Cortaderia selloana - um perigo escondido
Vistosas e exuberantes, assim são as plumas de erva-das-pampas (Cortaderia selloana). Muitas usadas para ornamentação escondem, no entanto, alguns perigos quer para a saúde pública quer para a biodiversidade. Saiba mais aqui!
Originária da Argentina e do Chile, a erva-das-Pampas chegou a Portugal como planta decorativa de jardins e quintais, mas hoje o seu crescimento no território está a ser alarmante.
Esta planta sul-americana Cortaderia selloana expandiu-se mundialmente numa variedade de países, incluindo os EUA, Austrália e Europa Ocidental. Em muitos desses locais, espalhou-se de forma impressionante e agora foi classificada como uma espécie invasora.
Em Portugal é uma espécie exótica e invasora, sendo uma espécie que domina o ecossistema desequilibrando o seu funcionamento. A estas características juntam-se ainda outras, igualmente desfavoráveis, como terem grande potencial alergénico, as suas folhas podem provocar cortes e terem uma capacidade de dispersão muito elevada, uma vez que cada pluma pode ter milhares de sementes muito leves.
O caráter invasor da espécie é dado pela sua alta capacidade de adaptação a múltiplos ecossistemas, uma vez que não requer grandes exigências ecológicas, mas é capaz de sobreviver em condições extremas em relação a outras espécies nativas.
A erva-das-pampas suporta tanto as condições de seca como as mais húmidas, vive em solos pobres e com pouco substrato, tolerando até mesmo alguma salinidade no solo e nas águas circundantes. Um fator limitante da sua distribuição são as condições termoclimáticas, preferindo ambientes com temperaturas amenas, embora tolerando geadas pontuais.
Estes requisitos limitados fazem com que a erva-das-pampas seja uma das primeiras espécies a implantar-se e a colonizar ambientes degradados, tais como solos removidos, nos quais tenha sido retirada a cobertura vegetal do horizonte orgânico superficial, como por exemplo, pedreiras, instalações industriais, às margens de estradas e ferrovias.
Relativamente às suas consequências na saúde pública, um estudo realizado numa região europeia na costa norte da Espanha, na Cantábria, publicado na revista Nature, chegou à conclusão de que a erva-das-Pampas pode causar alergias respiratórias numa extensão semelhante às gramíneas locais.
Este é o primeiro estudo relatado sobre os efeitos da impressionante expansão da Cortaderia selloana na saúde humana, não apenas pelos efeitos diretos, mas também por permitir infeções.
Considerando o forte impacto que as alergias respiratórias têm na população, estes resultados sugerem que a Cortaderia selloana pode atualmente constituir um relevante problema de saúde ambiental, uma vez que o pólen de gramíneas é uma das principais causas de alergias respiratórias em todo o mundo e a primeira causa na América do Norte e Europa, com cerca de 20% da população afetada.
Esse risco deve somar-se ao impacto ecológico, a fim de estimular os esforços de erradicação da Cortaderia selloana de regiões invadidas não autóctones.
Ajudar a combater o problema
A fim de reduzir o impacto da erva-da-pampas sobre o ambiente do Arco Atlântico e combater a propagação da espécie e para a sua eliminação na natureza, foi criado, em 2018, o projeto LIFE Stop Cortaderia, um projeto luso-espanhol, co-financiado pela União Europeia, na procura de soluções para este problema.
Este projeto trabalhará, durante cerca de cinco anos, para gerar conhecimento científico e gestão, que permita lutar contra a erva-das-pampas no Arco Atlântico, ao mesmo tempo que se estabelecem redes de cooperação e coordenação entre os governos de diferentes regiões do Arco Atlântico e se gera uma consciência de massas sobre os problemas causados no meio ambiente, economia e saúde causados pela presença da erva-das-pampas.