D. Dinis morreu há 700 anos. Conheça a história do rei que deixou um legado inigualável em Portugal

Com um longo reinado de quase 46 anos, D. Dinis está entre os monarcas que mais contribuiu para impulsionar a agricultura, o comércio e o ensino no país.

D. Dinis, sexto rei de Portugal
Da defesa da língua portuguesa ao impulso dado ao comércio e à agricultura, o reinado de D. Dinis foi um dos mais bem-sucedidos da monarquia portuguesa. Imagem: domínio público, via Wikimedia Commons

D. Dinis morreu a 7 de janeiro de 1325, vítima de uma angina de peito, ou uma miocardite. A sua morte marcou o fim de um dos reinados mais longos e bem-sucedidos da História de Portugal.

O sexto monarca português deixou um legado difícil de igualar. Introduziu o português como língua obrigatória nos documentos oficiais, definiu as fronteiras atuais do país, criou a primeira universidade portuguesa, no largo do Carmo, em Lisboa, que viria depois a ser transferida para Coimbra, fundou a Marinha Portuguesa, impulsionou a agricultura e o comércio, entre tantos outros feitos.

Há muitos motivos, por isso, para assinalar, em 2025, os 700 anos da sua morte. Lembrar D. Dinis é reconhecer o seu papel como um dos reis que deixou uma marca duradoura e profunda no país.

Culto e amante das artes

A sua visão estratégica resulta de uma educação erudita, tendo sido o primeiro rei português a saber ler e escrever. Foi, aliás, um grande amante das artes e das letras, destacando-se como trovador de cantigas de amigos, de amor e de sátira, que são hoje relíquias da poesia trovadoresca da Península Ibérica.

O gosto pela literatura e pela música é apenas uma das inúmeras facetas de uma figura notável que dedicou os primeiros anos do seu reinado à segurança do território português. Para defender as fronteiras, entrou em guerra com Castela em 1295, conflito que viria a terminar com o Tratado de Alcanises, lavrado a 12 de setembro de 1297.

O acordo previa um período de paz e defesa mútuas de 40 anos, tendo sido igualmente fundamental para estabilizar as fronteiras em zonas de conflito como a Beira e o Alentejo.

Ficará também conhecido como o monarca que fomentou a realização de feiras. Criou as chamadas feiras francas, concedendo a várias povoações diversos privilégios e isenções. Protegeu ainda as exportações para os portos da Flandres, Inglaterra e França, tendo, em 1308, celebrado aquele que é o primeiro tratado comercial com Inglaterra.

Cantigas galaico-portuguesas
D. Dinis é conhecido como o rei trovador, tendo sido ele próprio um compositor reconhecido pela sua obra, além de patrono de outros autores. Imagem: domínio público, via Wikimedia Commons.

Convicto de que a economia do país só poderia prosperar se fosse diversificada, ordenou ainda a exploração de minas de cobre, prata, estanho e ferro, organizando a exportação da produção excedente para outros países do continente europeu.

O rei lavrador

A sua maior empreitada, no entanto, foi a agricultura, daí o seu cognome “O Lavrador”. Procurando envolver toda a população na exploração agrícola, dividiu as terras entre o Douro e o Minho em dezenas em casais, cada uma viria mais tarde a dar origem a uma povoação.

Na região de Trás-os-Montes, o rei adotou um regime em que as propriedades eram entregues a um coletivo que repartia entre si os encargos, serviços e edifícios administrados pela comunidade, tais como o forno do pão, o moinho e a guarda do rebanho.

Entre as várias iniciativas para preservar e proteger os recursos naturais, o Pinhal de Leiria, que durante o seu reinado conheceu um grande aumento da mancha florestal, é apenas a obra mais visível.

A par da preocupação com o desenvolvimento da agricultura, o monarca também foi responsável pela preservação de algumas árvores autóctones, como o sobreiro e a azinheira, mantendo a flora pré-existente e contribuindo para a sua disseminação.

Boa parte das conquistas alcançadas durante o seu reinado só foram possíveis porque D. Dinis foi hábil a gerir os conflitos e a manter a paz com Castela. Na fase final da sua vida, no entanto, não conseguiu evitar a guerra civil, entre 1319 e 1324, que viria a colocá-lo contra o próprio filho na frente de batalha.

A batalha pela sucessão do trono

D. Dinis e a rainha Isabel tiveram dois filhos, mas o rei foi também pai de outros seis rapazes fora do casamento. Afonso, o príncipe herdeiro e futuro rei D. Afonso IV, sentiu-se, desde muito cedo, incomodado com a preferência que o pai demonstrava por Afonso Sanches, um dos filhos bastardos.

Afonso estava convicto de que seria afastado do trono. Nunca saberemos se seria essa a intenção do rei D. Dinis, mas o certo é que ele próprio também já sentira na pele a discriminação por ter sido considerado filho ilegítimo.

Por ter nascido em 1261, antes do casamento dos pais ser reconhecido pela Santa Sé, a sua sucessão foi também contestada, em 1281, pelo irmão mais novo D. Afonso, originando vários conflitos que acabaria por vencer.

Quase quatro décadas mais tarde, D. Dinis volta a sentir-se ameaçado, desta vez pelo filho. O príncipe Afonso, do outro lado, receava que o pai entregasse o reino ao meio-irmão.

Em dezembro de 1323, pai e filho encontram-se em pleno campo de batalha. Os historiadores acreditam que o confronto terá ocorrido em Alvalade, nos terrenos onde estão hoje o edifício da sede da CGD e o Palácio de Galveias, em Lisboa.

O conflito, que se esperava sangrento, acabou, no entanto, por ser travado por uma intervenção de última hora.

D. Dinis e Rainha Isabel
Retrato do rei D. Dinis e da rainha Isabel, que está exposto na Sala dos Capelos da Universidade de Coimbra. Imagem: Carlos Falch, CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons.

D. Isabel surgiu inesperadamente no meio dos dois exércitos, montada numa mula e avançou destemida, ignorando os acesos combates. Rezam as crónicas da época que, respeitada por todos, ninguém ousou afrontá-la e a batalha terminou.

A 26 de fevereiro de 1324, o acordo de paz entre pai e filho foi, finalmente, assinado em Santarém. D. Dinis afastou o filho bastardo do cargo de mordomo-mor, obrigando-o ainda a exilar-se em Castela, naquele que será um dos últimos atos enquanto rei.

A 7 de janeiro de 1325 e com um reinado de quase 46 anos, D. Dinis morreu aos 63 anos, bastante velho para a época. Ao seu lado, no leito de morte, teve a rainha D. Isabel, o infante D. Afonso e ainda três dos filhos bastardos. O cortejo fúnebre seguiu das ruas de Lisboa até ao Mosteiro de Odivelas, onde foi sepultado, conforme a sua vontade, expressa em testamento.

Referências do artigo

Arquivo Municipal de Lisboa. Dinis. 1261-1325, rei de Portugal.

Museu de Lisboa. A Rainha Santa Isabel de Aragão no Campo da Batalha de Alvalade.

Agrupamento de Escolas D. Dinis (Lisboa). D. Dinis, Rei de Portugal