Como se pode proteger um peixe se nem é conhecido o seu habitat?

Certas espécies de peixes, cuja sobrevivência está claramente ameaçada, necessitam de medidas de proteção. Mas como executar estas medidas quando nem sequer é conhecida a sua “morada”? Fique a saber mais sobre este assunto, aqui!

Jacarta.
A capital da Indonésia, Jacarta, é um dos principais mercados consumidores de peixe-cunha, a par de Singapura.

O peixe-cunha-rugoso (Rhynochobatus cooki), ou simplesmente peixe-cunha é um peixe da família das raias, mas com dimensões muito inferiores (os adultos podem chegar aos 81 cm de comprimento). Durante muito tempo, a sua existência só foi comprovada pela sua presença nos mercados tradicionais mais populares de Jacarta, capital da Indonésia e Singapura. Durante cerca de 20 anos não houve qualquer registo da espécie, que se julgou extinta, mas há cerca de 3 anos voltaram a surgir fotografias desta espécie nas redes sociais.

A relação com a comunidade piscatória local é considerada de extrema relevância para estes investigadores.

Sabe-se assim que esta espécie está em perigo de desaparecer, pois consta da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN, na sigla em inglês), categorizada como “Criticamente em perigo (CR)”. Com base nesta classificação, uma equipa de investigadores da Universidade Charles Darwin, em Darwin, na Austrália, composta por australianos, indonésios e norte-americanos espera conseguir identificar claramente os limites do habitat do peixe-cunha, de forma a preservar esta espécie enigmática.

O trabalho destes investigadores já permitiu compreender melhor a distribuição geográfica da população desta espécie. Sabe-se que se concentram maioritariamente a Sudoeste do Arquipélago de Riau, entre a ilha indonésia de Sumatra e a cidade-estado de Singapura.

Estratégias para os próximos anos

Identificada a área de atuação, os investigadores pretendem agora definir um conjunto de estratégias que permita a conservação da população de peixe-cunha e do seu habitat recém-descoberto. Através da análise de ADN ambiental e com a estreita colaboração da comunidade piscatória local foi possível compreender que o peixe-cunha se adapta com facilidade a habitats diversificados, como áreas rochosas, arenosas, com ervas marinhas ou mesmo em recifes de coral.

Na Ilha de Singkep, a Su-Sudeste (SSE) de Singapura e ao largo da costa de Sumatra, foram recolhidas amostras de água em 33 locais diferentes, para posteriormente serem analisadas em busca do ADN desta espécie, numa tentativa de georreferenciar com mais precisão o habitat do peixe-cunha.

A relação com a comunidade piscatória local é considerada de extrema relevância para estes investigadores. Uma grande parte dos pescadores já lidam com esta espécie esquiva há dezenas de anos e as suas contribuições podem ajudar os investigadores a encontrar novas comunidades. Assim, os investigadores vão utilizar as redes sociais para recolher dados dos pescadores locais.

Tendo em conta que a Indonésia é um país em desenvolvimento que muito depende do setor das pescas na economia e no tecido social, é importante promover um esforço de conservação e gestão da espécie.