Esquecer-se das suas chaves é normal, mas algumas técnicas podem ajudar, partilham os psicólogos

Num novo livro, os psicólogos desafiam as ideias erradas de que lembrar-se de coisas a toda a hora, como onde estão as chaves, não é assim tão fácil para o cérebro. No entanto, a recordação pode ser melhorada com alguns exercícios. Descubra-os aqui!

É "humano" esquecer-se de coisas quotidianas como as chaves. Mas porquê?
É "humano" esquecer-se de coisas quotidianas como as chaves. Mas porquê?

A memória humana tem sido um tema misterioso no campo da psicologia desde o seu início. Um novo livro esclarece os aspetos menos compreendidos da memória, com algumas conclusões otimistas: qualquer pessoa pode melhorar a sua memória.

Além disso, perder as suas chaves nem sempre é um sinal de problemas mentais, mas é até normal que as pessoas se esqueçam e percam as suas chaves, dizem as autoras, Prof. Megan Sumeracki do Rhode Island College e a Dra. Althea Need Kaminske da Indiana University School of Medicine.

A psicologia da memória

O seu livro, intitulado The Psychology of Memory, apresenta técnicas que podem ser utilizadas para melhorar a memorização e a recordação. Alguns dos exercícios descritos podem ajudar a recordar os nomes das pessoas, bem como os números, que são ambas capacidades úteis, uma vez que o mundo está mais digitalizado e ligado do que nunca nesta era moderna.

A Dra. Kaminske escreveu: "Por exemplo, passo uma quantidade embaraçosa de tempo à procura do meu telemóvel, da minha garrafa de água e das minhas chaves. Talvez não fique surpreendido ao saber que os nossos sistemas de memória não foram necessariamente concebidos para se lembrarem de onde colocámos os nossos telemóveis. Ou chaves. Ou garrafas de água".

A Dr. Kaminske supõe que, num cenário de sobrevivência, pode ser mais provável que nos lembremos de certas coisas essenciais para a nossa sobrevivência, como uma garrafa de água se estivermos no meio do deserto. Hoje em dia, talvez sejamos um pouco complacentes com as nossas vidas e rotinas diárias

Além disso, o facto de termos de estar sempre a lembrar-nos de certas coisas pode ser mais desgastante para o cérebro do que esperamos. Os autores sugerem que armazenar e recuperar informações é mais complicado do que as pessoas geralmente acreditam. Além disso, embora a capacidade de memória fotográfica seja frequentemente retratada nos meios de comunicação social, como os filmes, é extremamente rara.

Como visualizar o funcionamento da memória?

Nem todos podemos ser perfeitos e também não podemos esperar que a nossa memória o seja. Segundo os autores, um certo grau de esquecimento específico é completamente normal, pois permite ao cérebro absorver e processar informações mais gerais.

Um certo grau de esquecimento é completamente normal, uma vez que a memória humana não é infalível e funciona de uma forma complexa.

A memória no cérebro funciona de uma forma diferente e previsível da forma como um dispositivo de gravação funcionaria, simplesmente absorvendo a informação de forma linear. A memória funciona mais como uma página da Wikipédia com partes que podem ser alteradas, dizem os psicólogos.

Compreender a memória pode ajudar as pessoas vulneráveis

Os psicólogos lançaram este livro com o objetivo de sensibilizar para o funcionamento real da memória. Este facto pode ter impacto na vida das pessoas, uma vez que é importante para todos os seres humanos.

A memória humana funciona de uma forma mais intrigante do que normalmente se pensa.
A memória humana funciona de uma forma mais intrigante do que normalmente se pensa.

Este pode ser particularmente o caso de pessoas vulneráveis ou em situações de risco. Os jurados instruídos sobre a falibilidade da memória podem ajudá-los a ter mais consideração por condenados potencialmente inocentes, que podem ter continuado a ser visados e responsabilizados por crimes devido à sua fraca e irregular memória dos acontecimentos.

O livro partilha a ciência subjacente aos diferentes processos de memória, como a memória de curto e longo prazo e as suas funções. Com base em conhecimentos científicos, desafiam a noção de que a memória não é apenas um "registo linear" de acontecimentos passados, mas mais complexa do que isso, como uma teia maleável.

Dicas para reforçar a recordação e a memória

Isto não quer dizer que não seja possível recordar acontecimentos passados, ou reforçar essa capacidade através da prática intencional. A recordação baseada em acontecimentos pode ser melhorada através da colocação de pistas. Isto pode ser, por exemplo, colocar as chaves ao lado da chaleira, se perder sempre as chaves de manhã, mas sabe que tem o hábito de ferver a chaleira todas as manhãs.

Outra dica útil é aumentar a memória a longo prazo através da "prática de recuperação". Para se lembrar do nome de um novo colega, diga o seu nome sempre que o vir no trabalho. Isto ajuda a gravar a memória do seu nome e o novo hábito.

"Qualquer pessoa que tenha estudado sabe que a prática regular é essencial. Mas para se tornar um especialista numa área de aprendizagem, as pessoas precisam de empregar a prática deliberada. A diferença é que a prática deliberada envolve uma atenção intencional e deliberada, enquanto a prática regular envolve apenas a repetição", explicam os autores.

O xadrez é uma ótima maneira de exercitar a mente de novas formas.
O xadrez é uma ótima maneira de exercitar a mente de novas formas.

Uma forma de praticar a criação de novas vias de informação no cérebro é jogar xadrez, uma vez que fornece uma referência visual à qual associar informação e, na verdade, retira pressão das exigências da memória de trabalho.

Os jogadores de xadrez, quer sejam principiantes ou campeões, lembram-se da localização das peças de xadrez para armazenar e recordar informações complicadas. Estas técnicas visuais, ou outros métodos de associação, podem ajudar a treinar a memória da maioria das pessoas.

Referência da notícia:

The Psychology of Memory, by Megan Sumeracki, Althea Need Kaminske (Routledge 2024). ISBN: Paperback: 9781032488639 | Hardback 9781032488646 | eBook 9781003391166. DOI: https://doi.org/10.4324/9781003391166