Doença da Língua Azul. DGAV assume que todos os distritos de Portugal continental são “área geográfica afetada”

O Ministério da Agricultura garante que, além do “reforço da subvenção anual dada às organizações de produtores”, o Governo “vai investir num plano nacional de desinsetização para travar a propagação do vetor transmissor e da doença.

Ovelhas
A língua azul ou febre catarral ovina é uma doença epidémica de etiologia viral que afeta os ruminantes. Está incluída na lista de doenças de declaração obrigatória nacional e europeia e na lista da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA).


A Língua Azul ou Febre Catarral Ovina é uma doença epidémica de etiologia viral que afeta os ruminantes, com transmissão vetorial e que está incluída na lista de doenças de declaração obrigatória nacional e europeia e na lista da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA).

É habitualmente transmitida por insetos do género Culicoides e já afetou, em Portugal, pelo menos 279 explorações de bovinos e ovinos, sobretudo em Évora e Beja, revelou esta semana o Ministério da Agricultura. Em consequência, já provocou a morte de 1.775 animais.

Neste momento, todo território continental está classificado como área afetada por serotipo 4 do vírus da Febre Catarral Ovina (ou Língua Azul), sendo a região do Algarve afetada pelos serotipos 1 e 4, ambos de vacinação obrigatória. Pode consultar aqui o mapa de distribuição geográfica da doença.

A Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), que é a Autoridade Sanitária Veterinária Nacional, emitiu, nesta quarta-feira, 30 de outubro, o edital nº 83. Nesse documento informa-se que, “em Portugal, até à data, encontravam-se definidas uma zona afetada por serotipo 1 e por serotipo 4 do vírus da Língua Azul, que abrange a região do Algarve, e uma zona afetada por serotipo 4 do vírus da língua azul, que abrange o restante território nacional continental”.

As regiões autónomas dos Açores e da Madeira são consideradas “zonas não afetadas”, refere a DGAV. E a movimentação de ruminantes provenientes de explorações situadas nesta área geográfica "não carece de vacinação dos animais", diz aquela Direção-Geral.

Atendendo à extensão geográfica do território continental já afetada e ao número de explorações atingidas, e como forma de evitar uma maior propagação, o Ministério da Agricultura diz estar “a trabalhar num plano de reforço da prevenção e de apoio às organizações de produtores desde o aparecimento do primeiro caso do serotipo 3 da doença da Língua Azul”.

O Ministério tutelado por José Manuel Fernandes revelou nesta quarta-feira, 30 de outubro, à agência Lusa que, além do reforço da subvenção anual dada às organizações de produtores, o Governo “vai investir num plano nacional de desinsetização para travar a propagação do vetor transmissor e da doença” e, também, “de outras doenças transmitidas por insetos, como a doença hemorrágica dos bovinos”.

A DGAV explica, no edital divulgado também esta quarta-feira, que a vacinação obrigatória contra os serotipos 1 e 4 do vírus da Língua Azul, do efetivo ovino reprodutor adulto e dos jovens destinados à reprodução, bem como do efetivo bovino, tinha sido “adotada como estratégia nacional em julho de 2023”.

Cabras
A DGAV reclassificou as áreas afetadas pelo serotipo 3 do vírus da Língua Azul e determinou que “todos os distritos de Portugal continental” são considerados “área geográfica afetada".

“Em 2024, deu-se início aos planos de vigilância entomológica” nas áreas geográficas que correspondem às Direções de Serviço de Alimentação e Veterinária da Região de Lisboa e Vale do Tejo e do Alentejo, refere o mesmo organismo, que é liderado por Susana Pombo.

Foi, porém, a 13 de setembro que foi “confirmado” pelo Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) “a presença do serotipo 3 do vírus da Língua Azul no distrito de Évora”.
Ato contínuo, a DGAV publicou dois editais, “aditando a autorização da vacinação voluntária contra o serotipo 3 da Língua Azul no território continental”.

Sucede que, com a “expansão da doença”, a DGAV viu-se na eminência de “reclassificar as áreas afetadas pelo serotipo 3 do vírus” da doença e determinou que “todos os distritos de Portugal continental” são considerados “área geográfica afetada pelos serotipos 3 e 4 do vírus da Língua Azul”.

Os últimos dados disponíveis, reportados na passada segunda-feira, 28 de outubro, indicavam que tinham sido contabilizadas 41 explorações de bovinos afetadas, com 102 animais afetados e sem mortalidade.

No caso dos ovinos, havia 238 explorações afetadas, 11.934 animais doentes e 1.775 mortos. Évora é o distrito mais atingido, com 90 explorações afetadas. Beja soma 76, Setúbal 48 e Portalegre 20 explorações afetadas.

Rebanho
O Governo garante que “vai investir num plano nacional de desinsetização para travar a propagação do vetor transmissor e da doença” da Língua Azul.

Também a Associação de Defesa Sanitária da Cova da Beira (Sanicobe) revelou que várias explorações nos concelhos do Fundão, Covilhã, Penamacor e Belmonte reportaram nos últimos dias vários casos de doença da Língua Azul.

SIRCA “não tem mãos a medir”

O Sistema de Recolha de Cadáveres de Animais Mortos na Exploração (SIRCA), gerido pela associação ACOS - Agricultores do Sul, com sede em Beja, revelou à agência Lusa que os números de cadáveres recolhidos por dia são “na ordem dos milhares” e que o SIRCA “não tem mãos a medir”. Só na passada quarta-feira “tivemos mais de 2000 animais para recolher", disse Rui Garrido, presidente da Associação.

O secretário de Estado da Agricultura, João Moura, apelou aos agricultores afetados, durante uma visita a Évora nesta quarta-feira, que declarem a doença da Língua Azul às autoridades.