Como estão os níveis de armazenamento de água no início do mês de agosto de 2024?
A situação das reservas hídricas continua a deteriorar-se, com especial destaque para o Sul de Portugal continental. As últimas semanas têm sido marcadas por uma diminuição significativa nos níveis de água em várias bacias hidrográficas.
Os mais recentes dados do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH) revelam particular preocupação com o sul do país, em que a seca começa a ficar ainda mais evidente, sobretudo durante as últimas semanas.
A 29 de julho, 14 das 16 bacias hidrográficas monitorizadas apresentavam uma diminuição nos níveis de água em comparação com a semana anterior, revelando um cenário um pouco diferente daquele que perdurou ao longo dos últimos meses para as reservas hídricas do país.
Níveis críticos no sul agravam situação hídrica em Portugal
Com o término do mês de julho de 2024, é possível identificar os níveis laranja e encarnado (situações mais críticas) no armazenamento das bacias a sul do país.
As bacias do Barlavento, Mira, Sotavento e Arade, em particular, têm sofrido mais os efeitos da seca com os níveis de água abaixo da média, bem como dos 40% de armazenamento, com algumas barragens a operarem abaixo dos níveis considerados seguros. Em particular, a bacia do Barlavento encontra-se a operar com 19,1% de armazenamento de água, o que se revela uma situação mais preocupante.
Além disso, é de salientar que uma boa parte das bacias monitorizadas também apresentam volumes de armazenamento superiores à média para o período entre 1990 e 2024. Refira-se, a propósito, que o Cávado com 82,7%, o Douro (86,9%), o Vouga (86,5%), o Mondego (85,3%), o Guadiana (83,6%), o Oeste (81,8%) e o Alentejo (81,3%) apresentam superavit para o mês de julho muito pouco comum.
Contas feitas e estamos numa situação em que o balanço aponta para uma redução de 1,6% na última semana (entre 22 e 29 de julho), cifrando-se num volume total de 10 179 hm3. Esta situação é o resultado de uma tendência de agravamento que se verifica desde abril. Desde então, as reservas hídricas nas barragens têm vindo a diminuir de forma consistente, com uma redução global de 12% no volume de água armazenada entre abril e julho.
A combinação de fatores como a baixa precipitação, as temperaturas elevadas e o aumento da procura por água para diversos fins, designadamente no setor turístico (hotelaria e alojamentos), intensificou a seca, especialmente nas regiões do Algarve e do Alentejo.
Verão pode obrigar a reflexão dos intervenientes políticos sobre gestão da água
As consequências da seca são diversas, merecendo particular interesse para o estabelecimento de medidas políticas por parte dos intervenientes governativos nacionais. Note-se que, por exemplo, a agricultura é um dos setores mais afetados, com a redução da disponibilidade de água para rega a impactar diretamente a produção agrícola e a causar perdas significativas para os agricultores.
A diminuição dos níveis de água nas barragens também está a comprometer a produção de energia hidroelétrica, o que pode levar a um aumento dos custos de produção de energia e a uma maior dependência de outras fontes. Em algumas regiões, o abastecimento de água à população pode estar comprometido, podendo exigir a implementação de medidas de restrição em breve.
As perspetivas para os próximos meses são incertas, dependendo da evolução das condições climático-meteorológicas. Não podemos esquecer que o alívio das restrições impostas ao consumo de água no Algarve foi aprovado em junho pelo Conselho de Ministros, esperando-se uma reavaliação no final de agosto.
Resta-nos aguardar pelo rescaldo e usar com prudência a água nas nossas atividades e, principalmente, durante este período que é de férias para muitos portugueses.