Dia da Ecologia assinalado em Lisboa com debate sobre Desenvolvimento Sustentável
A Sociedade Portuguesa de Ecologia organizou o debate na Faculdade de Ciências e sentou à mesma mesa do auditório Caleidoscópio, ativistas e cientistas. A conclusão: a informação científica tem, por vezes, pouco eco no mundo!
Durante três horas a conversa teve como tema principal o desfasamento que pode existir entre a resposta técnica e a resposta política.Foi essa aliás a primeira questão lançada aos convidados, pelo moderador da conferência José Vítor Malheiros.
Susana Fonseca socióloga e ativista da Associação ambientalista Zero, afirmou que cada vez mais, o conhecimento científico é fundamental para uma intervenção política sustentada, mas pode acontecer que esse mesmo conhecimento seja usado ou interpretado de forma diferente ou menos rigorosa,para defender interesses políticos. A ativista lembrou o que se passa atualmente com a discussão em torno dos reguladores endócrinos, em que cada setor destaca o argumentário que melhor lhe serve, tendo cada um, ou a perspetiva económica do negócio ou política ou outra ainda,como a do consumidor ou cidadão comum.
Já o presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia, Paulo Ferrão, advertiu para o facto de existir atualmente bastante conhecimento, mas estar muito mal organizado e isso impede que se consolide na sociedade. Ou seja, o que está em causa “neste desconhecimento” é a forma de organizar a ciência. Uma administração pública forte, é fundamental, para sedimentar as ideias, que se perdem na cabeça dos líderes políticos, condicionados pelo curto espaço de tempo em que exercem o poder.
A atualização do conhecimento científico e a interpretação dos fatores sociais como alavancas para aplicar o conhecimento da ciência “no terreno” foi uma das ideias deixadas pela investigadora Luísa Schmidt que deu como exemplo o projeto “Change” do Instituto de Ciências Sociais da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, através do qual foram criadas parcerias para serem realizadas intervenções em 3 zonas de risco na costa: Loulé, Ílhavo e Costa da Caparica. A investigadora salientou o envolvimento local e o entusiasmo dos cidadãos pela ciência, porque esta foi percebida como parte da solução para os seus problemas.
É preciso reduzir o combustível da floresta, alerta Tiago Oliveira
A ideia afirmada por Tiago Oliveira presidente da Estrutura de Missão Integrada para os Fogos Rurais, é a de que “o problema dos incêndios está para ficar e deve ser encarado de frente, com factos científicos por trás”. Segundo o engenheiro florestal indicado pelo primeiro-ministro António Costa, para dirigir a Estrutura de Missão para a Gestão Integrada dos Fogos Rurais, a ciência já demonstrou que a ideia de existirem mais meios no terreno, apenas atrapalha.
Tiago Oliveira acrescentou ainda que são os comportamentos das pessoas e o uso que fazem do fogo que são a causa do problema. A culpa não é do eucalipto,espécie que tem sido apontado no discurso político como o culpado dos incêndios, por isso defende uma sociedade mais informada e por isso capaz, precisamente de ela própria, fazer esse discernimento e alterar a forma de ver a floresta, a forma como usa o fogo e deixar-se de desculpas, por causa do eucalipto.
O discurso político está enviesado, por isso a tónica é colocada no combate e nos meios de combate e no tipo de vegetação existente. Segundo Tiago Oliveira é necessária mais comunicação e maior visibilidade da ciência. É necessário informar, informar sobre o mal das invasoras, os perigos que existem no país nomeadamente no Parque Natural Sintra-Cascais(zona bastante sensível e de grande risco) e outras.
Aqui a comunidade científica tem um papel fundamental: os cientistas ou investigadores não se devem calar, até porque representam um grupo de privilegiados, com total independência que não pode abster-se de falar, em nome do acesso ao conhecimento para todos.