Confirmado pelo Observatório Copernicus: 2024 foi o primeiro ano a cruzar o limite de aquecimento de 1,5 ºC
O Observatório Copernicus, Serviço de Alterações Climáticas europeu, oficializou hoje o ano de 2024 como o mais quente de todos os registos e primeiro a ultrapassar a marca de 1.5 °C; confira os destaques do último relatório.
Não é novidade que o planeta Terra está a aquecer, mas o ano de 2024 acaba de ser oficialmente declarado como o mais quente dos registos e o primeiro a ultrapassar o marco de 1,5 °C acima da média pelo Observatório Copernicus, o Serviço de Alterações Climáticas da União Europeia. O Copernicus faz parte do programa espacial da União Europeia, e foi projetado para monitorizar e fornecer dados detalhados sobre o meio ambiente e questões relacionadas com as alterações climáticas. São responsáveis por uma das bases de dados climáticos mais utilizadas no mundo: a reanálise ERA5, referência para a presente análise.
Esta anomalia é calculada como a diferença entre a temperatura média global de 2024 e a temperatura média global do período pré-industrial, entre 1850 e 1900, e limitar o aquecimento global em 1,5 °C até ao final do século é uma das principais metas do Acordo de Paris, assinado em 2015 entre nações do mundo inteiro. O facto do ano de 2024 ter sido o primeiro a ultrapassar este limiar é alarmante entre a comunidade científica, que entende que poucos esforços a nível mundial estão a ser feitos para combater o aquecimento global - que pode ter impactos irreversíveis na forma de alterações climáticas. Confira a seguir os principais destaques do relatório publicado hoje (10).
2024: o segundo ano-recorde consecutivo
Desde julho de 2023 estão a ser observadas anomalias positivas iguais ou superiores a 1,5 ºC, com muitos meses consecutivos que quebraram o recorde histórico. O ano de 2024 acompanhou esta marcante escalada das temperaturas globais e apresentou um desvio impressionante de 1,6 °C acima da média pré-industrial, destacando-se por ser o primeiro ano da história a completar os seus 12 meses acima do limiar de 1,5 °C. Cada mês de janeiro a junho de 2024 foi mais quente do que o mesmo mês em qualquer ano anterior. Agosto de 2024 igualou o recorde de calor de agosto de 2023, e os meses de julho a dezembro foram os segundos mais quentes para essa época do ano, atrás dos mesmos meses de 2023.
Em 2024, 11 meses e aproximadamente 75% dos dias tiveram temperaturas médias globais do ar na superfície mais de 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais. As maiores anomalias mensais médias ocorreram entre janeiro e abril e de outubro a dezembro, variando de 1,58 °C a 1,78 °C. De maio a setembro, as anomalias mensais ficaram entre 1,48 °C e 1,54 °C.
Além disso, 2024 registou uma temperatura média global de 15,10 °C: a maior temperatura já registada no conjunto de dados, que remontam a 1850. Este valor é 0,12 °C superior à temperatura média de 2023 - que também foi considerado ‘o ano mais quente dos registos’ na época. O dia mais quente de todos os registos ocorreu a 22 de julho de 2024, onde a temperatura média global diária atingiu a marca de 17,16°C.
Trópicos e Hemisfério Norte lideram contribuições para anomalias de temperatura em 2024
Além das comparações com o clima pré-industrial, o Copernicus também realiza uma análise em relação ao clima atual, considerando como referência o período de 1991 a 2020. De acordo com o Observatório, em 2024 cerca de 91% do globo terrestre esteve com temperaturas acima da média de 1991-2020, e os oceanos tropicais (entre as latitudes de 20°S–20°N) e as áreas terrestres das latitudes médias (20°–60°N) do Hemisfério Norte lideraram as principais contribuições para as anomalias de temperatura - seguidas pelas áreas terrestres tropicais e pelos oceanos das latitudes médias do hemisfério sul e norte. Neste cenário, o norte do Canadá experienciou algumas das maiores anomalias, com valores cerca de 3 °C acima da média.
Outro destaque do relatório divulgado pelo Copernicus é que recordes históricos de temperatura foram quebrados em cerca de um terço do planeta (32%). Além disso, 2024 foi o ano mais quente para todas as regiões continentais, exceto Australásia (Austrália e arredores) e Antártida. O mapa abaixo mostra como as anomalias de temperatura representaram eventos extremos nas regiões do globo, baseado em estatística.
A escala de cores de azul para vermelho representa, respetivamente, a classificação dos extremos como: o mais frio; muito mais frio que a média; mais frio que a média; média; mais quente que a média; muito mais quente que a média e, finalmente, o mais quente de todos. Fica bastante evidente que grande parte do globo em 2024 registou o seu extremo mais quente, especialmente a região tropical.
Como será daqui para a frente?
O Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC) trata o papel da ação humana no aquecimento global como inequívoco desde o seu último relatório, em 2023. Isto quer dizer que existem evidências científicas o suficiente que tornam inquestionáveis as contribuições humanas no aquecimento do planeta - ao contrário do que afirmam os negacionistas. Além do facto dos últimos 10 anos terem sido os mais quentes da história, a quebra sucessiva de tantos recordes de temperatura a nível global indica que o aquecimento está acelerado, e faz-nos levantar a reflexão: seria este o primeiro ano de muitos a ultrapassar a marca de 1,5 °C, encaminhando a humanidade para os piores cenários projetados para o clima futuro?
Uma das consequências mais bem estabelecidas sobre o aquecimento global é que o aumento da temperatura reflete no aumento nos eventos extremos, sejam estes secas prolongadas, chuvas torrenciais ou tempestades cada vez mais violentas. Estamos preparados para encarar estas consequências ou o mundo ainda irá unir-se para frenar o aquecimento? Independente da reflexão proposta aqui, a verdade é que precisam de ser tomadas ações, sejam elas de mitigação ou de adaptação.
Referência da notícia
Global Climate Highlights 2024, publicado em 10/01/2025, pelo Copernicus Climate Change Service.