Especialistas questionam a existência de ‘oxigénio escuro’ descoberto há alguns meses no fundo do mar
O oxigénio escuro no fundo do oceano pode ser gerado de forma autónoma? Um grupo de investigadores esclarece o assunto, embora haja opiniões conflitantes entre os especialistas.
Quando falamos de oxigénio, a primeira coisa que geralmente pensamos é na atmosfera. Mas a verdade é que ele também está presente em outros elementos, como o oceano. Ele pode ser produzido de forma autónoma no fundo do mar? Um estudo publicado na revista Nature Geoscience teoriza sobre este tipo de oxigénio, que chamam de ‘oxigénio escuro’, e afirma que é possível.
Como é produzido o 'oxigénio escuro' no oceano?
A investigação, liderada por Andrew Sweetman, da Scottish Association for Marine Science, sugere que certos nódulos metálicos no fundo do mar podem estar a produzir oxigénio de forma autónoma.
Segundo os investigadores, os nódulos polimetálicos, ricos em metais como manganésio e cobalto, poderiam funcionar como 'baterias' naturais, dividindo as moléculas de água e libertando oxigénio num processo semelhante à eletrólise. Esta descoberta desafiou a noção de que a fotossíntese era a única fonte significativa de oxigénio no planeta.
No entanto, a comunidade científica recebeu esta afirmação com cautela e ceticismo. Vários investigadores e empresas mineradoras questionaram a metodologia utilizada no estudo e propuseram explicações alternativas para os resultados obtidos.
Os resultados da investigação são confiáveis?
Uma das críticas mais fortes veio da Metals Company, mineradora interessada em explorar estes nódulos metálicos. A empresa acredita que os resultados podem ser decorrentes de erros experimentais, como presença de bolhas de ar presas no equipamento de amostragem ou vazamentos elétricos. Além disso, salientou que os controlos experimentais não foram suficientes para descartar estas possíveis explicações.
Sweetman e a sua equipa, no entanto, defendem o rigor da sua investigação e atribuem críticas à natureza radical das suas descobertas. Como lembram, a produção de oxigénio no fundo do mar é um conceito novo e, por isso, pensam que num primeiro momento poderia gerar algum ceticismo.
Que implicações tem o “oxigénio escuro”?
Se a existência de “oxigénio escuro” for confirmada, as implicações seriam de longo alcance. Em primeiro lugar, a produção de oxigénio em águas profundas poderia dar suporte a ecossistemas únicos e desconhecidos, desafiando a nossa compreensão da distribuição da vida no planeta.
Além disso, a descoberta de uma nova fonte de oxigénio poderá modificar a teoria atual do ciclo global do oxigénio e os seus possíveis efeitos no clima.
Finalmente, a presença de oxigénio em nódulos metálicos teria repercussões na mineração em alto mar, pois poderia influenciar a taxa de corrosão dos equipamentos de mineração e a estabilidade dos taludes subaquáticos.
Novos estudos são necessários
A controvérsia em torno do “oxigénio escuro” gerou intenso debate científico e levou outros investigadores a replicar as experiências de Sweetman. Espera-se que estudos futuros ajudem a esclarecer se este fenómeno é real ou se é um artefacto experimental.
Vale lembrar que embora a descoberta do ‘oxigénio escuro’ represente um avanço significativo na compreensão dos oceanos, ainda são necessárias mais investigações para confirmar a sua existência e compreender as suas implicações a longo prazo.
Referência da notícia:
Sweetman, A. K. et al. Evidence of dark oxygen production at the abyssal seafloor. Nature Geoscience, v. 17, 2024.