Descubra como a natureza, a tecnologia e a engenharia ajudam a proteger as cidades das inundações
Saiba por que os sistemas de adaptação climática de Copenhaga, de Viena, de Nijmegen ou de Sidney são apontados como modelos para outras cidades do mundo.
As enchentes na região espanhola de Valência são já consideradas como o pior desastre climático da Europa das últimas cinco décadas. Este ano, aliás, as chuvas torrenciais deixaram-nos num permanente estado de alerta.
Em Setembro, graves inundações forçaram dezenas de milhares de pessoas a abandonar as suas casas em vastas regiões da Áustria, da República Checa, da Polónia e da Roménia. E, em junho, as cheias causaram enormes estragos no Sul da Alemanha.
Noutras partes do mundo, as chuvas fortes provocaram, desde o início do ano, dezenas de mortes em Omã e nos Emirados Árabes Unidos.
No Quénia, as chuvas causaram quase duas centenas de vítimas mortais e, no Brasil, as inundações, entre finais de abril e inícios de maio, obrigaram à deslocação de mais de meio milhão de pessoas, danificando uma área equivalente ao território do Reino Unido.
Cheias cada vez mais frequentes
As estatísticas têm demonstrado que as inundações são a catástrofe natural mais comum no mundo e o que se espera é que esta tendência acelere à medida que sobe o nível do mar. Precisamos, portanto, de estar mais bem preparados com soluções inovadoras e tecnologias de ponta que possam mitigar os riscos e proteger populações e infraestruturas.
Vários municípios como Viena, na Áustria, Copenhaga, na Dinamarca, Nijmegen, no Países Baixos, ou Sidney, na Austrália, têm testado diferentes formas de gerir a crescente ameaça das inundações. Recorrendo à inteligência artificial (IA), explorando os caminhos da engenharia hidráulica ou procurando soluções baseadas na natureza, os seus projetos de adaptação climática são apontados como modelos para outras cidades do mundo.
Green Climate Screen em Copenhaga
Em vários distritos de Copenhaga, o “Green Climate Screen” (Ecrã Climático Verde) é o sistema de gestão de águas pluviais que está a ser usado como uma alternativa à expansão dos esgotos e de pesadas construções de bacias em betão.
Uma cerca de jardim, com três metros de altura, escoa a água dos telhados para uma tela coberta de lã mineral, que absorve a água, direcionado o excesso para os arbustos de salgueiros que se encontram em baixo.
Quando a precipitação é mais intensa, as correntes são desviadas para outras áreas verdes nas proximidades, ou então, conduzidas para cisternas com capacidade para armazenar grandes volumes de água.
O Novo Danúbio de Viena
Em Viena, capital da Áustria, o sistema de defesa, desenvolvido na década de 1970, tem capacidade para gerir mais de 14 mil metros cúbicos por segundo – uma dimensão que equivale a uma inundação ocorrida uma única vez, em 1501. A ilha do Danúbio, construída artificialmente, e o canal de controlo de cheias, apelidado de Novo Danúbio, é o mecanismo que protege a cidade.
Diante de uma ameaça de inundação, o sistema aciona um conjunto de açudes, que retém a água antes da chegada das cheias durante três ou quatro dias. Ao criar um lago artificial, o processo, permite aliviar a pressão do Danúbio.
O grande teste à eficácia deste modelo aconteceu na primavera de 2013, quando a bacia do Alto Danúbio sofreu uma das maiores inundações dos últimos dois séculos.
O caudal do rio de Viena atingiu, nesse ano, cerca de 11 mil metros cúbicos por segundo e não se registaram danos nem vítimas, ao contrário de outras zonas do país, onde as chuvas provocaram prejuízos em mais de 400 habitações.
Room for The River em Nijmegen
Os diques são a abordagem tradicional dos Países Baixos para combater as inundações. Nijmegen, cidade localizada no Leste do país, ousou romper com as convenções e abriu em 2016 novos braços no rio Wall e um canal de águas profundas que conduz as correntes para longe da cidade.
O sistema fluvial, destinado a regular o fluxo das águas, custou 2,3 mil milhões de euros e é considerado o maior projeto de adaptação climática da Europa.
Conhecido como Room for the River (Espaço para o Rio), a empreitada demorou quatro anos a concluir e envolveu expropriações de meia centena de habitações, mas, no final do processo, os residentes ganharam uma ilha artificial, uma praia urbana , parques verdes para a vida selvagem e para atividades recreativas.
Inteligência artificial em Sidney
No estado australiano de New South Wales, a solução desenvolvida pela Universidade de Tecnologia de Sydney utiliza redes móveis 5G para monitorizar em tempo real os impactos das inundações.
O modelo está a ser testado nos rios George e Parramatta. Dispositivos ligados à rede móvel extraem dados meteorológicas, como níveis de precipitação e de caudais dos rios. A informação é depois interpretada através de inteligência artificial e integrada num gémeo digital (réplica virtual).
O resultado é um modelo que antecipa danos nas paisagens, nos edifícios e nas infraestruturas.
A capacidade da tecnologia para transmitir a informação em tempo real poderá ajudar sobretudo numa mobilização mais eficiente dos recursos humanos e materiais, na evacuação mais rápida e na orientação prestada às populações afetadas.
Ao recorrer a redes móveis já existentes, o sistema dispensa a construção de outras infraestruturas. Os investigadores asseguram ainda que o processo é também mais rápido de implementar e resistente do que o uso de sensores, que podem ficar danificados com as inundações.