Conheça oito animais e plantas que só encontra em Portugal
Sabia que, no nosso país, vivem 69 espécies de animais e plantas únicas no mundo? Descubra algumas delas neste períplo pela natureza.

Com cerca de 35 mil espécies de animais e plantas, Portugal é um país rico em biodiversidade. O nosso património natural, segundo a União Internacional da Conservação da Natureza, representa 22% da totalidade das espécies descritas na Europa e 2% das que estão identificadas no mundo.
Entre esta diversidade, há, no entanto, espécies em estado selvagem que só podem ser encontradas no território nacional.
São flores, peixes, aves, répteis ou mamíferos endémicos. Significa isto que, estando isolados em habitats circunscritos, continuaram a evoluir separadamente, dando origem a uma espécie distinta, que, no jargão da ciência, se designa de especiação.
Entre as inúmeras espécies tipicamente portuguesas, destacamos oito que vivem em paisagens tão distintas como as florestas das regiões autónomas dos Açores e da Madeira, os parques naturais da Serra da Estrela ou do Gerês, as grutas algarvias ou as planícies ribatejanas.
Soraia, o antepassado do cavalo selvagem ibérico
O cavalo do tipo Soraia é tido como uma reminiscência do ancestral selvagem do cavalo ibérico. Redescoberto em 1920, o seu habitat está essencialmente circunscrito na zona de confluência entre as ribeiras de Sor e da Raia (daí o seu nome), na charneca de Coruche, onde já foram bastante populares nos trabalhos do campo.

Embora resistente e de temperamento calmo, a sua população está hoje bastante reduzida. São aproximadamente 200 animais, segundo o Censo de 2023, existindo somente em locais para criação e manutenção da raça.
O município de Alpiarça tem, por exemplo, uma reserva natural de 36 hectares, com vinte machos e fêmeas, que pode ser visitada todos os dias da semana durante o ano inteiro.
A salamandra-lusitânica liberta a cauda para fugir dos predadores
A salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitânica) pode ser encontrada em várias áreas protegidas, como o Parque Nacional da Peneda-Gerês, o Parque Natural da Serra da Estrela, o Parque Natural do Alvão, a Paisagem Protegida da Serra do Açor e a Paisagem Protegida da Serra da Gardunha.

Esta é a única espécie de salamandra em Portugal que liberta a cauda quando se sente ameaçada. A sua cauda permanece em movimento o tempo suficiente para atrair a atenção do predador e permitir a sua fuga.
Descoberta pelo zoólogo Vicente Barbosa du Bocage, em 1864, vive nas margens das ribeiras em zonas montanhosas e é considerada uma espécie vulnerável.
O peixinho-de-prata das grutas do Algarve
Vulgarmente conhecido como peixinhos-de-prata ou traças-dos-livros, a espécie tem o nome científico de Squamatinia algharbica e é considerado maior inseto subterrâneo terrestre da Europa.

Descoberto em 2012 pela investigadora da Universidade de Aveiro Sofia Reboleira, apresenta três centímetros de comprimento, sem olhos, despigmentado e possuindo apêndices como antenas. O inseto vive apenas nas grutas do Algarve, desenvolvendo todo o seu ciclo de vida nas profundezas subterrâneas.
Embora seja um género e uma espécie de inseto identificado há pouco mais de uma década, suspeita-se que já superou vários episódios de alterações climáticas.
Perfeitamente adaptada às cavidades das grutas do maciço algarvio, a espécie foi capaz de contornar as condições adversas do ambiente exterior.
O morcego-dos-açores caça de dia e dorme de noite
Nyctalus azoreum é conhecido pelo nome comum de morcego-dos-açores. Endémico das florestas secas dos Açores, pode ser encontrado nas ilhas do Faial, do Pico, de São Jorge, na Terceira, na Graciosa, em São Miguel e em Santa Maria.

Os investigadores desconfiam que se desenvolveu a partir de uma espécie do mesmo género acidentalmente introduzida nos Açores. Juntamente com uma pequena população de Pipistrellus pygmaeus no centro de Itália, é a única espécie de morcegos que caça de dia, provavelmente devido à ausência de predadores. Abriga-se em troncos ocos de árvores, edifícios e cavernas.
Boga-portuguesa ameaçada de extinção
A boga-portuguesa (Iberochondrostoma lusitanicum) vive nas bacias hidrográficas do norte e centro do país e, por estar criticamente em perigo de extinção, encontra-se protegida por lei.
As migrações desta espécie começam logo no início da primavera para conseguirem fazer a desova a montante dos cursos de água corrente com pouca profundidade, onde cada fêmea deposita até sete mil ovos.

É uma espécie com uma longevidade à volta dos 10 anos e torna-se adulta a partir dos 2-3 anos. A sua alimentação baseia-se em invertebrados, principalmente de moluscos, larvas de insetos e pequenas algas.
O declínio acelerado do cravo-das-berlengas
Com cerca de 40 centímetros de diâmetro, Armeria berlengensis é um arbusto que cresce unicamente rochedos graníticos das ilhas Berlengas. A sua floração dá-se entre os meses de abril e maio. Também conhecida como Cravo-das-berlengas, encontra-se em perigo de extinção.

Entre os grandes perigos que a ameaçam a sobrevivência da espécie estão as plantas invasoras, trazidas por visitantes, e as colónias de gaivotas. A sua população está estimada em 6300 exemplares e calcula-se que o seu declínio seja superior a 50% nas últimas duas décadas.
Bis-bis, o pássaro que só voa (e canta) na Madeira
O bis-bis (Regulus madeirensis) é um pássaro endémico do arquipélago da Madeira e membro da família dos régulos. Tem cerca de nove centímetros de comprimento e cinco gramas de peso.

O seu dorso é verde, o peito é esbranquiçado, apresentando ainda listras brancas nas asas e um padrão distinto na cabeça, com uma listra preta nos olhos e uma crista laranja nos machos e amarela nas fêmeas.
Os seus ninhos são constituídos de teias de aranha, turfa e gravetos, suspensos em galhos de árvores e com a forma de uma bola. O bis-bis macho canta durante a época de reprodução, muitas vezes com a crista levantada, e o bico apontado para outra ave.
Zimbro-alpino, a sobrevivente das terras altas
Nas terras altas da Serra da Estrela, o zimbro-alpino (Juniperus alpina) encontrou as condições ideais para prosperar, sendo um endemismo exclusivo da região da Beira Alta. É uma das sete espécies de zimbro que existem em Portugal e todas são conhecidas como plantas que vingam onde outras não conseguem crescer.

O nome do género, Juniperus, deriva das características dos zimbros. A sua origem poderá estar na expressão celta ieneprus (áspero, rude), devido aos espinhos que despontam na extremidade das suas folhas.
Os óleos voláteis encontrados nas suas bagas e folhas são utilizados como diurético para tratar condições que envolvem os rins e a bexiga. Quando consumidas cruas, podem ainda estimular o apetite e facilitar a digestão.
Referência da notícia
NaturData – Biodiversidade Online – Espécies Endémicas de Portugal.