Destruição da linha de costa: Hotel de Algarrobico, que futuro?
A temática da gestão do litoral é cada vez mais atual, especialmente para os países ibéricos, que dispõem de extensas linhas de costa. Infelizmente, é bastante mais fácil identificar maus exemplos do que bons, com consequências graves nos ecossistemas costeiros. Fique a saber mais sobre este assunto, connosco!
O litoral, em especial a linha de costa, é uma paisagem que tem sofrido imensas alterações ao longo dos anos, estando em certas áreas totalmente irreconhecível. Esta acaba por ser uma constatação generalista para todo o território nacional e para os nossos vizinhos espanhóis. Contudo, as cicatrizes das constantes alterações são mais evidentes na costa sul de Portugal e na costa mediterrânica de Espanha.
Tanto o Algarve, como, por exemplo, a costa da província espanhola de Almería sofreram inúmeros “atentados” ambientais nas últimas décadas. Construiu-se de forma massiva, sem regras, sem planeamento e sem visão de futuro (a não ser a vertente económica que adveio do turismo), tendo com principal resultado a alteração da dinâmica costeira e a perturbação da fauna e da flora.
As “cidades resort”, muito dependentes da atividade turística e da sua massificação, foram florescendo por toda a costa sul da Península Ibérica. Um dos exemplos mais gritantes está precisamente localizado na província de Almería: o Hotel de Algarrobico. Este hotel, de 21 andares, localiza-se na praia com o mesmo nome, numa região de Espanha onde as acessibilidades ainda são muito fracas, sendo que está neste momento totalmente votado ao abandono (a sua construção foi abandonada quando estava quase concluído, há praticamente 20 anos).
Curiosamente, foi nesta mesma praia que se realizaram as filmagens do sobejamente conhecido filme “Lawrence da Arábia”, vencedor de vários Óscares da Academia, no ano de 1963. Outra curiosidade, bem menos agradável, está relacionada com a localização do hotel: este “monstro de betão” foi contruído numa área protegida, num “dos maiores santuários naturais protegidos do sul da Europa”, o Parque Natural de Cabo de Gata-Níjar.
Futuro do hotel: mais fácil destruir do que consertar
Nas cidades associadas à forte atividade turística, onde os portos de pesca foram substituídos pelas marinas cheias de iates e ondes os campos de golfe se tornaram a vegetação dominante, o futuro é ainda incerto no que concerne à resolução de deste tipo de questões urbanísticas.
Nos últimos 15 anos tem-se desenrolado uma batalha judicial à volta do futuro do hotel com algum mediatismo, a nível nacional. A discussão acerca do hotel visa, por um lado, compreender se Espanha consegue fomentar uma atividade turística mais sustentável. Por outro, põe em evidencia uma questão essencial relacionada com o poder do setor imobiliário como motor económico e os impactes que isto poder ter, tanto positivos como negativos.
O Parque Natural de Cabo de Gata-Níjar foi instituído em 1987 e, alguns anos mais tarde, o município de Carboneras classificou aqueles terrenos como área edificável. Depois de um fundo de investimento imobiliário ter adquirido os terrenos, a construção iniciou-se em 2003, mas em 2006 foi embargada, já que um conjunto de ativistas ambientais colocou um processo na justiça, alegando que a construção violava as regras de proteção do Parque. Esta disputa manteve-se até às mais altas instâncias da justiça espanhola, que acabou por dar razão aos ativistas ambientais.
Neste momento, decorre mais uma batalha judicial sobre quem terá a responsabilidade de demolir a construção e quem eventualmente irá pagar os custos da demolição e da reabilitação da paisagem, numa altura em que a própria infraestrutura apresenta sinais evidentes de desgaste. O futuro deste gigante de betão é claramente incerto, visto que a última decisão judicial (de um Tribunal da Andaluzia) indicou que o hotel não deverá ser demolido visto ter sido construído com uma licença válida.
O futuro do hotel estará relacionado com um modelo futuro de turismo, diferente do que vigora atualmente, tanto em Espanha como em Portugal: a aposta num turismo de proximidade, em oposição ao turismo de massas, com ligação ao meio ambiente ao invés de promover a destruição do mesmo.
Por outro lado, é ainda importante salientar a importância da legislação como “arma” para salvaguardar as paisagens costeiras, limitando projetos de grandes dimensões junto ao mar. Espanha tem este tipo de legislação desde 1988, mas isso não impediu que centenas de milhares de construções ilegais se desenvolvessem desde então.