É mais perigoso correr no asfalto ou nas montanhas? Esta é a resposta dos cientistas

Os corredores de asfalto e de trail correm riscos de lesão distintos. Um especialista analisa a forma como o planeamento do treino, o reforço muscular e a gestão da carga de trabalho podem evitar lesões em ambos os terrenos.

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"É essencial adaptar o treino às necessidades e capacidades individuais de cada atleta”, diz o especialista.

O debate em curso entre corredores de asfalto e de trail sobre qual o terreno que apresenta um maior risco de lesão tem agora provas científicas que o apoiam.

César Berzosa, professor de Fisiologia Aplicada ao Exercício na Universidad San Jorge, explora os fatores que influenciam os riscos em cada modalidade num artigo para o The Conversation.

Fatores-chave

De acordo com Berzosa, a corrida em asfalto caracteriza-se normalmente por uma intensidade relativa mais elevada, uma vez que as suas durações são frequentemente mais curtas. Este facto pode aumentar o risco de lesões musculares e tendinosas.

Por outro lado, a corrida em trail, com os seus terrenos variáveis, aumenta a probabilidade de lesões traumáticas, como entorses ou quedas.

Uma análise mais atenta mostra que os corredores de asfalto são mais propensos a tensões musculares, entorses e problemas de pele, como assaduras e bolhas. Os joelhos são a zona mais frequentemente afetada, seguidos das ancas, da zona lombar e dos tornozelos. As lesões por uso excessivo são também predominantes neste grupo, uma vez que tecidos como os ligamentos e os tendões, com menor fluxo sanguíneo, lutam para se adaptarem ao stress cumulativo.

é essencial adaptar o treino às necessidades e capacidades individuais de cada atleta
Mais de metade das lesões entre os corredores de trail devem-se a um mau planeamento do treino.

Em contrapartida, os corredores de trail enfrentam riscos associados principalmente a quedas, saltos ou aterragens. No entanto, Berzosa salienta que mais de metade das lesões neste grupo resultam de um mau planeamento do treino, o que as torna amplamente evitáveis. As ancas e os joelhos são as zonas mais propensas a lesões, especialmente os tendões e as fáscias.

Fatores de risco específicos

Analisando os dados disponíveis, Berzosa observa que:

  • Nas mulheres, o risco de lesão aumenta quando treinam 50-65 km por semana, correm maratonas de asfalto ou utilizam sapatos com mais de 4-6 meses.
  • Nos homens, o risco aumenta com treinos semanais superiores a 64 km, menos de dois anos de experiência, lesões anteriores ou retomar a atividade após uma lesão.

Prevenção e otimização do treino

A chave para a prevenção de lesões, de acordo com Berzosa, reside em encontrar o “ponto ideal” ou o ponto ótimo da carga de treino. Tanto as cargas excessivas como as insuficientes podem aumentar o risco de lesões, quer por sobrecarregarem os tecidos, quer por não estimularem a sua adaptação adequada.

Além disso, a incorporação do treino de força é uma estratégia fundamental para os corredores de ambas as modalidades.

“O treino de força melhora a capacidade de gerar e suportar os impactos inerentes à corrida, reduz o risco de lesões por uso excessivo e otimiza o desempenho muscular”, explica Berzosa.

Esta prática não só ajuda a prevenir lesões, como também melhora os níveis de aptidão física, a velocidade e a agilidade, facilitando simultaneamente uma recuperação mais rápida após uma lesão.

Então, como pode um corredor minimizar a probabilidade de lesões?

Embora as características dos terrenos de asfalto e de montanha apresentem riscos diferentes, um planeamento de treino adequado, a incorporação de treino de força e a utilização de equipamento apropriado são fatores-chave para reduzir as probabilidades de lesão.

Como sublinha César Berzosa, “é essencial adaptar o treino às necessidades e capacidades individuais de cada atleta”.