Como podem as mudanças climáticas influenciar o aumento dos preços?
Embora muitos investidores não estejam cientes das causas da inflação, procuramos aqui dar-lhe conta das principais causas da inflação associadas às mudanças climáticas e alertar para algumas estratégias que podem reduzir a ameaça que este fenómeno representa para os potenciais investidores.
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Os riscos climáticos e as mudanças climáticas globais são responsáveis pelas alterações dos preços das matérias-primas. Apesar de muitos investidores não estarem cientes das causas potenciais da inflação provocadas pelas mudanças climáticas, os riscos estão aí e a procura de soluções para minimizar esta ameaça são fulcrais.
Qual é a relação entre as mudanças climáticas e a inflação?
Os impactes causados no preço das matérias primas podem acarretar uma maior inflação, uma vez que as empresas repassam essa variação dos preços para os consumidores, com a consequente inflação dos custos. Apesar deste processo estar muitas vezes associado, por exemplo, à pressão que é exercida pelo mercado petrolífero, é factual que no futuro as alterações climáticas terão um peso significativo no aumento dos preços.
Monetary policy makers need to understand how climate change influences inflation. Our latest Quarterly Bulletin explores the macroeconomic effects of climate change and the transition to a net-zero economy. https://t.co/B1DO1IXflP pic.twitter.com/MAxTSaEPj8
— Bank of England (@bankofengland) October 21, 2022
Aliás, o aumento dos gastos dos governos e a implementação de regulamentos cada vez mais rígidos no âmbito da descarbonização e transição energética fazem parte dos diversos esforços, a médio e longo prazo, para garantir a adaptação das economias globais. No entanto, tais alterações poderão estimular a inflação a aumentar mais tarde. Entre outras razões, os produtos livres de carbono têm preços muito mais altos do que aqueles que são produzidos com recurso a métodos tradicionais e, portanto, devem ser objeto de reflexão.
E a inflação ocorrerá a nível global?
A inflação apresenta também padrões geográficos distintos. É importante notar que esses efeitos podem variar de região para região e dependerão das condições climáticas específicas e das características económicas locais. De facto, um determinado setor pode sofrer inflação de preços em apenas determinadas regiões, onde os efeitos locais das mudanças climáticas tendem a ser mais agudizantes.
As condições climático-meteorológicas extremas causam em alguns lugares a inflação ou interrompem mesmo o abastecimento. O clima extremo, como secas, inundações e temperaturas extremas, pode afetar a produção de culturas, levando a uma redução da oferta e aumento dos preços. Esse aumento nos preços dos alimentos acarretará, em última instância, a inflação geral mais alta.
Podemos identificar alguns sinais de alerta?
Existem certos parâmetros climáticos de referência para os quais devemos estar muito atentos. Alguns exemplos, em território nacional, são o índice PDSI (Palmer Drought Severity Index), o índice meteorológico de incêndio (FWI), informações disponíveis no Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), ou o índice de escassez por bacia hidrográfica, da Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
Estas evidências colocam-nos em estado de alerta quando os últimos 9 anos foram os mais quentes da história mundial e o ano de 2022 foi dos mais quentes e secos no contexto nacional, com repercussões no abastecimento das nossas barragens e na seca que caracteriza o nosso território. Aliás, muitas das produções em Portugal têm vindo a ser afetadas, ainda no início de 2023, contribuindo para a subida de alguns preços de produtos agrícolas.
Soluções de mitigação e adaptação
A capacidade de lidar com as mudanças climáticas e o seu impactes na inflação deve fazer parte das estratégias dos governos internacionais, de modo a evitar que as consequências advenham no futuro e que exista, desde já, a devida capacidade de preparação e antecipação.
Idealmente, estas soluções devem basear-se no uso da geografia para gerir os riscos e as oportunidades potenciais. Naturalmente, algumas das nossas conceções geográficas (nomeadamente, as culturas de produção) terão que ser objeto de reconsideração para diminuir os efeitos a médio e longo prazo.
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As estratégias específicas de mitigação e de adaptação podem envolver o investimento em diversas tecnologias e ferramentas de transição climática, nomeadamente assentes em construções verdes, na gestão da água e dos resíduos ou na utilização de energias renováveis. Efetivamente, a antecipação e o recurso a ferramentas para a preparação para a transição climática podem ajudar a proteger as economias da inflação.