Cristas anticiclónicas têm sido 'inimigas' de Portugal nas últimas semanas, avisa a meteorologista Teresa Abrantes

O mês de agosto de 2024, em Portugal continental, classificou-se, do ponto de vista climatológico, como um mês muito quente em relação à temperatura do ar e muito seco em relação à precipitação.

Calor
Em Portugal continental o mês de agosto foi muito quente.

O estado do tempo, no continente e no mês de agosto, foi caracterizado predominantemente pela influência de cristas anticiclónicas, com a formação na Península Ibérica da depressão de origem térmica. A precipitação fraca que ocorreu em alguns dias foi devida à aproximação ou passagem de superfícies frontais frias em dissipação.

No entanto, temporariamente, a formação de núcleos depressionários ao largo da Península Ibérica, com expressão em altitude foram responsáveis por alguns aguaceiros fortes, trovoada e rajadas que ocorreram em alguns locais da região de Bragança e da Guarda.

Temperatura foi, de novo, acima do normal para o mês de agosto

De acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, IPMA, em Portugal continental, no mês de agosto, o valor médio da temperatura média do ar, 23.85 °C, foi 1.17 °C superior ao valor normal no período 1981-2010, sendo o 10º agosto mais quente desde 1931.

O valor médio da temperatura máxima do ar, 31.08 °C, foi 1.66 °C superior ao valor normal 1981-2010, sendo 8º valor mais alto desde 2000. Valores de temperatura máxima do ar superiores aos deste mês ocorreram em 10% dos anos, desde 1931.

O valor médio da temperatura mínima do ar, 16.62 °C, com uma anomalia de 0.67 °C acima do valor médio, foi o 6º valor mais alto desde 2000.

Anomalias da temperatura
Anomalias da temperatura média do ar no mês de agosto, em Portugal continental, em relação aos valores médios no período 1981-2010. Fonte: IPMA

O maior valor da temperatura máxima do ar foi 45.6 °C e registou-se em Pinhão, no dia 10, o menor valor da temperatura mínima 5.8 °C ocorreu em Carrazeda de Ansiães, no dia 28, enquanto o valor mais alto da temperatura mínima do ar, 28.0 °C, foi registado no dia 17 na estação de Portalegre.

Valores de temperatura máxima do ar superior ou igual a 40 °C, dias extremamente quentes, ocorreram em 15% das estações meteorológicas nos dias 10 e 16 de agosto e em 10% das estações nos dias 9 e 17.

Ao longo do mês verificou-se um período quente relativamente longo (3 a 21 agosto) com alguns dias a apresentarem temperaturas máximas do ar muito superiores ao valor médio mensal, com desvios superiores ou iguais a 4.0 °C.

Ocorreu uma onda de calor no período de 15 a 21, com 6 estações meteorológicas do continente, em especial no Alentejo, a registarem uma duração de 7 dias.

É de assinalar a ocorrência de noites tropicais (temperatura mínima igual ou superior a 20 °C), em todos os dias do mês, sendo de destacar os dias 10 e 18 com mais de 30% das estações meteorológicas a registarem uma temperatura mínima do ar igual ou superior a 20 °C.

A precipitação esteve muito abaixo dos valores médios para agosto

O mês de agosto de 2024, foi o 5º mais seco desde 1931 e o mais seco dos últimos 35 anos, registou um total de precipitação mensal de 0.7 mm, que corresponde a apenas 6% do valor médio 1981-2010, com uma anomalia de -10.7mm.

Anomalias da precipitação
Anomalias da quantidade de precipitação, no mês de agosto, em Portugal continental, em relação aos valores médios no período 1981-2010. Fonte: IPMA

No mês de agosto não se registou precipitação significativa em todo o território, verificando-se mesmo ausência de precipitação em toda a região sul.

O maior valor da quantidade de precipitação em 24h foi 5.5 mm e registou-se em Montalegre, no dia 31, onde se registou também o maior valor mensal da quantidade de precipitação em agosto, 6,2 mm.

Monitorização da Seca – Índice PDSI

No mês de agosto verificou-se uma diminuição dos valores de percentagem de água no solo em todo o território de Portugal continental, destacando-se as regiões do interior Norte e Centro, vale do Tejo, Baixo Alentejo e Algarve com valores inferiores a 10%.

De acordo com o Índice Meteorológico de Seca, PDSI, índice meteorológico de seca calculado pelo IPMA para monitorização da situação de seca, no final de agosto verificou-se um aumento da área em seca meteorológica que se estendeu a toda a região interior Norte e Centro. No final de agosto cerca de 82% do território estava em seca meteorológica fraca a severa.

A sul do Tejo predominam as classes de seca moderada e severa, destacando-se os distritos Beja, região interior, e Faro, região sotavento, com vários locais na classe de seca severa.

Em termos de distribuição percentual por classes do índice PDSI no território continental, no final de agosto verificava-se 0.6% na classe de chuva fraca, 17.6% na classe normal, 32.7% na classe de seca fraca, 35.3% na classe de seca moderada e 13.8% na classe seca severa.