Em março 2025 "choveu mais do dobro do normal" em Portugal continental. Eis a análise da meteorologista Teresa Abrantes
O mês de março de 2025, em Portugal continental, classificou-se, do ponto de vista climatológico, como um mês frio em relação à temperatura do ar e muito chuvoso em relação à precipitação.

Em março, o estado do tempo no continente foi condicionado predominantemente pela ação de depressões muito cavadas (Jana, Konrad, Laurence e Martinho), que deram origem a episódios de precipitação forte e por vezes persistente.
De referir a depressão Martinho que afetou o continente durante vários dias com chuva e vento muito forte, tendo-se registado nas terras altas e no litoral oeste os máximos mensais da intensidade média do vento (70-120 km/h) e os da rajada (110-170 km/h). O valor mais alto, 169.2 Km/h, registou-se no Cabo da Roca no dia 20 de março.
Temperatura abaixo dos valores normais para o mês de março
De acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, IPMA, em Portugal continental, no mês de março, o valor médio da temperatura média do ar, 11.81 °C, foi 0.56 °C inferior ao valor da normal 1991-2020. Março de 2025 foi o 9º março mais frio desde 2000, sendo o mais frio o de 1934, com uma média de 9.25 °C.
O valor médio da temperatura máxima do ar, 16.37 °C, 9º março com temperatura mais baixa desde 2000, foi 1.19 °C abaixo do valor médio no período 1991-2020. O março mais frio, com 13.33 °C de valor médio da temperatura máxima, ocorreu em 1937. O valor médio da temperatura mínima do ar, 7.26 °C, foi muito próximo do valor normal, com uma anomalia de 0.08 °C.

O maior valor da temperatura máxima do ar foi 29.8 °C, que se registou em Dunas de Mira, no dia 31, e o menor valor da temperatura mínima, -3.5 °C em Carrazeda de Ansiães, dia 15.
O mês de março caracterizou-se por os valores diários da temperatura média do ar serem geralmente abaixo, ou muito próximo, do valor médio mensal, com exceção do dia 19 e no período entre 28 a 31.
As anomalias mais significativas ocorreram na temperatura máxima que se verificaram abaixo do valor normal até ao dia 24 março e acima no restante mês.
A precipitação esteve significativamente acima do valor médio
Ainda de acordo com o IPMA, o mês de março de 2025 registou um total de precipitação mensal de 177.5 mm, mais do dobro do valor médio, que corresponde a 229.4% do valor médio 1991-2020, com uma anomalia de 100.4 mm.
Valores de precipitação superiores aos registados neste mês ocorreram em quase 20% dos anos desde 1931.

A precipitação em março ocorreu em geral em todo o território, mas com mais intensidade nas regiões do Centro e Sul, onde se destacam os períodos de 6 a 11 de março e 19 a 21 de março, associados às tempestades Jana e Martinho.
O maior valor mensal da quantidade de precipitação em março foi registado na estação meteorológica de Penhas Douradas, 386.9 mm e o menor valor na estação meteorológica de Mogadouro, 63.8 mm.
Em março registaram-se nove novos recordes de precipitação em 24 horas (09-09 UTC). O maior valor da quantidade de precipitação em 24h, 91.2 mm, ocorreu em Vila Nova de Cerveira, no dia 21. Os valores registados em Vila Nova Cerveira e Sabugal, ultrapassaram os anteriores maiores valores em mais de 25 mm.
Monitorização da Seca
O valor da quantidade de precipitação acumulada no final de março referente ao ano hidrológico 2024/2025 (1 de outubro de 2024 a 30 setembro de 2025) é de 664.3 mm, que corresponde a 112% do valor normal 1991-2020.
Em termos espaciais, os valores da quantidade de precipitação acumulada no ano hidrológico 2024/2025 são inferiores ao normal nalguns locais do litoral oeste Norte e Centro. Nas regiões do interior Centro, Vale do Tejo e grande parte da região Sul os valores de precipitação acumulados desde outubro são superiores ao valor médio 1991-2020.
Em termos de distribuição percentual por classes do índice PDSI no território continental, no final de março verificava-se: 23.1% na classe de chuva severa, 60.6% na classe de chuva moderada e 16.3%, na classe de chuva fraca.