De Coimbra para a Europa. Conheça a história surpreendente da árvore que levou Portugal ao pódio

A sua dimensão e significado cultural fez com que este exemplar com 150 anos fosse considerado uma das árvores mais bonitas da Europa. Saiba tudo.

Figueira dos Amores
A Figueira dos Amores é a Árvore do Ano e uma das mais bonitas da Europa. Foto: DR / Margarida Paes

Se alguma vez se perguntou se as árvores podem contar histórias, a Figueira dos Amores é a prova viva de que sim. Situada nos Jardins da Quinta das Lágrimas, em Coimbra, este colosso vegetal conquistou recentemente o segundo lugar no concurso europeu "Tree of the Year 2025".

Com mais de 43 mil votos, ficou atrás apenas de uma faia polaca que arrecadou mais de 147 mil votos. Ainda assim, estar entre as mais belas e emblemáticas da Europa já é uma distinção e tanto.

Em terceiro lugar ficou um pinheiro apresentado por Espanha, que recebeu quase 37 mil votos. Ao todo foram registados mais de 400 mil votos. As árvores mais votadas, com 15 países a concurso, foram anunciadas a 15 de março numa cerimónia no Parlamento Europeu.

Mas o que torna esta figueira plantada em Coimbra tão especial?

Além da sua imponente presença, que desafia o tempo, a sua história está entrelaçada com a lenda de Pedro e Inês, o casal romântico mais famoso de Portugal. Curioso?

Diz-se que junto à Fonte dos Amores, localizada nas proximidades, os dois amantes trocavam olhares e promessas, imortalizando aquele espaço na memória coletiva.

Apesar de a árvore ser mais recente que a história de amor, as pessoas que visitavam a fonte começaram a associá-las. "As pessoas dizem logo que Dom Pedro e a rainha (Inês de Castro) estiveram ali. No fundo, a população é que ditou o nome e o nome ficou como Figueira dos Amores e está ali junto aos amores de Pedro e Inês", nota Assunção Júdice, presidente da Fundação Inês de Castro e membro da família que detinha a quinta, citada pela ‘Renascença’.

Figueira dos Amores
Um exemplar especial. Foto: DR / Hugo Pinheiro

O mais interessante é que esta figueira não é uma simples árvore autóctone. De origem australiana, a Figueira dos Amores (Ficus macrophylla) chegou a Portugal no século XIX, fruto de uma troca de sementes entre um aristocrata português apaixonado por botânica e o Jardim Botânico de Sydney. Com o passar dos anos, as suas raízes robustas expandiram-se, criando formas intrincadas que hoje envolvem quem a observa num autêntico cenário de conto de fadas.

“O exemplar da espécie Ficus macrophylla faz companhia a outras árvores majestosas dos Jardins da Quinta das Lágrimas, como é o caso da Araucaria bidwillii, da Sequoia sempervirens, assim como da Árvore-de-Júpiter (Lagerstroemia indica), ou do tulipeiro-da-Virgínia (Liriodendron tulipifera)”, lê-se na ‘Versa’. Ainda assim, foi esta espécie que se destacou entre as várias finalistas a concurso.

2.º lugar no concurso europeu "Tree of the Year 2025"

A competição "European Tree of the Year" não se foca apenas na beleza das árvores, mas também na sua história e significado cultural. A Figueira dos Amores destacou-se entre 15 candidatas finalistas não só pelo seu tamanho impressionante — com 35 metros de altura, 15 de perímetro de tronco e uma copa que se estende por cerca de 40 metros de diâmetro — mas também pela sua ligação ao património histórico e emocional de Portugal.

O concurso da Árvore Europeia do Ano surgiu em 2011,e procura não apenas a árvore mais bonita esteticamente, mas sim uma árvore com uma história de ligação às pessoas da comunidade onde se encontra. É promovido pela "Environmental Partnership Association" (EPA) e pela "Partnership Environmental Foundation", com o apoio da "European Landowners' Organisation" (ELO). A UNAC aderiu pela primeira vez à iniciativa como organizador nacional em 2018, no mesmo ano em que uma árvore portuguesa ganhou o concurso internacional.

No mês passado, quando a espécie foi anunciada como a representante de Portugal, Miguel Júdice, presidente do Hotel Quinta das Lágrimas, afirmou que esta "é talvez a árvore mais icónica do Jardim da Quinta das Lágrimas”. “Achei que tinha potencial para ser a árvore portuguesa do ano, candidatámos e, na sequência da vitória no concurso português, passámos ao concurso europeu", nota, citado pelo 'Diário de Notícias'.

Figueira dos Amores
Vence pela história misteriosa e grandiosidade. Foto: Quinta das Lágrimas

É caso para dizer: “fomos e vencemos”. Embora a porta-estandarte nacional tenha ficado em segundo lugar, o reconhecimento trouxe ainda mais atenção a este tesouro natural.

Os Jardins da Quinta das Lágrimas, já famosos pela sua beleza e pela lenda de Pedro e Inês, atraem visitantes de todo o mundo, e agora têm mais um motivo para serem explorados.

Se ainda não teve a oportunidade de conhecer esta figueira centenária, talvez esteja na hora de fazer uma visita e deixar-se envolver pelo seu mistério e encanto. Afinal, quantas árvores podem dizer que são símbolos de amor eterno e, ao mesmo tempo, estrelas internacionais?

A visita aos Jardins da Quinta das Lágrimas é aberta ao público e vale cada momento. O espaço pode ser explorado diariamente entre as 10:00 e as 18:00 horas, com bilhetes a partir dos 2,50€ (para estudantes) e 5€ para o público geral.

Além da famosa figueira, o jardim oferece recantos românticos, fontes lendárias e uma atmosfera única que convida à contemplação. Seja pelo interesse botânico, pela beleza do lugar ou pela lenda de Pedro e Inês, a experiência é memorável — especialmente para quem procura um passeio diferente, carregado de história e emoção.