É necessário que se aja já! Relatório recente das Nações Unidas mostra como as secas estão a afetar todo o planeta

Os eventos de seca serão cada vez mais comuns em todo o globo. ONU alerta para cenário desolador e para a necessidade urgente de tornar os países mais resilientes a estes eventos.

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Os eventos de seca estão cada vez mais comuns, afetando sobretudo aqueles que são mais vulneráveis.

Dados recentes sobre os eventos de seca compilados pela UNCCD (Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação), trazem um importante e alarmante alerta: estamos a viver uma “emergência sem precedentes à escala planetária”.

Com os impactos devastadores das secas induzidas pelo Homem apenas a começarem a manifestar-se, o relatório “Global Drought Snapshot: The need for immediate action”, apresentado na COP28, destaca que poucas ameaças têm um impacto tão mortal, dispendioso e generalizado como esta.

Uma culpa coletiva que devemos carregar

O ser humano é responsável por todo o aquecimento global nos últimos 200 anos, que levou a um aumento atual da temperatura de 1,1 °C acima dos níveis pré-industriais. Isto levou a ocorrências mais frequentes e perigosas de eventos climáticos, como as secas.

As secas têm múltiplos impactos negativos. Impacta, por exemplo, severamente ecossistemas com homogeneidade de vegetação, que são mais suscetíveis a esta ameaça, especialmente sob condições de períodos prolongados, e que se repercutem, por exemplo, na produção agrícola e no preço dos alimentos.

Além disso, podem levar à migração ou mesmo a extinção de espécies animais inteiras. Ou comprometer a segurança alimentar de milhões de pessoas em todo o mundo. Podem também, por exemplo, fazer perigar a produção de energia, como se testemunhou recentemente no nosso país.

O relatório conclui que, através de dados disponibilizados por 101 países, 84 mil milhões de pessoas sofrem com os efeitos de eventos de seca, e que 4,7% desses foram expostos à seca severa ou extrema.

    Estes eventos atingem especialmente mulheres e crianças que, em comparação com os homens, têm 14 vezes mais probabilidade de padecerem por desastres provocados pelo clima.

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    As secas afetam principalmente países de baixos e médios rendimentos, e é aqui que residem 85% das pessoas afetadas por estes eventos. O Corno de África é exemplo disso mesmo, no final de dezembro de 2022, a seca deixou ali, aproximadamente, 23 milhões pessoas em grave estado de insegurança alimentar.

    Os dados do relatório indicam que entre 15% a 20% da população da China enfrentará secas moderadas a graves neste século, e espera-se que a intensidade da seca na região aumente 80% até 2100. Já a Europa, em 2022, sofreu a pior seca em 500 anos, afetando aproximadamente 630.000 km², quase o quádruplo da média desde 2000.

    As montanhas asiáticas viram perder parte dos seus glaciares nas montanhas, a África e a Europa conheceram a destruição de áreas imensas de pastagens, na China milhões de pessoas sofreram devido aos baixos níveis da água dos rios, e um pouco por todo o globo, deu-se a deterioração da qualidade da água e a sua contaminação.

    Economicamente estes eventos revelam também ter impactos brutais. Em África, nos últimos 50 anos, as perdas económicas somam mais de 70 mil milhões de dólares. No rio Reno, a capacidade de carga de alguns navios teve de ser reduzida em 75% devido ao baixo caudal. Nos Estados Unidos da América, os prejuízos são superiores a 20 mil milhões de euros nas cadeias de abastecimentos.

    A necessidade de uma ação imediata

    Com um aquecimento de 3 °C acima do período pré-industrial, estima-se que 170 milhões de pessoas experimentem secas extremas. Ao limitar o aquecimento até 1,5 °C, a população exposta a tais condições diminuiria para 120 milhões.

    Espera-se que a seca piore em muitos regiões durante o século XXI, mesmo com fortes medidas de mitigação das alterações climáticas, e mais severamente na ausência destas. Prevê-se que a população global exposta a secas extremas a excecionais aumente de 3% para 8% até 2100 e que eventos que combinem calor extremo e seca atinjam 90% da população mundial.

    Estes exemplos destacam a necessidade urgente de adotar soluções baseadas na natureza e melhorar a gestão da água para combater a seca. Para combater esta crise, o documento sugere a adoção de práticas sustentáveis de gestão do solo e uma agricultura positiva para a natureza.

    Técnicas de utilização de culturas resistentes à seca, métodos de irrigação eficientes e práticas de conservação do solo podem reduzir o impacto da seca nas culturas e nos rendimentos. A alteração de comportamentos alimentares e hábitos de consumo poderão diminuir a dependência da água. Além disso, a gestão eficiente da água, a restauração da paisagem e os sistemas de alerta precoce são também essenciais para a resiliência global à seca.

    Também a cooperação internacional é fundamental. Aliada a esta, o compromisso global de fazer mais e melhor. Porque para combater os efeitos negativos da seca, a resiliência global não é uma questão de escolha, mas sim uma necessidade!

    Referência da notícia: UNCCD. Global drought snapshot 2023: The need for immediate action. (2023).