Descoberta: Uma planta tem o maior genoma do mundo e pode ter informação chave para explicar a sua sobrevivência

É um feto que tem 160.000 milhões de pares de bases. A espécie é Tmesipteris oblanceolate, e o seu genoma é 53 vezes maior do que o dos humanos.

Genética de fetos.
O maior genoma do planeta encontra-se num pequeno feto que cresce nas ilhas do Pacífico.

O genoma é o conjunto completo de instruções de um organismo. No caso dos seres humanos, este manual de instruções contém cerca de 3 mil milhões de pares de bases, que se encontram nos 23 pares de cromossomas existentes no núcleo de todas as células.

Sequenciar o genoma significa determinar a sua ordem exata num segmento de ADN.

Decifrar esses 3 mil milhões de pares levou mais de duas décadas, embora nos últimos anos os processos de descodificação tenham acelerado exponencialmente. Tudo graças ao avanço da ciência e à utilização de novas tecnologias que, atualmente, nos permitem até "editar" o genoma.

Talvez um trabalho igualmente intenso ou ainda maior seja a tarefa de decifrar o genoma de uma espécie de feto da Nova Caledónia (Tmesipteris oblanceolate), que tem uns espantosos 160 mil milhões de pares de bases. Isto é 53 vezes mais do que o genoma humano, o que o torna o maior de todos os observados até à data.

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Como referência, 160 mil milhões de pares de bases implicam uma enorme quantidade de ADN, equivalente a uma torre de 100 metros de altura se pudesse ser desvendada. Em comparação, o genoma humano, com os seus 3 mil milhões de pares, atingiria apenas 2 metros. O feto em causa é uma planta folhosa com gavinhas, originária de várias ilhas do Pacífico. A descoberta e a análise subsequente poderão ajudar os cientistas a compreender como e porquê alguns genomas crescem tanto e como estes conjuntos maciços de genes afetam a adaptabilidade e a sobrevivência das espécies.

Fetos
Os fetos fazem parte de uma divisão de plantas cuja antiguidade remonta ao período Devónico Médio, há cerca de 400 milhões de anos.

Em geral, os genomas das plantas tendem a ser mais longos e este atributo está ligado ao número de anos que estas espécies tendem a viver. Outras qualidades que poderiam ser mencionadas implicam uma reprodução lenta e vulnerabilidade ao stress ambiental, mas sem que isso leve a uma suposição - provavelmente errada - de que genomas longos implicam organismos complexos.

Uma descoberta que aconteceu por engano

Jaume Pellicer, investigador do Instituto Botânico de Barcelona e principal autor de um artigo recentemente publicado na revista Sience, garantiu que a sua intenção não era entrar para o livro dos recordes com esta descoberta. A realidade é que se depararam com a descoberta enquanto investigavam o papel que as sequências repetitivas de ADN desempenham na evolução de plantas com genomas muito grandes.

Sabendo que os fetos têm frequentemente extensões muito longas de ADN repetitivo, a equipa decidiu estudar melhor o Tmesipteris oblanceolate.

A planta não é proeminente nas florestas tropicais das poucas ilhas do Pacífico onde vive, incluindo a Nova Zelândia e a Nova Caledónia. Não tem flores nem atributos que a distingam visualmente, embora talvez - como assegurou Pellicer - a sua beleza possa estar no seu interior.

Porque é que o tamanho do genoma é importante

Para fazer as contas e chegar aos 160 mil milhões de passagens de bases no feto, os investigadores utilizaram a citometria de fluxo, uma técnica baseada em laser que analisa as características celulares. São mais 11 mil milhões do que o anterior detentor do recorde do genoma, uma planta japonesa com flores chamada Paris japonica.

Genoma
A maior parte do genoma é constituída por sequências de ADN repetitivas (conhecidas como ADN lixo), que se pensava não terem qualquer função.

Há duas formas principais de as plantas terem origem em genomas extra grandes. Uma delas é a cópia total do genoma dentro do núcleo, conhecida como poliploidia. A outra é ter um grupo de sequências de DNA repetitivas e não codificantes (anteriormente chamadas de "DNA lixo") que têm a capacidade de se inserir em genes próximos e fornecer-lhes novas funções ou silenciá-los.

Os genomas das plantas tendem a ser mais fortes, e os cientistas sabem que as plantas com genomas relativamente grandes tendem a viver mais tempo. De acordo com Pellicer, é provável que este feto esteja próximo do limite superior, ou seja, está localizado dentro da gama das espécies com o maior genoma e talvez, ao mesmo tempo, com maior sobrevivência.