De norte a sul de Portugal Continental: em que estado estão as albufeiras no arranque de novembro?
O final de outubro evidencia variações significativas nos níveis de armazenamento das barragens em Portugal Continental, com algumas bacias a enfrentar algumas reduções preocupantes. Na última semana, entre 21 e 28 de outubro, verificou-se uma redução de 92 hm3 em termos de volume total armazenado.
Com o findar do mês de outubro, o cenário das barragens em Portugal Continental evidencia algumas variações consideráveis nos níveis de armazenamento de água, refletindo tanto os desafios naturais como as escolhas políticas e infraestruturais na gestão dos recursos hídricos do país.
De acordo com o último boletim hidrológico, atualizado a 28 de outubro de 2024, quatro das bacias hidrográficas monitorizadas registaram um aumento no volume armazenado em relação ao relatório anterior de 21 de outubro, enquanto onze bacias mostraram uma diminuição. A ausência de precipitação em várias regiões continua a pressionar os recursos disponíveis, reforçando a necessidade de soluções adaptativas e de estratégias de gestão hídrica mais sustentáveis.
Níveis de armazenamento. Qual é a situação atual e a comparação histórica?
Atualmente, 33% das albufeiras em Portugal Continental apresentam volumes de água superiores a 80% da sua capacidade total, uma situação relativamente positiva, que assegura o abastecimento hídrico de algumas regiões do país. No entanto, 19% das albufeiras continuam a apresentar valores inferiores a 40% da sua capacidade total, uma realidade preocupante que pode trazer desafios para o abastecimento urbano, agrícola e industrial, principalmente em caso de prolongamento de condições secas.
Comparando a situação com a média histórica para o mês de outubro, entre os anos hidrológicos de 1990/91 e 2023/24, os níveis de armazenamento no final do mês de outubro de 2024 mostram-se, de forma geral, superiores a essa média, à exceção das bacias hidrográficas do Mira (37,2%), Arade (31,1%), Ribeiras do Barlavento (12,6%) e Ribeiras do Sotavento (27,1%).
Estas áreas, situadas no sul do país, são historicamente vulneráveis à escassez hídrica e, este ano, não têm escapado à tendência de baixa disponibilidade de água. A situação nestas bacias é particularmente preocupante, uma vez que o sul de Portugal enfrenta níveis de precipitação mais baixos e mais irregulares comparativamente com outras regiões.
Acordo hídrico luso-espanhol pode ter impactes em algumas regiões hidrográficas e, em particular, no Tejo
Face a um cenário de grande variabilidade do armazenamento hídrico das bacias hidrográficas em Portugal Continental, não é possível de descurar uma análise que considere a interdependência hídrica com Espanha, particularmente no que diz respeito ao rio Tejo.
Na Cimeira Luso-Espanhola, realizada a 23 de outubro de 2024 em Faro, foi anunciado um acordo entre os dois países para o estabelecimento de um regime de caudais mínimos diários no Tejo. Este acordo, embora visto como um avanço na gestão conjunta dos recursos hídricos, não foi suficiente para acalmar as preocupações de movimentos ambientais, como o ProTejo, que se manifestaram contra os termos negociados, considerando-os insuficientes para assegurar um caudal ecológico sustentável.
Também perante uma perspetiva de aumento da pressão sobre os recursos hídricos em território nacional, resultante do crescimento populacional como pelos efeitos das alterações climáticas, o governo português tem avaliado alternativas para aumentar a capacidade de armazenamento de água no país.
Estas alternativas, em muitos casos, procuram evitar a construção de novas barragens, devido ao impacte ambiental e aos elevados custos económicos associados. Entre as soluções em estudo encontram-se técnicas de gestão mais eficiente dos recursos já disponíveis e a modernização das infraestruturas de armazenamento, para que sejam mais resilientes e capazes de suportar maiores volumes de água, especialmente em períodos de pluviosidade acentuada.
Apesar dos esforços para adotar soluções mais sustentáveis, algumas regiões continuarão a necessitar de infraestruturas adicionais para garantir o abastecimento, especialmente em condições de seca prolongada. A Barragem do Pisão, no Alto Alentejo, é um dos projetos que já foi aprovado e cuja construção está prevista para ser concluída até 2026.
Esta barragem, incluída no Programa de Recuperação e Resiliência (PRR), é uma resposta direta às necessidades da população local, que há décadas enfrenta escassez de água. Além de abastecimento, o projeto do Pisão pretende criar condições para que a região do Alto Alentejo possa enfrentar de forma mais eficaz os desafios impostos pelas alterações climáticas e pela variabilidade hídrica.
Como se espera que seja o mês de novembro?
Apesar do compromisso assumido por Portugal e Espanha no âmbito da Convenção de Albufeira, que regula a gestão partilhada dos rios internacionais, tal não tem sido fácil de concretizar, e mesmo depois da Cimeira Luso-Espanhola realizada na passada semana, não podemos olvidar os comportamentos hídricos mensais e a influência da meteorologia ao longo das próximas semanas.
Tal como a nossa equipa já deu conta anteriormente, novembro poderá ser consideravelmente mais seco e estável do que outubro em Portugal Continental, segundo as previsões meteorológicas atuais.
Espera-se que a primeira semana completa do mês (4 a 11 de novembro) seja mais seca do que o habitual, especialmente nas regiões Norte e Centro de Portugal, devido à presença de uma crista atlântica e um padrão de bloqueio atmosférico. Este cenário promoverá condições estáveis, o que pode impactar a trajetória do armazenamento de água nas albufeiras portuguesas.