quase indestrutível. “Mas é o lado místico e religioso que nos fala de um milagre.”

“A crença popular diz que, durante a conquista cristã, os habitantes de Marvão esconderam uma imagem sagrada da Virgem Maria para se protegerem dos invasores. Mais tarde, essa imagem teria sido milagrosamente revelada dentro de uma caverna iluminada por uma estrela, dando origem ao culto de Nossa Senhora da Estrela, padroeira da aldeia.”

Outra história garante que, há muitos séculos, quando a região estava constantemente a ser disputada entre mouros e cristãos, Marvão vivia dias de grande tensão. A vila, empoleirada lá no alto da Serra de São Mamede, com as suas muralhas a vigiar o horizonte, era uma fortaleza estratégica. Só que, num dado momento, os mantimentos começaram a faltar e a aldeia ficou cercada, sem possibilidade de fuga ou de receber ajuda.

Os habitantes, desesperados e com os alimentos a escassear, estavam à beira de se renderem. Mas foi aí que o improvável aconteceu. Conta-se que, numa noite de desespero, uma mulher idosa, conhecida pelas suas rezas fervorosas, subiu ao topo das muralhas e lançou uma oração à Virgem Maria, pedindo um milagre. E não é que o milagre veio mesmo?

Na manhã seguinte, quando o sol começou a espreitar por entre as montanhas, um nevoeiro espesso cobriu toda a aldeia. Os inimigos, confusos com o nevoeiro repentino, acharam que algo sobrenatural se passava e, dominados pelo medo, decidiram retirar-se. E assim, graças à intervenção divina (e à ajuda de um bom nevoeiro), Marvão foi salva. Desde então, os habitantes de Marvão consideram este evento como o "Milagre de Marvão".

Sejam verdade ou apenas boas histórias para contar nas noites frias da serra, uma coisa é certa: Marvão continua firme, no topo da sua montanha, com uma aura de mistério e encantamento que faz qualquer um acreditar em milagres.