Dia Mundial da Floresta. Associação ZERO alerta para a produção insustentável de carvão vegetal

A utilização de carvão vegetal em restaurantes, churrasqueiras e barbecues tem “potencial para afetar a saúde humana”, diz a ZERO, devido ao "elevado teor" de toxinas, alcatrões, furanos, naftalenos e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos.

Carvão
A associação ZERO chama a atenção para os efeitos nefastos da “produção insustentável de carvão vegetal produzido em fornos tradicionais rudimentares, sem licenciamento nem condições humanas".

Desde 2012 que a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o 21 de março como o Dia Mundial da Floresta.

Este ano, a efeméride é dedicada ao tema “Florestas e Alimentos”, considerando que as florestas são cruciais para garantir a segurança alimentar do planeta, a nutrição e os meios de subsistência às comunidades humanas.

As florestas também providenciam madeira, energia e outros serviços de ecossistema, como a fertilidade do solo, o fornecimento de água e habitat para a biodiversidade, incluindo os polinizadores.

Sucede que os seres humanos, para se alimentarem, utilizam as mais diversas fontes de energia para cozinhar os seus alimentos. Entre elas, usam o carvão vegetal, oriundo das florestas, e cuja produção é efetuada através da queima ou carbonização de madeira.

Tendo isto presente, a associação ambientalista ZERO emitiu um comunicado, justamente no Dia Mundial das Florestas, a chamar a atenção para os efeitos nefastos da “produção insustentável de carvão vegetal produzido em fornos tradicionais rudimentares, sem licenciamento nem condições humanas, com pouca ou nenhuma tecnologia”.

Esta é, segundo a ZERO, “uma atividade que não se encontra adequadamente regulamentada" e que "causa enormes impactes no ambiente”, através das emissões para a atmosfera e da contaminação dos solos e dos aquíferos.

Carvão
A utilização de carvão em restaurantes, churrasqueiras e barbecues tem potencial para afetar a saúde humana, avisa a associação ambientalista ZERO.

Para além disso, segundo a ZERO, “a sua utilização em restaurantes, churrasqueiras e barbecues tem potencial para afetar a saúde humana, uma vez que o carvão vegetal apresenta um elevado teor de toxinas, alcatrões, furanos, naftalenos e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos”, presentes na madeira, adverte aquela organização.

A tudo isto, junta-se a emissão de material particulado fino (PM 2,5), cuja “inalação é especialmente grave para o organismo dos seres humanos”, diz a ZERO, uma vez que “ultrapassa as primeiras barreiras do sistema respiratório e chega aos pulmões”.

Em Portugal, a fabricação de carvão vegetal é licenciada através de mera comunicação prévia efetuada juntos dos municípios, figurando como uma atividade tipo 3, no âmbito do Sistema da Indústria Responsável. Ou seja, para a associação ambientalista ZERO, trata-se de “um incompreensível contexto em que as exigências requeridas a uma atividade poluente são muito semelhantes às de outras pequenas atividades económicas, como, por exemplo, padarias ou fábricas de mobiliário”.

Pese embora os números oficiais apontem para uma produção de 17 mil toneladas de carvão vegetal, estima-se que não esteja a ser contabilizado um quantitativo de igual dimensão transacionado num mercado paralelo de produção artesanal não controlada.

100 mil toneladas de carvão por ano

E há, depois, “uma produção de 10 mil toneladas de biocarvão (carvão produzido por pirólise lenta, cuja produção emite menor quantidade de gases e fumo)”.

De acordo com os cálculos da ZERO, o mercado nacional transaciona cerca de 100 mil toneladas por ano, em que as importações representam entre 60 a 70% desse valor, cujo carvão é proveniente de África e da América Latina.

Os maiores exportadores de carvão são Cuba, Namíbia, Nigéria, Angola e Argentina, onde o controlo da origem da biomassa, dos métodos de produção e das condições de trabalho “são ainda menos exigentes”.

Acresce que o Manifesto de Corte – que é parte integrante do Sistema de Informação de Manifesto de Corte (SiCorte) para árvores de espécies florestais que se destinem à comercialização e ao autoconsumo para a transformação industrial – “não possui informação detalhada e integrada quanto aos vários tipos de corte das espécies, os volumes e respetivas áreas”, alerta a ZERO.

Sistema de Informação de Manifesto de Corte

Essa situação cria “um verdadeiro ‘buraco negro’ quanto à origem da madeira”, avisa a associação ambientalista, sendo que os volumes que são destinados à produção de carvão vegetal, em particular no respeita à madeira de azinheira e de sobreiro, que são espécies protegidas por lei.

Fábrica de carvão
Em Portugal, a fabricação de carvão vegetal é licenciada através de mera comunicação prévia efetuada juntos dos municípios, no âmbito do Sistema da Indústria Responsável.

Para a ZERO “é importante perceber se o SiCorte permite prevenir a exploração de madeira ilegal e o comércio que lhe está associado”.

Nesse sentido, indagaram junto do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) no sentido de se “melhorar este sistema de informação”, que é “de enorme importância para se conhecer o panorama da utilização de madeira não para a produção de carvão vegetal, mas também a madeira que é utilizadas nas lareiras das nossas casas”.

Biocarvão é alternativa ao carvão vegetal

Neste Dia Mundial das Florestas, a ZERO explica que existem hoje “novas formas de produção de carvão vegetal”, com apoio de tecnologias mais recentes, que “permitem um maior controle das condições de queima”.

A pirólise lenta é um exemplo, em condições de pouco oxigénio, as quais permitem obter um produto com muito menores emissões de fumos ou gases tóxicos para o ambiente – o biocarvão (ou biochar).

Diz a ZERO que o biocarvão produzido através deste processo e a partir da biomassa de plantas invasoras e outras infestantes arbóreas, nomeadamente acácia-austrália (Acacia melanoxylon) e acácia-mimosa (Acacia dealbata), “promove a economia circular". E ainda ajuda a "uma verdadeira valorização de resíduos florestais”, “sem comprometer as florestas pelo uso de biomassa de origem duvidosa”.