Crise hídrica em Portugal mantém-se em níveis significativos no mês de novembro de 2023
Portugal mantém os mesmos problemas de armazenamento de água em novembro de 2023, com o Algarve a registar a sua pior situação histórica. O aumento desigual nos níveis de água nas albufeiras destaca a urgência de medidas drásticas.
Num contexto de agravamento da escassez de água, Portugal enfrenta uma preocupante crise hídrica no mês de novembro de 2023. Dados revelados pelo último boletim hidrológico, comparado com o relatório anterior, indicam um aumento global no volume armazenado em diversas bacias hidrográficas, mas a situação está longe de ser homogénea em todo o país.
Crise hídrica no Algarve: alerta para a pior situação da região e possíveis medidas drásticas
O relatório do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH) destaca que 39% das albufeiras monitorizadas apresentam disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total, enquanto 20% registam disponibilidades inferiores a 40% do volume total.
O aumento geral no armazenamento, quando comparado às médias históricas de novembro de 1990/91 a 2022/23, é evidente em várias bacias hidrográficas, com exceções notáveis, incluindo as bacias do Mondego, Sado, Alentejo, Mira, Arade ou Ribeiras do Barlavento.
No entanto, uma voz crítica surge do Algarve, onde José Pimenta Machado, vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), alerta para a pior situação alguma vez registada na região. No Encontro Nacional de Entidades Gestoras da Água, Pimenta Machado destacou uma redução significativa de 30 hectómetros cúbicos nas albufeiras algarvias em comparação com o ano anterior.
A preocupação é palpável, e medidas drásticas podem ser tomadas pela APA já em janeiro ou fevereiro. Enfatiza-se, aliás, a necessidade de monitorização rigorosa, mencionando a possibilidade de medidas difíceis para garantir que a falta de água seja evitada. Contudo, é de destacar a importância do controlo no consumo de água e o reforço da fiscalização das águas subterrâneas como potenciais estratégias de mitigação.
A situação no Algarve é particularmente crítica, destacando-se também que a região está na sua pior condição histórica, o que ressalta a importância de avaliar tudo com base nas reservas de água. Note-se, por exemplo, que o consumo humano na Bacia do Rio Mira, no Alentejo, está neste momento mais assegurado do que no Algarve.
A necessidade de medidas urgentes e investimentos sustentáveis
De acordo com o último boletim do SNIRH, cinco das albufeiras têm armazenamento inferior a 20%, incluindo Campilhas (6%), Monte da Rocha (8%), Vigia (16%), Arade (15%) e Bravura (8%) – estas duas últimas localizadas no Algarve. A situação agrava-se a cada ano, destacando a vulnerabilidade da região face à iminente crise hídrica.
A expectativa de chuvas acima da média nas próximas semanas é uma notícia bem-vinda para as barragens que alimentam estas regiões. De acordo com as previsões avançadas pelos modelos de referência da Meteored (ECMWF), uma anomalia de precipitação positiva é esperada, indicando um período de precipitação acima da média da normal. Estas condições climático-meteorológicas são particularmente significativas entre os dias 4 e 11 de dezembro, abrangendo todo o território do Continente, inclusive as regiões do Alentejo e Algarve.
De qualquer forma, há muito caminho a fazer para encarar os períodos críticos associados a estes problemas.
Tal como já temos vindo a dar conta ao longo do ano de 2023, vários investimentos estão em curso na região do Algarve para encontrar fontes alternativas, incluindo a construção de uma dessalinizadora em Albufeira. Estão previstos também vários investimentos públicos, provenientes do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e de fundos europeus, destinados a aumentar a resiliência hídrica.
Não é descurar, de todo, que a crise hídrica em Portugal, especialmente no Algarve, obriga a analisar com urgência abordagens sustentáveis e a necessidade de medidas imediatas para garantir a segurança e sustentabilidade hídrica no país. O controle do consumo e a procura por fontes alternativas emergem como elementos cruciais na resposta a esta crise que se desenha como uma das mais sérias na história recente de Portugal.