Erosão, poluição, impermeabilização, perda de biodiversidade e de nutrientes. Os solos na Europa estão a degradar-se
A União Europeia perde todos os anos cerca de mil milhões de toneladas de solo devido à erosão. O último relatório "O estado dos solos na Europa" revela que pelo menos 61% do solo europeu apresenta sinais preocupantes de degradação.
Os solos são o principal suporte e fonte de água e de nutrientes para as plantas e as árvores, condicionando o crescimento e produtividade agrícola e florestal em todo o planeta.
Na União Europeia (UE), a perda de carbono orgânico do solo afeta 48% dos solos, de acordo com o último relatório "O estado dos solos na Europa", desenvolvido em parceria pelo Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia e a Agência Europeia do Ambiente.
O documento, publicado em finais de outubro, emite vários sinais de alerta. O mais preocupante é que, pelo menos 61% do solo europeu apresenta sinais de degradação. E, mais grave, a qualidade dos solos está a perder-se a um ritmo mais elevado do que aquele que a natureza consegue repor.
Só a erosão, causada pela água em terras agrícolas, está quantificada em 32%, sendo uma das formas mais prevalentes de degradação do solo europeu.
Pese embora a informação já conhecida, os responsáveis do Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia e a Agência Europeia do Ambiente, que são os autores do relatório "O estado dos solos na Europa”, queixam-se da falta de dados para conhecer melhor a saúde dos solos, com vista a travar ou a reverter as pressões e agressões a que estão expostos.
Para a elaboração deste documento, os seus autores avaliaram 18 processos de degradação de solo, agrupados em nove temas: erosão, poluição, impermeabilização, perda de biodiversidade do solo, nutrientes, perda de solos orgânicos, perda de carbono orgânico no solo, compactação e salinização do solo.
Mil milhões de toneladas de solo perdido
Com base nestes dados, o Observatório do Solo da União Europeia elaborou o mapa das áreas suscetíveis de estarem afetadas por um ou mais processos de degradação do solo.
Estima-se que a União Europeia perca anualmente cerca de mil milhões de toneladas de solo devido à erosão, o que é considerado um valor insustentável e que excede a taxa natural de formação do solo, que pode levar séculos ou milénios.
À erosão hídrica soma-se a erosão causada pelo vento, assim como por várias atividades humanas no setor primário, como as lavouras e colheitas. Estas, além de contribuírem para a perda de solo, são igualmente uma causa direta do aumento da sua compactação, principalmente em solos sujeitos a práticas intensivas.
O documento chama ainda à atenção para a degradação das turfeiras, que são ecossistemas vitais típicos de zonas encharcadas. Estas zonas húmidas funcionam, por um lado, como sumidouros de gases de efeito de estufa (GEE), mas, por outro, a conversão e utilização destes solos para outras finalidades transforma-os em emissores destes gases para a atmosfera.
A drenagem de turfeiras tem sido uma prática comum, principalmente na Europa Central, e as turfeiras drenadas na União Europeia são responsáveis por cerca de 5% do total de GEE que a UE emite para a atmosfera, de acordo com o relatório agora publicado. A principal causa é a secagem destas áreas para instalação de campos agrícolas, onde, em muitos casos, a recuperação das zonas húmidas já não é viável.
Declínio da saúde dos solos
O Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia e a Agência Europeia do Ambiente advertem ainda que, além da perda direta de solo, somam-se inúmeros sintomas que indicam o declínio da sua saúde na Europa. E, se não forem travados e revertidos, põem em risco o alcance das metas europeias em várias áreas, relacionadas com a sustentabilidade do espaço europeu, desde a produção de alimento à biodiversidade e neutralidade carbónica.
Recorde-se que a Comissão Europeia estabeleceu metas no sentido de, até 2030, 75% dos solos da UE serem saudáveis, tendo em conta o seu papel essencial na alimentação, biodiversidade, água e clima.
No relatório "O estado dos solos na Europa” agora publicado é apontado o exemplo do carbono orgânico do solo, que continua em declínio. Entre 2009 e 2018, perderam-se cerca de 70 milhões de toneladas de carbono orgânico dos solos minerais em terras aráveis na União Europeia e no Reino Unido, refere o documento.
Solos degradados na Ucrânia
A salinização é outra das fontes de degradação dos solos na Europa, sendo particularmente problemática nas regiões mais áridas e mediterrânicas.
Nesta vertente, é mais preocupante a chamada salinização secundária, que decorre da acumulação excessiva de sais solúveis na camada superior do solo, em parte devido às práticas de irrigação desadequadas, refere este estudo, da autoria do Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia e a Agência Europeia do Ambiente.
O relatório analisa ainda vária informação sobre os solos, oriunda de vários países fora do espaço comunitário. Além do Reino Unido, ex-Estado-membro, foram analisados dados referentes à Islândia, Noruega, Suíça, Turquia, Ucrânia e vários países balcânicos.
De todos estes países não comunitários, o documento refere-se em particular à “destruição severa do solo ucraniano”, na sequência do ataque russo. A estimativa é que “mais de 10 milhões de hectares de terras agrícolas” estejam atualmente degradadas, devido ao conflito militar que se arrasta sobretudo desde 24 de fevereiro de 2022.