Doença da Língua Azul. Ministério da Agricultura apela à notificação da morte dos animais e garante vacinação

A febre catarral ovina não se transmite aos humanos e o consumo de carne, leite e queijo, de ovelhas e de carne de borregos, está isento de riscos para a saúde. Desde setembro já morreram mais 40 mil animais. A vacinação será gratuita.

Ovelhas
A febre catarral ovina ou da Língua Azul é uma doença viral, de notificação obrigatória, que afeta os ruminantes e não é transmissível a humanos. A sua transmissão é feita através de um mosquito.

O ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, apelou nesta terça-feira, 12 de novembro, aos produtores pecuários a que notifiquem as autoridades de todas as mortes de animais devido à doença da Língua Azul.

O governante revelou que apenas há o registo de quatro mil ovinos mortos, um número que, segundo o ministro, impede que Portugal possa recorrer aos apoios europeus, nomeadamente à reserva de crises da União Europeia.

A febre catarral ovina ou da Língua Azul é uma doença viral, de notificação obrigatória, que afeta os ruminantes e não é transmissível a humanos. A sua transmissão é feita através de um mosquito, não afetando, ainda assim, a qualidade da carne, do leite ou dos seus derivados que provenham de animais infetados.


“Queremos que os agricultores nos digam os animais que morrem por Língua Azul. Há 51 mil animais, ovinos, que morreram, em dois milhões de efetivos”, o que corresponde a “uma taxa de mortalidade de 2,5%”, referiu o ministro aos jornalistas à margem do Fórum Regional Europa Pós-2027, que decorreu em Braga.

José Manuel Fernandes tem a “certeza” de que, “dos [animais] que morreram por Língua Azul, as notificações que recebemos são quatro mil”, o que representa apenas “dois animais por mil efetivos”.

ovinos
O ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, apela aos produtores pecuários que notifiquem as autoridades de todas as mortes de animais devido à doença da Língua Azul.

“Não tenham receio” de notificar a morte dos animais, apelou o ministro da Agricultura aos agricultores donos de explorações pecuárias afetadas, até porque isso vai ajudar a que possam ser acionados recursos de fundos europeus.

Recurso à reserva de crises da UE

José Manuel Fernandes assume que Portugal quer “recorrer à reserva de crises da União Europeia”, mas, para tal, tem de “dar os dados verdadeiros e efetivos. E, nesses dados, a taxa é de dois animais mortos por Língua Azul em cada mil, quando tenho a perceção de que são muitos mais”.

O ministro da Agricultura não tem dúvidas de que “o facto de haver uma notificação que é muito baixa em relação às mortes [efetivas de animais] prejudica o objetivo de considerarmos que há uma calamidade, que existe, mas que os números, face às notificações que recebemos, não dão essa dimensão”.

No início desta semana, a Confederação dos Agricultores Portugueses (CAP) revelou que, "do início de setembro até ao dia de hoje [segunda-feira, 11 de novembro], contabilizam-se mais 40 mil mortes entre a população de ovinos, face a igual período do ano passado”.

A CAP considera que, “perante tal brutal excesso de mortalidade, verificado de norte a sul do país, o setor precisa urgentemente de ajudas para ultrapassar a grave situação económica e financeira gerada por esta epidemia, cuja situação se pode agravar nas próximas semanas”.

A Confederação liderada por Álvaro Mendonça e Moura lançou, aliás, o repto ao Governo, para que a vacinação obrigatória contra o serotipo 3 da Língua Azul para ovinos e bovinos seja “imediatamente incluída no Programa de Sanidade Animal (PSA) e disponibilizada sem encargos para os produtores”.

vacinação de animais
A vacina tem um custo de 2,65 euros e não terá custos para os donos dos animais. “As organizações de produtores administram a vacina e nós pagaremos o custo", garante o ministro da Agricultura.

E o Ministério da Agricultura já acedeu. José Manuel Fernandes lembrou que, desde 23 de setembro, os animais já podem ser vacinados, após uma autorização temporária do Governo”, para que seja administrada uma vacina, que, contudo, ainda não está a ser comercializada.

Governo assume os custos da vacina

“A vacina ainda não está autorizada em termos comerciais pela autoridade europeia do medicamento animal. Já pode ser dada, mas ainda não está comercializada. Demos uma autorização temporária. Não sabemos a verdadeira eficácia da vacina que existe neste momento”, explicou o ministro José Manuel Fernandes.

A vacina tem um custo de 2,65 euros e não terá custos para os donos dos animais. “As organizações de produtores, de sanidade animal, administram a vacina e nós pagaremos o custo. Para este ano temos um milhão de euros, que presumo que seja suficiente para este orçamento de 2024”, referiu José Manuel Fernandes.

Para o ministro da Agricultura, também é necessário aposta na “prevenção”, que “é essencial, porque agora temos o serotipo 3, mas não estamos livres de um outro serotipo, que pelos vistos já existe aí pela Europa. Portanto, não podemos andar sempre a correr atrás do prejuízo e temos de conseguir apostar e reforçar a prevenção, além da investigação".