Conteúdo microplástico descoberto no ecossistema ártico
Cada vez mais locais são negativamente influenciados pela poluição proveniente de polímeros sintéticos, que são utilizados pelos seres humanos. Mesmo as áreas menos habitadas da Terra estão a relatar a existência de microplásticos que poluem vários ecossistemas no nosso planeta.
Recentemente, uma equipa de investigadores da Friedrich-Alexander-Universität Erlangen-Nürnberg (FAU), da Universidade de Bayreuth e do Instituto de Investigação Senckenberg em Wilhelmshaven, Alemanha, descobriram uma grande quantidade de microplásticos no ecossistema do arquipélago de Svalbard, no Oceano Ártico.
Embora se possa pensar que áreas marinhas muito frias não poderiam ter tanta diversidade de espécies oceânicas, pelo contrário, a vida marinha no Ártico é tão diversa como a encontrada em recifes de coral noutras regiões marinhas do mundo.
Uma das razões para esta diversidade são os rodólitos, que são nódulos compostos por algas vermelhas coralinas, a sua estrutura é muito semelhante a uma pequena roseta de milho e o seu tamanho regular é geralmente maior do que um punho.
Neles, há um grande número de nichos ecológicos. Os rodólitos do arquipélago de Svalbard, em particular, têm uma característica única: são ocos. Isto porque certos tipos de moluscos perfuram cavidades nos esqueletos calcários dos rodólitos para se esconderem dos predadores.
Moluscos cheios de microplásticos
"A dada altura, os moluscos morrem e o nódulo oco fornece um esconderijo perfeito para outros organismos devido à sua concha calcária dura", explica o Dr. Sebastian Teichert da FAU. "Podemos chamar aos rodólitos e moluscos 'engenheiros de ecossistemas' porque eles criam um habitat para outros organismos.
Os investigadores examinaram moluscos de vários rodólitos usando espetroscopia, e descobriram uma quantidade espantosa de microplásticos em cada um dos moluscos que examinaram. "Porque os moluscos filtram a água quando se alimentam e porque uma grande proporção do Ártico já está poluída com microplásticos, esperávamos encontrar partículas microplásticas, mas não nesta quantidade e variedade", diz Ines Pyko da FAU.
"Encontrámos até 184 partículas em alguns moluscos constituídos por oito tipos diferentes de plástico", acrescentou ele.
Impacto nocivo sobre o ecossistema ártico
Estudos laboratoriais já demonstraram que os microplásticos podem causar inflamação no tecido dos moluscos. Se os moluscos já não pudessem cumprir a sua função como engenheiros de ecossistemas devido a esta poluição, isto também teria consequências para todos os organismos que são protegidos pelos rodólitos ocos.
Para além das alterações climáticas, é evidente que a poluição por micropartículas representa outra ameaça para este ecossistema ártico que é muito diverso e especial, devido à sua localização e características.
Conclusões da investigação
Embora não seja conhecida a extensão exata dos danos causados aos diferentes ecossistemas, devido à quantidade exorbitante de partículas plásticas e micropartículas, os cenários apontam para uma tendência que poderá levar à extinção e doença de várias espécies marinhas, mesmo numa das áreas mais frias e remotas do nosso planeta.