Ecossistemas terrestres e aquáticos estão a alcançar um ponto crítico
A agência especializada da ONU destaca que os atuais modelos de produção agrícola e alimentar não são sustentáveis e que a segurança alimentar futura dependerá da proteção das terras, do solo e dos recursos hídricos.
No passado dia 9 de dezembro, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) emitiu um sério alerta para o mundo inteiro: a progressiva deterioração do estado do solo, da terra e dos recursos hídricos em todo o planeta vai dificultar a alimentação da população mundial projetado em quase 10 biliões de pessoas para 2050.
Segundo o Diretor Geral da ONU, no relatório divulgado, as atuais pressões sobre os ecossistemas terrestres e aquáticos são intensas e muitos deles estão sujeitos a tensões que os estão a levar a um ponto crítico.
Durante a apresentação do estudo, o Diretor Geral da Organização, Qu Dongyu, destacou que os atuais modelos de produção agroalimentar não são sustentáveis, mas esclareceu que estes sistemas podem desempenhar um papel importante no alívio dessas pressões e contribuir positivamente para os objetivos do clima e do desenvolvimento.
O relatório destaca que produzir 50% a mais dos alimentos essenciais significaria um aumento na extração de água para a agricultura de até 35%. Um aumento que pode levar a desastres ambientais, aumentar a competição por recursos e alimentar novos desafios e conflitos sociais.
O relatório defende que o sucesso dependerá de uma boa gestão dos riscos que afetam a qualidade dos nossos ecossistemas terrestres e marítimos, da forma como combinarmos soluções técnicas e institucionais para atender às circunstâncias locais e, em tudo, na medida em que nos podemos concentrar na melhoria dos sistemas de governança da terra e da água.
A falta de água ameaça 3,2 biliões de pessoas
Os recursos de água doce disponíveis por pessoa diminuíram mais de 20% nas últimas duas décadas devido ao crescimento populacional e ao desenvolvimento económico, agravado pelas alterações climáticas, e se não forem tomadas medidas, a tendência vai continuar.
De acordo com o mais importante relatório anual da agência, mais de 3 biliões de pessoas vivem atualmente em áreas agrícolas com grande escassez de água e quase metade delas, 1,2 bilião, enfrentam sérias limitações nesse sentido.
Na América Latina, o consumo de água por pessoa diminuiu 22%, no Sul da Ásia 27% e na África Subsariana 41%. Na última região, cerca de 50 milhões de pessoas vivem em áreas onde a seca severa tem impactos catastróficos nas plantações e pastagens uma vez a cada três anos. Aproximadamente 11% das terras agrícolas de sequeiro do mundo (aquelas que dependem exclusivamente da água da chuva e não têm sistemas de irrigação), enfrentam secas frequentes.
Enquanto isso, mais de 60% das terras agrícolas irrigadas sofrem de grave escassez de água. Onze países, todos localizados no norte da África e na Ásia, enfrentam ambos os desafios, tornando urgente e necessário adotar uma contabilidade forte da água, tecnologias modernas e mudar para culturas que precisam de menos água.
Além disso, deve-se notar que o acesso à água por pessoa em todo o mundo é desigual. Por exemplo, a quantidade média de água doce por pessoa, em 2017, foi de cerca de 43.000 metros cúbicos na Oceânia, enquanto mal atingiu 1.000 metros cúbicos no norte de África e na Ásia Ocidental.