Descoberta Jurássica em Torres Novas: o mistério das pegadas de dinossauro foi revelado
Depois de duas décadas mantidas em segredo, marcas pré-históricas com milhões de anos foram reveladas, oferecendo uma nova janela para o passado jurássico. A descoberta emocionante na Pedreira do Espanhol promete atrair curiosos e especialistas.
Quantas vezes viu o filme ‘Jurassic Park’ e sentiu aquele nervoso miudinho misturado com entusiasmo quando apareceram os dinossauros gigantes, com os pescoços compridos e as patas enormes?
Se foi um dos muitos que ficaram fascinados com o filme, vai gostar de saber que pode seguir os passos desses colossos — literalmente (e mais perto do que imagina). Curioso?
Não, não precisa de viajar até Hollywood nem de pagar entrada num parque temático. Em Torres Novas foram descobertas pegadas de dinossauros com cerca de 168 milhões de anos, e já todos sabem da sua existência.
Na verdade, a descoberta aconteceu há 20 anos por João Carvalho, da Sociedade Torrejana de Espeleologia e Arqueologia, mas só agora foram tornadas públicas. Os trilhos mantidos em segredo durante anos encontram-se numa área com cerca de 10.800 metros quadrados.
“Pegadas de dinossauros com cerca de 168 milhões de anos e descobertas há duas décadas numa pedreira desativada em Pedrógão, concelho de Torres Novas (Santarém), foram tornadas públicas [a 28 de dezembro], um achado que vai dar mais conhecimento à paleontologia. Várias entidades já se comprometeram a estudar e a preservar as pegadas”, avançou a ‘Agência Lusa’, citada pelo jornal ‘Expresso’.
A jazida paleontológica localiza-se na antiga Pedreira de Manuel Fernandes, rebatizada Pedreira do Espanhol, num estrato calcário datado do Jurássico Médio. E, sim, este é o mesmo período que nos deu os colossais dinossauros que outrora vagavam pela Terra, deixando as suas marcas indeléveis para a posteridade.
Curiosamente, este achado situa-se a apenas alguns quilómetros da famosa Pedreira do Galinha, onde, em 1994, também João Carvalho desenterrou o maior trilho de pegadas de dinossauros saurópodes do mundo, com 175 milhões de anos. Este trilho impressionante faz agora parte do Monumento Natural das Pegadas de Dinossauros de Ourém - Torres Novas.
Preservação e futuro promissor
“A Pedreira do Espanhol encontra-se em fase de limpeza, para reconhecimento do número total de trilhos e pegadas, mas foram já reconhecidas pegadas de saurópodes, de vários tamanhos”, acrescenta a nota publicada no dia 28.
João Carvalho explicou à ‘Agência Lusa’ que manteve a descoberta em segredo até agora para garantir a sua preservação. Com a Pedreira do Galinha já salvaguardada e com a Jazida com as pegadas de Vale de Meios (Santarém) incluída na lista dos 200 geossítios mais importantes globalmente, o responsável sentiu que era o momento certo para partilhar este novo capítulo da história natural. Ambas estão situadas no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros.
Por outro lado, a necessidade de divulgar a descoberta surgiu devido à existência de atividades de todo-o-terreno clandestinas na área. Para que o local seja preservado, o responsável defende a criação de um percurso pedestre para ligar este achado ao Monumento Natural Ourém ‒ Torres Novas, à semelhança da existência de outros na zona.
“As pessoas que caminham aqui são pessoas que preservam e que gostam da natureza”, adiantou, realçando a possibilidade de “poderem ver 'in situ'” pegadas de dinossauros. Para João Carvalho, "era muito importante deixá-las quase como elas estão", mas limpar e sinalizar, além de impedir a realização de atividades motorizadas.
A descoberta, segundo a investigadora Vanda Santos, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, apesar de desafiante, “vai trazer mais informação, complementar”, ao que já se conhece da Pedreira do Galinha ou de Vale de Meios.
Um caminho de descoberta
Na Pedreira do Galinha existe já “um conjunto de 20 trilhos produzidos por dinossauros", com marcas de pés e de mãos bem definidas. Um desses percursos, com 147 metros, é "o mais longo que se conhece produzido por dinossauros herbívoros e quadrúpedes de pescoço e cauda longos", explicou José Alho, vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa Vale do Tejo com o pelouro do ambiente.
O mais interessante é que pode conhecê-los através de um circuito de visitação à laje onde estão as pegadas. Em breve, quem sabe, também poderá ver os da nova descoberta.
Sim, porque já há planos para criar um percurso pedestre natural e “sem o artificializar”, que ligue este achado ao Monumento Natural, promovendo uma experiência educativa e de respeito pelo meio ambiente.
Torres Novas acaba de ganhar mais um capítulo fascinante na sua já rica herança geológica. Esta descoberta é mais do que apenas um conjunto de pegadas; é uma janela para um mundo há muito desaparecido, um lembrete de que a Terra está repleta de histórias à espera de serem contadas.