COP 28, a grande mentira: revelado plano para fechar negócios petrolíferos na cimeira do clima

Segundo documentos divulgados, os Emirados Árabes Unidos gostariam de aproveitar a reunião para obter acordos sobre petróleo e gás. A COP 2023 terá lugar a partir de quinta-feira, 30 de novembro, no Dubai, embora as negociações (supostamente climáticas) já tenham começado.

logótipo transparente da COP 28 em frente a uma refinaria de petróleo
A reunião sobre o clima deveria procurar reduzir a utilização de combustíveis fósseis, que agravam o aquecimento global. No entanto, a cimeira sobre o clima parece ter segundas intenções.

A emergência climática agrava-se todos os dias em todos os cantos do mundo, e é supostamente para procurar fórmulas de mitigação e adaptação a esta realidade que os líderes mundiais se reúnem anualmente na cimeira do clima convocada pela Organização das Nações Unidas (ONU).

A questão é que, para além dos constantes fracassos nas negociações desde o seu início em Berlim, em 1995, o anfitrião da COP 28 tem outros planos que apontam na direção oposta ao objetivo da reunião climática mais importante do planeta, que começa a 30 de novembro.

De acordo com documentos obtidos por jornalistas independentes do Centre for Climate Reporting, o país anfitrião de 2023, os Emirados Árabes Unidos, planeava aproveitar esta reunião para fechar negócios sobre petróleo e gás.

Lembre-se, leitor desprevenido, que um dos objetivos destes conclaves é reduzir, mas deveria ser eliminar, a queima de combustíveis fósseis (petróleo, gás e carvão) das cadeias de produção mundiais.

Sem vergonha

"As reuniões privadas são privadas", disse a equipa dos Emirados Árabes Unidos (EAU) à BBC, sem negar a utilização das reuniões da COP28 para encorajar acordos sobre combustíveis fósseis com outras nações no Dubai.

Os documentos revelam os preparativos da equipa dos EAU para a COP 28, que se reunirá com pelo menos 27 governos antes da cimeira climática, que decorrerá de 30 de novembro a 12 de dezembro.

A Cimeira do Clima de 2023 é liderada por Sultan Al Jaber, ele próprio presidente da empresa petrolífera nacional Adnoc, a quarta maior empresa de combustíveis fósseis do planeta.

Muitos levantam a voz, com razão, para assinalar o notório conflito de interesses de Al Jaber, já que a sua posição de chefe da companhia petrolífera nacional dos EAU não é compatível com os objetivos desta reunião, que visa desencorajar a queima de derivados do petróleo, do gás e do carvão.

Revelações

Segundo o que foi revelado, na reunião são incluídos "pontos de discussão", por exemplo, com a China para mostrar que a Adnoc está "disposta a avaliar conjuntamente oportunidades internacionais de gás natural liquefeito" em Moçambique, Canadá e Austrália.

Sugere também que se sublinhe à Colômbia que a empresa estatal dos Emirados Árabes Unidos "está pronta" para ajudar a desenvolver os seus recursos de combustíveis fósseis.

documentos revelados pela BBC
Os documentos foram revelados pela BBC há alguns dias.

E assim há pontos de conversa com outros países, incluindo o Brasil, a Venezuela, a Alemanha e o Egipto, que sugerem que a Adnoc quer trabalhar com os seus governos para desenvolver projetos de combustíveis fósseis, relata a BBC.

Este tipo de conversações, que contrariam o objetivo da COP, não é novo, tal como não o é o "disfarce" que os poderes políticos e económicos aplicam aos relatórios científicos que alertam para o colapso da biodiversidade do planeta no final deste século.

A COP, ex-cimeira do clima, é agora apenas mais uma feira de negócios para os responsáveis pela emergência que estamos a sofrer. Eles nunca perdem, são os protagonistas desta grande mentira.