Esta vila fantasma está congelada no tempo há mais de 100 anos

No sudoeste da Turquia, Kayaköy ergue-se como uma cápsula do passado. Abandonada há mais de um século, oferece uma visão rara, com ruas silenciosas e edifícios em ruínas que servem como um poderoso testemunho das vidas que ali foram vividas.

Kayaköy
Um cenário melancólico e nostálgico. Foto: goturkiye.com

Aqui há uma escola, ruas estreitas, e até uma fonte no meio da vila. Há igrejas, um cenário digno de cartão-postal com o Mar Egeu, mas não há pessoas. Pelo menos, assim o é há 100 anos.

Imagine uma vila onde o vento sussurra segredos de um passado distante, onde cada pedra carrega as memórias de uma vida interrompida. Este é o quadro de Kayaköy, um lugar onde o tempo parece ter feito uma pausa, deixando para trás apenas o eco das vozes que um dia preencheram as suas ruas.

Esta é uma verdadeira vila fantasma. Localizada na província de Muğla, no sudoeste da Turquia, abandonada pelos seus antigos moradores e assombrada pelo passado, Kayaköy ficou congelada no tempo — e serve hoje como uma espécie de lembrete físico dos tempos sombrios da história do país.

Um portal para o passado

Visitar Kayaköy sem conhecer a sua história pode deixar a viagem um pouco inacabada. Conhecer o passado ao chegar a este destino fará com que se sinta muito mais do que apenas a ver um pedaço de rocha. Afinal, cada pedra em que tocar mostrará as memórias que vivem na narrativa.

É que, entre as ruínas silenciosas e as colinas abraçadas pelo verde, a história não está enterrada em livros, mas gravada nas paredes de pedra, esperando para ser redescoberta por aqueles que ousam escutar.

Kayaköy não é apenas uma vila fantasma; é um portal para um passado que se recusa a desaparecer.

Há pouco mais de um século, Kayaköy, ou Levissi como era conhecida, era um local movimentado com pelo menos 10.000 cristãos ortodoxos gregos, muitos dos quais eram artesãos que viviam pacificamente ao lado de agricultores turcos muçulmanos da região”, começa por explicar Barry Neild, num artigo publicado pela ‘CNN’.

Tudo dava a entender que Kayaköy era uma comunidade próspera. Contudo, na agitação em torno do surgimento da Turquia como uma república independente, a narrativa da vila sofreu uma reviravolta gigante.

Kayaköy
A prosperidade deu lugar ao abandono. Foto: Barry Neild/CNN

No rescaldo da 1.ª Guerra Mundial, a Grécia pretendia ocupar partes do Império Otomano, mas os revolucionários do Movimento Nacional Turco, liderados por Kamal Ataturk, conseguiram vencer nas três frentes. “Com esta vitória, forçaram a comunidade internacional a reconhecer a República Turca, tendo sido assinado o Tratado de Lausanne, que não apenas reconhece a nova república, como o seu controlo sobre a Anatólia, disputada com a Grécia”, lê-se no site 'Portugal de lés a lés'.

As tensões, em 1922, levaram ambos os países a expulsar pessoas com laços um com o outro. Para Kayaköy, isso significou uma troca forçada de população com turcos muçulmanos que viviam em Kavala, na atual região grega da Macedónia e Trácia.

Porém, os muçulmanos recém-chegados não se adaptaram ao novo lar, e rapidamente partiram de Kayaköy, deixando a terra em ruínas.

O povo grego chorou porque não queria ir embora, contaram-me os meus avós”, diz Aysun Ekiz (citada pela ‘CNN’), cuja família hoje administra um pequeno restaurante perto da entrada principal de Kayaköy, que serve os turistas que vêm conhecer a cidade. “Alguns até deixaram os seus filhos para trás para serem cuidados por amigos turcos porque achavam que voltariam. Mas nunca voltaram.”

Segundo a vendedora de joias artesanais, quem se mudou para a vila não gostava de ali viver porque as paredes das casas eram pintadas de azul, supostamente para afastar escorpiões ou cobras.

Kayaköy
Uma história que deve conhecer. Foto: goturkiye.com

Fragmentos dessa cor azul ainda podem ser vistos nas paredes sobreviventes das cerca de 2.500 casas que compõem Kayaköy, embora poucos outros toques decorativos permaneçam após décadas deixadas aos elementos. O que sobrou ainda vale a pena explorar como um instantâneo de um antigo modo de vida à beira da era moderna”, garante a plataforma de notícias.

Sim, porque, sem ter quem cuidasse delas, as construções foram-se desintegrando ao longo dos anos. “Houve terramotos, houve tempestades. O clima, o tempo, as tempestades de chuva... tudo impactou este lugar interessante”, explica Jane Akatay, coautora de “A Guide to Kayaköy”.

Hoje, quem ali entra é presenteado com encostas pontilhadas por inúmeros prédios em ruínas que são lentamente engolidos pela vegetação, e com vistas infinitas de vidas desaparecidas. Mas não se deixe enganar: este é um lugar fascinante e extremamente bonito para se visitar.

Como lá chegar

Kayaköy é uma vila na parte noroeste do Parque Natural de Ölüdeniz. Para conhecer este destino, deve primeiro chegar ao distrito de Fethiye, em Muğla.“Fethiye é um lugar maravilhoso para ver e passar o tempo”, garante o site ‘Go Turkiye’.

O miniautocarro que sai de Ölüdeniz Hisarönü pode levá-lo a Kayaköy. De carro, a viagem dura cerca de 8 minutos.

Uma vez lá, os visitantes têm de pagar uma taxa de três euros num pequeno quiosque na estrada principal antes de entrar efetivamente em Kayaköy. Depois, podem passear a pé subindo e descendo as ruas e becos, às vezes íngremes e irregulares.

Kayaköy
As construções foram alvos do passar dos anos. Foto: portugaldelesales.pt

Vale a pena reservar algumas horas para aproveitar tudo. Com poucos visitantes, além de grupos de turistas ocasionais durante os períodos de pico, é fácil encontrar um tempo sozinho aqui, imaginando como a vida antigamente era agitada, principalmente na praça da cidade velha, onde os homens locais se reuniam para tomar chá e trocar histórias.”

A maioria das casas, que foram construídas no século anterior ao abandono, perderam os telhados. Nas paredes desmoronadas brota agora vegetação.

Durante o verão, pode visitar Kayaköy todos os dias da semana entre 09:00 h e 20:00 horas. Já no inverno, o horário muda para as 8:00 h às 17:00 h. Ainda assim, sugerimos que confirme sempre os horários antes da sua visita, já que estes podem mudar, especialmente em feriados ou devido a condições climáticas.