Crise climática coloca em risco a vida de mais de 160 elefantes no Zimbabué

Os especialistas em vida selvagem apontam a seca como um dos principais fatores para a morte de elefantes no parque nacional de Hwange. Estará a crise climática a fazer com que estes acontecimentos pareçam normais?

Parque Nacional de Hwange
Mais de 160 elefantes morreram entre agosto e dezembro do ano passado no Zimbabué devido à seca e falta de água. Fonte: Parque Nacional de Hwange

De acordo com um artigo do The Guardian, pelo menos 160 elefantes morreram devido à seca que atingiu o Zimbabué e, como o tempo quente e seco deverá continuar, como preveem os especialistas, é provável que ocorram mais mortes.

Estas mortes ocorreram o ano passado (2023), entre os meses de agosto e dezembro, no Parque Nacional Hwange no Zimbabué com 14.651 km2, que alberga elefantes, búfalos, leões, chitas, girafas e outras espécies em vias de extinção.

Mais recentemente, pelo menos seis outros elefantes foram encontrados mortos fora do parque, em incidentes suspeitos de caça furtiva. Os elefantes que morreram eram maioritariamente jovens, velhos ou doentes.

Infelizmente este acontecimento já não é novidade neste parque. Em 2019 morreram mais de 200 elefantes em 2 meses devido à falta de água.

De acordo com Trevor Lane, chefe do grupo de conservação Bhejane Trust, em 2023, não houve precipitação entre fevereiro e novembro no parque de Hwange, intensificando-se assim as secas em toda a África.

"Houve baixa nutrição, temperaturas muito elevadas e escassez de água, isto contribuiu para um stress maciço e poderá voltar a acontecer em 2024."

Trevor Lane, chefe do grupo de conservação Bhejane Trust

Seca extrema pode ser resultado do El Niño?

Segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), desde outubro de 2023 e até março de 2024 estará vigente o forte fenómeno climático El Niño, que resultará em tempo quente e seco e pouca precipitação.

No final de 2023, a maior parte do Zimbabué terá recebido menos de 50% da precipitação sazonal acumulada, em comparação com a média a longo prazo.

Mãe e cria
Um elefante adulto necessita de 200 litros de água por dia, mas a população em Hwange é de 45 mil elefantes e a água é escassa. Fonte: Wikimedia Commons

Para tentar dar resposta a este desequilíbrio, os grupos de conservação em Hwange estão a abrir mais furos, numa tentativa de espalhar os elefantes por áreas onde a comida está mais facilmente disponível.

"Precisamos de entrar em pânico com a possibilidade de as alterações climáticas fazerem com que as perdas de animais deste ano devido ao tempo seco pareçam normais."

Conservacionista envolvido em Hwange

Estão também a instalar sistemas de energia solar nos furos existentes para prolongar as horas de bombeamento de modo a satisfazer a pressão esperada na estação quente a partir de agosto.

De acordo com o relato de uma conservacionista, durante uma contagem em setembro, mais de 1.800 elefantes estavam a tentar beber de uma única fonte de água.

A caça furtiva no Zimbabué

Com o agravamento das condições de seca, o ressurgimento da caça furtiva de marfim está também a ameaçar os elefantes e outros animais selvagens do Zimbabué.

Em janeiro, foram registadas seis novas mortes de elefantes em Gwayi, uma zona situada nos arredores do parque de Hwange, que foram atribuídas à caça furtiva por grupos de conservação e de defesa do ambiente.

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A Associação de Direito Ambiental do Zimbabué declarou em comunicado que o incidente de caça furtiva em Gwayi se desenrola num contexto de escalada do comércio ilegal de animais selvagens e de crimes contra a vida selvagem. Este aumento da caça furtiva de animais selvagens pode ser atribuído à situação económica no Zimbábué.

Em dezembro, com a aproximação da época das vacas magras, a Rede de Sistemas de Alerta Precoce contra a Fome afirmou que as reservas alimentares produzidas pela maioria das famílias pobres esgotaram-se e a segurança alimentar da maior parte do país encontrava-se em níveis de stress ou de crise.

No entanto, a Zimparks está a par da situação no que diz respeito à caça furtiva de elefantes e à seca extrema no Zimbabué, garantindo continuar a fazer cumprir a lei e a vigilância.