Coronavírus: a pandemia vai abrandar na primavera?
À imagem da gripe, entre outras, será que a expansão do coronavírus pode ser retardada pela chegada da primavera e temperaturas mais altas? Os cientistas têm investigado esta questão, mas permanecem muito cautelosos.
"O coronavírus vai desaparecer provavelmente em Abril com o regresso das temperaturas mais elevadas. O calor, geralmente, mata esse tipo de vírus", disse Donald Trump a 7 de fevereiro, desde a Casa Branca. Efetivamente, é tentador pensar que a expansão da epidemia possa ser retardada com a chegada da primavera e do verão. Mas será que isto é mesmo verdade?
Embora este novo coronavírus detetado em Wuhan, China, ainda tenha muitas incógnitas e nenhum tratamento esteja disponível, os cientistas estão a analisar outras três epidemias mortais para traçar analogias e tentar encontrar respostas para a sua evolução face à mudança dos padrões climáticos: a gripe, a SRAS (Síndrome Respiratória Aguda Severa na Ásia) e o MERS (Síndrome Respiratória do Médio Oriente), que ainda está em curso. "O comportamento dos vírus não pode ser generalizado, mas se forem suficientemente próximos (em termos de sequências de genoma), podemos estabelecer hipóteses, nomeadamente, graças ao exemplo do SRAS, que "tem 79% de identidade de sequência" com o atual coronavírus", disse à AFP Isabelle Imbert, especialista em coronavírus da Universidade d'Aix-Marseille.
Que papel desempenha o frio e a humidade?
Como explica o site Accuweather, investigações relativamente recentes sugerem que o ar frio e seco ajuda a manter este tipo de vírus sob controle. Um dos primeiros estudos sobre o assunto publicados em 2007 mostrou que temperaturas e humidade altas tendem a retardar a propagação da gripe. Como é que isto se explica? O ar mais quente retém mais humidade, impedindo que os vírus transportados pelo ar cheguem tão longe quanto o fariam em ar seco.
Além disso, os cientistas colocam a hipótese de que a baixa humidade, frequentemente presente no inverno, poderia ter influências fisiológicas: alteraria a função do muco do nosso nariz, que o nosso corpo utiliza para aprisionar e expulsar corpos estranhos, como vírus ou bactérias. O ar frio e seco pode, portanto, tornar este muco normalmente pegajoso, mais seco e menos eficaz na nossa proteção. Além disso, a maior propagação no inverno explica-se por fenómenos comportamentais: as pessoas vivem mais confinadas quando está frio, o que favorece a transmissão de vírus respiratórios.
Radiação UV enfraquece os vírus
Além disso, a radiação UV, que é mais intensa nos primeiros meses da primavera, podem enfraquecer imenso este tipo de vírus. Na verdade, este tipo de radiação é tão eficaz para eliminar bactérias que é frequentemente utilizada em hospitais para esterilizar os equipamentos. "O que temos visto com vírus do passado, é que há menos propagação viral quando o sol é forte e as temperaturas são quentes de maio a setembro". É possível que a intensidade do sol e o tempo mais quente possam debilitar esses vírus durante os meses de verão", disse o fundador e CEO da AccuWeather, Dr. Joel N. Myers.
No entanto, a comparação tem as suas limitações, especialmente quando olhamos para a epidemia da SRAS que começou a alastrar-se em novembro de 2002 e durou até ao início de Julho, diz a National Geographic. Também o MERS-Cov, outra epidemia, começou em setembro de 2012 na Arábia Saudita, onde as temperaturas são geralmente altas.
Além disso, o coronavírus também começou a circular localmente no Médio Oriente, nomeadamente no Irão e nos Emirados Árabes Unidos, pelo que não é possível afirmar que um tempo mais quente possa literalmente eliminar este vírus.
Difícil tirar conclusões
Por fim, o epidemiologista de Harvard, Marc Lipsitch, também realça que "ao inverso, pode agravar-se no hemisfério sul à medida que as estações mudem". Assim, a evolução da epidemia de Covid-19 é, de momento, impossível de prever.
Perante este cenário, as autoridades de saúde insistem que as medidas ativas de prevenção e contençãosão essenciais para impedir a sua propagação. David Heymann, da London School of Hygiene and Tropical Medicine, também entrevistado pela National Geographic, conclui que a "contenção até a eliminação" deve ser a estratégia a ser seguida nas próximas semanas.