Custos de produção da alimentação animal subiram 25 a 30% depois da Covid e da guerra na Ucrânia

Santarém recebe esta semana 500 participantes para as XIII Jornadas e II Fórum de Alimentação Animal. Os industriais e as explorações agropecuárias pedem ao Governo que mantenha a isenção do IVA, em 2025, nas transações do setor.

Soja
A Associação dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais (IACA) teme que “a investida” da China faça “prever o aumento dos custos dos principais cereais e oleaginosas”, nomeadamente o milho, o trigo e a soja. Matérias-primas muito “relevantes para Portugal, dada a dependência crónica” destes cereais importados.

O fator de produção mais relevante da atividade agropecuária - a alimentação animal - vai estar em discussão esta semana - dias 18 e 19 de setembro -, em Santarém. São esperados 500 participantes para as XIII Jornadas e II Fórum da Alimentação Animal, organizados pela IACA - Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais e pelo FeedInov CoLAB - Laboratório Colaborativo para a investigação e inovação em alimentação animal.

A alimentação animal, que representa até 70% do custo de produção da atividade pecuária e que, por sua vez, representa 36% da economia agrícola nacional, está a braços com “um sobrecusto de 25 a 30% face aos preços praticados em 2019", antes da situação pandémica da Covid-19, da guerra na Ucrânia e da intensificação do conflito israelo-palestiniano em Gaza.

Quem o diz é a IACA, que agrega 55 associados - empresas de alimentos compostos para animais, pré-misturas e aditivos –, e representa 80% da produção nacional de alimentos compostos para animais e a totalidade das pré-misturas de produção nacional.

A este contexto negativo, diz a Associação dos produtores de rações, ”juntam-se os custos de energia tendencialmente em alta, as exigências ambientais europeias, como o regulamento sobre a desflorestação (EUDR), e uma nova vaga de tensões no triângulo Europa, Estados Unidos e China, com o consequente e previsível incremento de custos nas matérias-primas e ingredientes para a alimentação animal”.

Revisão do Regulamento Anti-Desflorestação

Recorde-se que o novo Regulamento Anti-Desflorestação da União Europeia (EUDR) entrou em vigor a 29 de junho de 2023, mas apenas começará a ser aplicado a 30 de dezembro deste ano, para operadores e comerciantes, e em junho de 2025 para pequenas e microempresas. A lei proíbe a importação de produtos oriundos da destruição ou degradação de florestas ou a exportação dos mesmos para outros mercados.

O próprio ministro da Agricultura de Portugal, José Manuel Fernandes, defendeu no último sábado, em declarações à agência Lusa à margem da reunião ministerial do G20 que decorreu no estado do Mato Grosso (Brasil), a revisão do regulamento comunitário que restringe a importação de alimentos relacionados com a desflorestação. O governante entende que é um diploma com “boas intenções", mas que "tem repercussões contrárias aos objetivos”.

O certo é que todo este contexto está a preocupar os industriais e os proprietários das explorações pecuárias, muitas delas com “problemas de tesouraria”. Essa a razão por que, nestas XIII Jornadas e II Fórum da Alimentação Animal vão apelar ao Governo, na pessoa do ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, para que “mantenha no Orçamento do Estado para 2025 a isenção do IVA nas transações deste setor", que está prevista terminar em 31 de dezembro.

Instabilidade geopolítica internacional

O setor considera “positiva a desaceleração dos últimos meses nos preços das matérias-primas mais relevantes para a atividade, como os cereais”. Contudo, “a instabilidade geopolítica internacional”, “os regulamentos ambientais” da União Europeia, designadamente, o Regulamento Europeu sobre Desflorestação - “que limitará a quantidade de soja disponível no mercado em total cumprimento com a legislação” -, ”fazem prever aumentos nos custos de produção de 25 a 30 milhões de euros por ano nos alimentos para aves, suínos e bovinos em Portugal, diz a IACA.

Ora, as aves, suínos e bovinos são “os animais produtores das principais fontes de proteína da alimentação humana no nosso país”. Porém, “no contexto europeu e, tendo em conta toda a fileira agropecuária, os custos adicionais ascendem a 2,25 mil milhões de euros”. Isto, além dos “desafios” associados às “tensões com a China”, que “não faz excluir uma nova vaga de acumulação de stocks, alerta Jaime Piçarra, secretário-geral da IACA.

Bovinos
As aves, suínos e bovinos são “os animais produtores das principais fontes de proteína da alimentação humana no nosso país”. Porém, “no contexto europeu e, tendo em conta toda a fileira agropecuária, os custos adicionais ascendem a 2,25 mil milhões de euros”, diz a IACA.

O responsável da Associação dos industriais de alimentos para animais teme, aliás, que “a investida” da China faça “prever o aumento dos custos dos principais cereais e oleaginosas”, nomeadamente o milho, o trigo e a soja. Matérias-primas muito “relevantes para Portugal, dada a dependência crónica” destes cereais importados.

A dependência crónica da importação de cereais por parte de Portugal motiva, por isso, “um segundo pedido por parte da indústria nacional” ao Governo, exigindo “a definição de uma política de stocks estratégicos”.

Para tal, diz o secretário-geral da IACA, é também “imprescindível solucionar o problema da armazenagem, pública e privada, nomeadamente, no que respeita à situação da SILOPOR, que está em liquidação há 24 anos. Tudo isto põe em causa a segurança do abastecimento".

Outro dos temas em cima da mesa nas XIII Jornadas e II Fórum da Alimentação Animal é a evolução da nutrição da alimentação animal ao longo dos últimos 30 anos, designadamente “os ganhos de eficiência, que permitiram uma democratização da alimentação ao serviço das pessoas”.

Uma matéria que está relacionada com as conquistas em termos de investigação, desenvolvimento e inovação nesta área, nomeadamente no que respeita à “promoção da saúde e bem-estar animal e da sustentabilidade ambiental do setor, sem comprometer a produção de alimentos”, refere Romão Braz, presidente da IACA e do FeedInov CoLAB.

"A discussão sobre a evolução da alimentação animal nos últimos 30 anos é um desígnio que a todos deve motivar: é um setor que tem vindo a sofrer processos de concentração e verticalização que o tornam cada vez mais competitivo e inovador”, afirma o empresário. E essa evolução, diz, “contribui de forma decisiva para a segurança e soberania alimentar de Portugal".